segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ÉTICA: quantidade ou qualidade?


O que é "ética"? Qual o seu sentido básico?
Consultado algum manual ou dicionário, você verá que o conceito de ética refere-se necessariamente ao conceito de "valores".
Diferentemente da moralidade ou da legalidade de uma dada sociedade ou comportamento, num determinado tempo ou local, a ética refere-se ao Eterno, a uma noção de "princípios" ou "valores".
Assim, por definição, o que pode ser considerado "legal" ou "aceitável" pela maioria dos elementos que compõem uma sociedade pode ser "anti-ético", sem qualquer contradição.
Por exemplo: houve um tempo em que manter escravos era um comportamento aceitável e legal, tornado inclusive possível por documentos de compra e venda.
Houve um tempo em que a "moralidade" das sociedades aceitava como "natural" que negros ou mulheres não usufruíssem dos mesmo direitos e prerrogativas de um homem branco.
Em certas sociedades, ainda hoje, cortar o clitóris das mulheres é considerado como um ato normal, não sendo em absoluto punido pelas leis vigentes.
Todas estas situações mencionadas acima nos enchem de TERROR sendo incompreensível para a maioria de nós __ pelo menos os saudáveis mentalmente __ que tais comportamentos sejam ou tenham sido admissíveis.
A "moralidade (e a legalidade é consequência do que a MAIORIA das pessoas de uma determinada sociedade acha ou permite naquele instante) é portanto uma questão relativa, temporária, decidida pela MAIORIA. Leva em consideração a QUANTIDADE: ou seja, se algo é aceitável pela maioria, então este algo é considerado aceitável e legal.
A ÉTICA, diferentemente disto, é uma questão de valores: do que é o Bem ou o que é o Mal. Do que é "correto" e do que não o é. Seus critérios são QUALITATIVOS e não tem nenhuma relação com a legalidade ou a moralidade.
Esta distinção é a BASE da DEMOLIÇÃO do conceito de "tradição" como justificativa para manter qualquer comportamento antiético.
Todos nós sabemos disso: sabemos que NÃO é correto MATAR,NÃO é correto mutilar meninas, NÃO é correto torturar, NÃO é correto manter seres humanos escravizados, independentemente do que sejam os costumes ou "tradições".
A sociedade humana pouco a pouco evolui para compreender (embora não ainda para praticar) esta distinção. As leis, muito demoradamente, explicitam com atraso o que uma sociedade finalmente compreendeu em sua maioria.

ENTRETANTO, do PONTO de VISTA que AQUI nos INTERESSA, ainda somos uma sociedade de bárbaros, no que se refere aos direitos dos animais, nossos companheiros não-humanos nesta jornada breve na vida terrestre.
Como MAIORIA ainda não compreendemos seus direitos, ainda não temos leis que disto derivem assegurando seus direitos naturais à VIDA e à DIGNIDADE.
Tal como antes fazíamos com os negros e os escravos, deles nos servimos irreverentemente. Tal como aqueles que cortam os genitais das mulheres, os cortamos e dele dispomos ao nosso bel prazer.
Os animais ainda são considerados pela MAIORIA da sociedade como "seres secundários", que considera "natural" usá-los para se alimentar, em procedimentos e "pesquisas", transformá-los em vestuário, ou coisinhas com as quais se "divertir" e depois jogar fora. Ou manter confinados em gaiolas, ou jogá-los à sua própria sorte nas ruas das cidades, onde não terão a menor chance de sobreviver com dignidade, já que os destituímos de sua naturalidade e de seu habitat.
Argumentar que: "se menos deles sofrem" (como é o caso agora no Reino Unido, onde a discussão é se serão 4 ou 1 única fábrica de beagles para serem vivisseccionados, já que os edifícios irão atrapalhar o trânsito do município) é uma AFRONTA à ética. O mesmo se aplica ao argumento de que, pelo menos, "então sofram menos" ....
Os critérios de valorização da vida não são quantitativos, nem passam por qualquer outra discussão senão a discussão do que é a VIDA, onde ela começa e onde ela se encerra, se há consciência ou não.
Se há pulsão de vida, desejo e sofrimento, ou não.
NENHUMA religião, NENHUMA legislação, SABE NADA sobre isso.
Por mais que eu tente sinceramente compreender este tipo de argumento, não consigo considerá-lo a sério. Talvez apenas "romanticamente", sentimentalmente, quando penso na triste escolha que Sophia foi obrigada a fazer por um NAZISTA assumido.
Podemos até entender emocionalmente que ela tenha decidido escolher salvar a vida de um de seus filhos, mas SABEMOS que ela não deveria ter sido obrigada a isso, com a força de um julgamento ÉTICO, de intensidade absoluta e que parte de nosso eu interior numa explosão de claridade e limpeza de julgamento.
A VERDADE não se relaciona em nada com "circunstâncias" pessoais ou sociais.
Ou uma sociedade MUDA e se TRANSFORMA, pela força da compreensão dos seus cidadãos, ou tudo permanece o mesmo, dependendo apenas de quem decide o que por maioria de votos ou opinião.
Prevalece a FORÇA __ quem está mais equipado numericamente para decidir __ e não a ética e a compaixão.
Saudações abolicionistas a todos,
Norah

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