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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Controvérsia: "métodos alternativos" versus "métodos substitutivos"



Controvérsia: "métodos alternativos" versus "métodos substitutivos" 
Norah

Qual o sentido por trás da escolha destes nomes?

Talvez, lendo alguns dos textos que temos postado aqui  no blog ou na página do Cadeia, vocês tenham se deparado com esta questão.

Hoje o nome considerado mais adequado, do ponto de vista da BOA ciência, é o nome de "métodos substitutivos". Apesar de estarmos acostumados a usar o nome "alternativos", esta é mais uma esparrela em que todos um dia inadvertidamente caímos, eu inclusive.
Aliás, estou tentando me educar para usar a expressão correta ainda.

Porquê?

Quando se fala em "alternativo", a mensagem que é transmitida é que são uma alternativa apenas, o que confere indireta e falsamente AINDA algum valor às hoje sabidamente FALACIOSAS pesquisas em animais, cujos resultados, além do CRIME envolvido nos "procedimentos" a que são submetidos os animais, NÃO SÃO CONFIÁVEIS, quando transpostos para a fisiologia humana.

Por isto, hoje, prefere-se o termo "SUBSTITUTIVO".
A palavra "substituição" implica necessariamente no conceito de uma mudança radical de parâmetros e a ABOLIÇÃO de metodologias falsas. Hoje a boa e moderna ciência já tem métodos que SUBSTITUEM com vantagem científica e com ÉTICA a experimentação em animais.

Não se trata de uma discussão semântica, sem qualquer consequência. Trata-se uma mudança de paradigma, sustentada por ambas as partes envolvidas na questão: ativistas dos direitos dos animais e os verdadeiros cientistas de hoje, que nos alertam insistentemente para a fundamental importância da utilização de métodos confiáveis do ponto de vista científico.

Um dos piores e mais torpes "argumentos" que os vivisseccionistas empregam é atribuir aos ATIVISTAS dos direitos animais a responsabilidade de dizer que métodos deveriam eles próprios usar. Isto só revela IGNORÃNCIA, falta de criatividade e falta de qualificação acadêmica real por parte de tais "pesquisadores". Além da evidente falta de ética, impermeabilidade e desejo de insistir na produção de vítimas e protocolos de pesquisa de segunda categoria, que NADA trazem em termos de REAIS benefícios para o avanço da Medicina e da área da medicina aplicada à saúde humana.

Não cabe a NÓS escolher uma metodologia adequada: isto deveria, POR DEFINIÇÃO, ser o trabalho de CIENTISTAS, pelo menos daqueles que merecem este nome e título, informados da moderna literatura e do que áreas afins do conhecimento humano hoje tem a oferecer: informática (modelos computacionais), cultura de tecidos humanos in vitro, genética, pesquisa de células tronco, uso de simuladores, etc.

Infelizmente para nós o sobretudo para os animais aqui no Brasil, ainda estamos a anos-luz da produção de um saber científico desta ordem, com raríssimas exceções.

Está na hora de a sociedade brasileira ACORDAR para a FRAUDE do ensino no Brasil e suas pesquisas autorizadas pelo CONCEA.


Informe-se mais sobre esta questão, consultando o material relacionado abaixo:

 - diversos artigos postados em nosso próprio blog, desde o início de fevereiro de 2012: http://contatoanimal.blogspot.com/
 - diversos artigos de Sergio Greif postados também no Olhar Animal: http://www.olharanimal.net/sergio-greif
 - NÃO MATARÁS: documentário do Instituto Nina Rosa
http://institutoninarosa.org.br/loja/naomataras -
Sinopse: Quando você toma um remédio, sabe como ele foi criado? Quando você passa batom, sabe realmente o que está colocando em seus lábios? Lanolina, queratina, ácidos graxos... de onde vêm as substâncias que deixam seus cabelos macios e sua roupa ainda mais branca? A cada dia, o consumidor tem produtos novos à sua disposição nas prateleiras do supermercado. O apelo ao consumo é cada vez maior e os lançamentos sempre vendem uma nova fórmula mágica. Mas o que acontece para que esses produtos tenham seu consumo permitido? Por trás dos rótulos atraentes e das promessas de efeito miraculosos está o sofrimento de milhões de animais que serviram como cobaias dos testes. Os resultados - cada dia mais contestados - são extrapolados para humanos, e sua eficácia está sendo cada vez mais questionada. Eles são seguros? Até quando casos como o da talidomida continuarão a acontecer? Os testes que põe em risco a sua saúde e ceifam a vida de milhões de animais são justificáveis? Este é o tema principal do documentário "Não Matarás - os animais e os homens nos bastidores da ciência", um olhar abrangente sobre o sistema que mata mais do que salva. O uso de animais no ensino, o medo dos estudantes em expressar sua rejeição a esses métodos cruéis, a continuidade de um pensamento acadêmico já ultrapassado. Filósofos, cientistas e ativistas revelam o que é mantido em segredo. Disponível no Youtube.
- 1Rnet - Promove a substituição do uso de animais no ensino superior. - http://www.1rnet.org/
- Frente Brasileira pela Abolição da Vivissecção - http://www.fbav.org.br/ Organização sem fins lucrativos que tem por objetivo promover a abolição total da experimentação animal
- para acesso a uma extensa bibliografia em português, consulte a postagem feita no Olhar Animal: http://www.olharanimal.net/referencias/1100-referencias-contrarias-a-experimentacao
- Livro de Sergio Greif (esgotado)
- Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação - pela ciência responsável reprodução livre e acesso para o download disponível neste link do INR. http://institutoninarosa.org.br/loja/alternativas
 - consulte o site do PCRM (Physicians Committee for Responsible Medicne): http://www.pcrm.org/

domingo, 19 de fevereiro de 2012

VIDEO - VIVISSECÇÃO: a Psicopatia da Pseudo Ciência


Quando você diz a palavra "vivissecção", muitas pessoas ainda não sabem o que ela significa.

A luta pelo fim da vivissecção e da experimentação animal ainda não inclui grande parte da sociedade brasileira, a única capaz de pressionar pelo FIM destas práticas pseudo-científicas, vendidas para população desinformada como um "mal necessário".

Quando NÂO são.

E mais: claramente hoje se sabe que estas "técnicas" representam um atraso para o desenvolvimento de fármacos que possam trazer reais benefícios para a saúde humana.

TODOS saem PERDENDO: humanos e não-humanos, apenas para benefício econômico das grandes corporações e de pesquisadores e faculdades de terceira linha, os únicos beneficiados por tamanha impostura e chacina.

Este video é uma tentativa de explicar esta realidade em termos simples, ao alcance da compreensão de todos, mesmo daqueles que nunca tomaram conhecimento do que isto representa e do nível de tortura e impostura científica que isto envolve.

Intencionalmente não foram postadas imagens de teor muito impactante, pois este é um entre os muitos motivos pelos quais grande parte das pessoas prefere não tomar conhecimento desta terrível realidade.

Entretanto, ao "se proteger", estas pessoas acabam por condenar milhares de animais à morte, não saindo em sua defesa. Assim decidimos por colocar um tipo de "neblina" sobre as imagens, enquanto o tema é explicado de forma bastante simples com aúdio em português.

Trata-se de um esforço anterior aos eventos do dia 28 de abril de 2012, data da II Manifestação Nacional Anti Vivissecção e Experimentação Animal, promovida este ano pelo Cadeia em parceria com a Weeac.

Seu objetivo explicitamente é convocar a sociedade brasileira, a partir das informações que ele traz. Por favor, compartilhem o video e as informações que ele encerra.

Apenas a sociedade unida e informada tem o poder de modificar este cenário de exploração milionário e de pseudo pesquisas e mortes, em todo o país.

Obrigada.

Norah


  

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A questão da utilização científica de animais e a formação dos comitês de ética - Sergio Greif

"

Mais uma questão para conhecermos e considerarmos com relação ao assunto experimentação animal e vivissecção no Brasil: como é o real funcionamento dos "Comitês de Ética" no país, hoje "o maior trunfo da vivissecção e [que] precisam ser combatidos como prejudiciais para a causa dos direitos dos animais".
Abordagens bem estaristas estarão sempre na contra mão da Ética, já que supõe ter o poder de decisão sobre quem e como este alguém não-humano pode morrer
Como pode uma raposa tomar conta do galinheiro?
E mais: sabendo qual será o destino das galinhas: seu estômago e a MORTE.
Com a permissão do autor, compartilho mais um artigo de Sergio Greif.
Norah




A questão da utilização científica de animais e a formação dos comitês de ética 
por Sergio Greif

 A experimentação animal tem sido debatida em todo mundo. Biólogos, médicos e outros cientistas têm se levantado para se pronunciar a seu favor ou contra ela. Seus prós e contras tem sido apresentados, às vezes por uma abordagem científica, às vezes por uma abordagem ética. Auto-denominados "comitês de ética" tem sido criados com o objetivo de prontamente resolver a questão, conciliando todas as partes e tornando a experimentação aceitável pelo ponto de vista ético. Mas de que forma o cidadão comum, alheio às atividades acadêmicas, pode tomar parte nessa discussão?* Tem ele o direito de opinar, não tendo suficientes conhecimentos de biologia, fisiologia, bioquímica e disciplinas afins?

O debate sobre a experimentação animal, ao contrário do que defendem muitos cientistas vivisseccionistas, não deve ficar restrito aos círculos acadêmicos. Este é um problema que envolve toda a sociedade e é justo que toda a sociedade participe de sua discussão.* O salário do cientista provém dos impostos pagos pela população, que também paga pelos laboratórios e materiais utilizados em todos os procedimentos. É natural que a população tenha o direito de opinar sobre qualquer coisa que se passe em uma universidade. É importante que a população tenha consciência de todo o processo e de tudo o que existe por traz do discurso cientificista que pretende delegar o debate a poucos iniciados. É importante, acima de tudo, que a população se posicione, não apenas porque não concorda com o que se faz com os animais em nome da ciência, mas também porque não concorda com essa forma de ciência reducionista, que não apenas transforma seres vivos em coisas, mas também equipara sistemas diferentes como se fossem sistemas semelhantes, permitindo a extrapolação de dados obtidos de um sistema para todos os demais. *


 Não é à toa que em hospitais públicos os médicos tratem seus pacientes como números e que seus nomes sejam substituídos pelos nomes das doenças que lhes são diagnosticadas. O modelo de ciência que criamos induz que as coisas sejam assim. O ensino médico, tal qual estruturado, induz o estudante a acreditar que os seres vivos são 'coisas' e não é difícil entender porque que os médicos continuam tratando seus pacientes como coisas depois de formados. O cão nº 10 dos tempos de faculdade, no qual foi inoculado determinado vírus, torna-se o paciente nº 10 do hospital, que aparece no pronto-socorro com determinada virose.

 Este é apenas um pequeno exemplo do que representa o viés, o efeito negativo da utilização de animais para o ensino e para a pesquisa. Mas nem de perto esse é o maior problema relacionado à experimentação animal. Ainda na esfera da discussão científica, a experimentação pretende ser uma segurança que em verdade não é. Constitui-se em um risco querer garantir à população a segurança de produtos apenas porque os mesmos foram testados em sistemas tão diferentes de seu organismo. A utilização de experimentos em animais jamais foi validada seguindo critérios científicos, os mesmos critérios exigidos para validar os métodos substitutivos. Tendemos a considerar os animais miniaturas de nós mesmos, mas esta é uma consideração empírica e não encontra eco na ciência. Não é por mera conjectura matemática, "regrinha de três", que conseguiremos transformar dados obtidos em ratos em dados aplicáveis a seres humanos. Em algum momento nessa cadeia de testes seres humanos terão de ser utilizados como cobaia, e é nesse momento que os dados serão, de fato, considerados válidos.

 Embora a luta abolicionista tenha seus fundamentos na ética, ou seja, no direito dos animais em não serem explorados, a abolição da vivissecção deverá contar com uma argumentação mais embasada na ciência*. É que sabemos que, num primeiro momento, o debate ético freqüentemente cairá na dicotomia "se eu posso comer frango, porque não posso testar em ratos?" ou "você preferia que usassem crianças em vez de cães?" É claro que essas perguntas merecem respostas tão simplórias quanto elas próprias. Seres humanos não deveriam poder comer frango, não devemos justificar um erro apontando para outro erro. E não, não estamos sugerindo que se use crianças ao invés de ratos, estamos sugerindo que se utilizem modelos corretos ao invés de modelos errados.

 Uma discussão apenas pelo ponto de vista ético, se não estiver profundamente enraizado na teoria de direitos dos animais, poderá ainda derivar para distorções do tipo o conceito de que os 'animais de laboratório' recebem tratamento ético, visto que os procedimentos realizados com eles obedecem às leis de bem-estar animal e são devidamente aprovados por comitês de ética. Caberia aqui um questionamento sobre que leis são essas e no que se constituem os comitês de ética.



 O Brasil possui leis bastante específicas no que se refere ao bem-estar de animais. A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), por exemplo, estabelece multas para quem abusar, maltratar, ferir ou mutilar animais (silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos) e é bastante específica em seu parágrafo único ao afirmar que "Incorre nas mesmas multas, quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos." Ou seja, essa lei, em uma leitura superficial, torna o uso prejudicial de animais na ciência e no ensino crime em todo o território nacional. Mas em verdade ela não o faz, porque condiciona a proibição à existência de recursos que até existem, mas não são conhecidos ou validados. Nenhum decreto estabelece quais recursos alternativos estão disponíveis e quais experimentos já não podem ser realizados. Cabe à boa vontade do cientista buscar alternativas e mesmo recusá-las se elas forem apresentadas por terceiros, porque ele pode simplesmente alegar que a alternativa não substitui a experiência que pretende conduzir. Ninguém melhor do que o cientista conhece os objetivos de seu experimento.

 Também a Lei nº 6.638/79, que regulamenta a vivissecção de animais, proíbe a vivissecção em animais que não foram devidamente anestesiados, ou que os procedimentos ocorram em locais não apropriados, sem a supervisão de técnicos especializados ou em presença de menores de idade, entre outras coisas, mas não representa de fato um ganho à causa animal. Se basta anestesiar o animal para tornar o procedimento ético, quem poderá se opor à experimentação? E como comprovar que o animal de fato foi anestesiado se tudo é feito a portas fechadas? Deve-se confiar na palavra do cientista? E é mesmo relevante que nos contentemos em saber que os animais simplesmente estão sentindo menos dor, quando o problema central não é este? E a pergunta mais importante, talvez: se não há nada de errado com a experimentação animal, porque que ela não pode ser realizada na presença de menores de idade?

 As leis no Brasil se dividem entre as 'que pegam' e as 'que não pegam'. As leis que pretendem impor comportamentos que de fato não condizem com o comportamento adotado pela população tendem a 'não pegar', por isso a idéia de que as campanhas para conscientização da população deveriam merecer mais atenção do que simplesmente a promulgação de leis. Leis apenas 'pegam' quando condizem com a vontade da maioria, ou de boa parcela da população.

 No que diz respeito aos auto-proclamados "comitês de ética na experimentação animal", cabe iniciar dizendo que eles não servem aos princípios a que se propõem. Seu próprio nome não faz sentido, porque inspira-se nos "comitês de ética para experimentação em seres humanos', onde os seres humanos utilizados são sempre voluntários saudáveis ou pacientes reais, devidamente informados sobre os possíveis riscos do tratamento a que serão submetidos. No caso dos animais, eles jamais são voluntários e certamente não são informados sobre os riscos. Simplesmente sua utilização ocorre à revelia de sua vontade e apenas por aí sabemos que não há ética em sua utilização. Poderia-se falar em ética na experimentação de seres humanos prisioneiros de campos de concentração? *

 Mas muitos 'protetores de animais' bem intencionados e sinceros em suas convicções acabam aceitando fazer parte desses 'comitês de ética' acreditando que poderão auxiliar os animais. Fazer parte não significa adquirir algum poder, mas sim compactuar. Suponhamos um "comitê de ética" típico, composto por 7 pessoas, entre membros da instituição, pessoas da área de biológicas, exatas, humanas, leigos da sociedade civil e um membro da 'proteção animal'. Ainda que esse membro ligado á proteção animal seja firme em seu propósito de impedir determinado procedimento, ele será apenas 1 entre 7 pessoas. Voto vencido. Isso se ele mesmo não acabar cedendo à argumentação, convencido da necessidade da experimentação em animais.

Os 'comitês de ética' trazem um agravante para os propósitos da causa animal: Quando determinado procedimento é questionado pela sociedade (ou por um grupo em particular) o aval do comitê de ética é freqüentemente utilizado a favor da pesquisa, contra os animais. Os cientistas têm, com o aval em mãos, uma ferramenta para argumentar que naquela instituição os procedimentos são rigorosamente fiscalizados e aprovados, inclusive por membros das sociedades protetoras de animais. "Quem melhor do que um protetor de animais para saber o que é bom para os animais?"

 Esse argumento, que atribui autoridade sobre a vida alheia a certos membros de nossa sociedade, é simplesmente inaceitável.* Apenas ser sensível ao sofrimento alheio não nos torna aptos a avaliar a medida desse sofrimento. Não nos torna capazes de avaliar os pros e contras e decidir sobre o que aceitável e o que não é. Podemos fazer isso com nossas próprias vidas (talvez), mas não podemos estabelecer quanto de dor é suportável por um cão, ou quantos ratos podem ser mortos para obtermos determinada droga. Isso nada tem a ver com ética. O prejudicado e o possível beneficiado não são o mesmo sujeito, de que forma 'colocar isso na balança'. Que metodologia é essa a que tanto se tem recorrido? Poderíamos, seguindo ela, avaliar que o sacrifício de 1.000 mendigos saudáveis valeria para descobrir a cura para o mal de milhares de pessoas que sofrem de determinada doença degenerativa?

 E quem é o protetor de animais que está nesse comitê e que pode decidir pela vida de tantos animais? Quem o investiu do poder divino para decidir pelo que é melhor para a vida de outros que não a sua própria, pela vida ou pela morte, quais procedimentos são inaceitáveis e quais são éticos, quais espécies podem ser usadas, qual seu número etc? Essa é a forma como acreditamos estar ajudando os animais? Não, não devemos conceber nem apoiar comitês de ética. Pelo contrário, eles são atualmente o maior trunfo da vivissecção e precisam ser combatidos como prejudiciais para a causa dos direitos dos animais.*  

Mesmo a alegação de que fazer parte de um comitê permite ao protetor saber o que se passa dentro da instituição não faz sentido. Não é fazendo parte do problema que encontramos sua solução, além disso, qualquer pessoa da sociedade tem o direito de acessar o que se passa em laboratórios de pesquisa, e isso é especialmente verdade em instituições públicas. Mesmo onde não existem comitês de ética é possível acessar os projetos submetidos às agências de fomento à pesquisa.


 Mas por que meios a vivissecção pode ser efetivamente (tirei as vírgulas) combatida?*
É comum a idéia de que a abolição da exploração animal será um movimento que partirá da base para o ápice, do povo em direção aos governantes, e não o contrário. Não serão as leis que impedirão que animais sejam explorados. Tampouco os cientistas voluntariamente abdicarão do uso de animais, se fatores sociais e econômicos não os forçarem a buscar por isso. Apenas a vontade popular poderá provocar essa mudança. Cabe àqueles que já tem esse entendimento educar as pessoas no sentido de que percebam o problema em todos os seus aspectos. O povo, uma vez consciente de que a experimentação animal não resulta apenas na exploração de animais, mas também de prejuízos à saúde humana, tenderá a direcionar essa mudança, através da opção por produtos que não foram testados em animais e pelo boicote às empresas que perpetuam a exploração de animais. No caso do uso didático de animais, o caminho é mostrar para mais e mais estudantes que as aulas que empregam animais de forma prejudicial, além de se constituírem em práticas anti-éticas, não contribuem em nada com seu nível de aprendizagem. E quanto mais estudantes recusarem-se a participar de tais aulas, mais a instituição se verá forçada a buscar por outros métodos. *





 É interessante que a pessoa que defende a abolição da vivissecção conheça algo sobre os métodos substitutivos, também chamados métodos alternativos1. Esse conhecimento é especialmente útil para responder à pergunta "se não animais, vamos utilizar o que?" Alguns dos métodos substitutivos utilizados com maior freqüência incluem os testes in vitro (em tecidos, células animais, vegetais ou microorganismos), a utilização de vegetais (quando possível), as simulações computacionais, os estudos clínicos em pacientes reais, os estudos não invasivos em voluntários, os estudos epidemiológicos, as técnicas fisico-quimicas, (espectrometria de massa, cromatografia, tomografia, etc), o estudo em cadáveres, a utilização de manequins especialmente criados para determinados procedimentos, de softwares educacionais, de filmes, de modelos matemáticos, a nanotecnologia, estudo observacional de animais, entre outras. Cada fim pretendido demanda a adoção de uma ou mais técnicas, e dentro destas técnicas há inúmeras possibilidades e variações.

 Assim, por exemplo, um determinado teste toxicológico que demandaria vários animais pode, com sucesso, ser substituído por uma bateria de testes em células de diferentes linhagens e seguindo diferentes metodologias. É claro que a escolha destes testes não é aleatória e tem relação com os objetivos pretendidos. Técnicas fisico-químicas podem ser aplicadas para identificar os diferentes componentes da droga e desta forma refinar os testes. Modelos computacionais e matemáticos, bem como placentas obtidas junto a maternidades podem auxiliar a compreender, por exemplo, de que forma a droga se distribuirá pelo organismo e como será sua absorção.

 Esse conhecimento sobre métodos substitutivos não é, porém, imprescindível nem determinante de sucesso em uma campanha. Ele apenas contribui bastante com o desenvolvimento das discussões no âmbito científico. Os ativistas não são obrigados a ter, na ponta da língua e de pronto, quais recursos substitutivos podem se aplicar a cada caso de pesquisa proposta pela academia, porque isso seria humanamente impossível. Cada pesquisador é pago para realizar sua pesquisa de acordo com as demandas da sociedade. Foi ele que estudou e se capacitou nesse sentido e é dele o interesse em obter resultados destes experimentos. O pesquisador, acima de tudo, é que tem que se familiarizar com os recursos substitutivos, e não esperar que anti-vivisseccionistas os apresentem. *

 Um único departamento de uma boa faculdade desenvolve dezenas de projetos simultaneamente. Esse departamento é apenas um entre os vários da faculdade e essa faculdade é apenas uma dentro da universidade. Portanto, a gama de experimentos que ocorrem simultaneamente dentro de uma boa universidade é enorme e multiplique-se isso pelo número de universidades para termos uma idéia de que uma única pessoa ou instituição não poderia deter o conhecimento sobre todos os possíveis experimentos que poderiam ser realizados em animais para buscar por pelo menos um método substitutivo para cada um deles. O papel do anti-vivisseccionista é simplesmente o de exigir que esses métodos sejam implementados e jamais apoiar, de forma nenhuma, pesquisa com animais.* Questionar sempre. Eventualmente, se dispuser de informações sobre recursos substitutivos essas poderão ser disponibilizadas para os cientistas, mas isto é uma contribuição e não uma obrigação que deve recair sobre o anti-vivisseccionista.

 Além disso, devido à especificidade de cada linha de pesquisa, é possível que muitos métodos alternativos ainda precisem ser produzidos. Não porque sua técnica seja muito elaborada, mas porque possivelmente ninguém ainda tenha se preocupado em desenvolvê-los, visto que a metodologia somente interessa a quem dela faça uso.

 O importante é que a graduação e especialização do cientista não devem intimidar o debatedor. É claro que o cientista melhor do que ninguém conhece sua linha de pesquisa, mas isso não desqualifica uma pessoa que queira debater a necessidade de utilização de animais. É questionável, inclusive, se a pesquisa é necessária caso o cientista seja incapaz de apresentar uma metodologia de pesquisa alternativa ao uso de animais. A sociedade não apenas pode se envolver nesse debate, ela deve, porque nele estão embutidos não apenas questões éticas, mas também questões relacionadas à saúde geral da população. *



 1 Nota do autor: "Cabe aqui discutir o emprego da palavra "alternativa". Ainda que a utilizemos com grande freqüência, devido à sua consagração, convém deixar claro que esta palavra não é a mais adequada para designar os recursos e métodos substitutivos. A palavra "alternativas" desperta certa confusão entre as pessoas, levando muitos a crerem que se trate de "alternar" métodos substitutivos com experimentos realizados em animais. Além do mais, quando aceitamos que as técnicas que propomos são "alternativas", estamos implicitamente aceitando que as técnicas que utilizam animais conduzem a bons resultados, o que não é o caso.

* meus grifos 
  (Norah)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O modelo animal - por Sergio Greif


Dando prosseguimento à postagem de uma série de artigos que contestam a ética e a necessidade da experimentação animal, além de concluir pelo ATRASO que esta prática representa para o desenvolvimento da medicina aplicada à saúde humana, vai aqui mais um pequeno artigo de autoria de Sergio Grief, biológo brasileiro



- O modelo animal - Sergio Greif 

Se um pesquisador propusesse testar um medicamento para idosos utilizando como modelo moças de vinte anos; ou testar os benefícios de determinada droga para minimizar os efeitos da menopausa utilizando como modelo homens, certamente haveria um questionamento quanto à cientificidade de sua metodologia. Isso porque assume-se que moças não sejam modelos representativos da população de idosos e que rapazes não sejam o melhor modelo para o estudo de problemas pertinentes às mulheres. Se isso é lógico, e estamos tratando de uma mesma espécie, por que motivo aceitamos como científico que se teste drogas para idosos ou para mulheres em animais que sequer pertencem à mesma espécie?

 Por que aceitar que a cura para a AIDS esteja no teste de medicamentos em animais que sequer desenvolvem essa doença? E mesmo que o fizessem, como dizer que a doença se comporta nesses animais da mesma forma que em humanos? Mesmo livros de bioterismo reconhecem que o modelo animal não é adequado.

 Dados experimentais obtidos de uma espécie não podem ser extrapolados para outras espécies. Se queremos saber de que forma determinada espécie reage a determinado estímulo, a única forma de fazê-lo é observando populações dessa espécie naturalmente recebendo esse estímulo ou induzi-lo em certa população.


Induzir o estímulo esbarra no problema da ética e da cientificidade.

Primeira pergunta: será que é certo, será que é meu direito pegar indivíduos e induzir neles estímulos que naturalmente não estavam incidindo sobre eles? Segunda pergunta: será que é científico, se o organismo receber um estímulo induzido, de maneira diferente à forma como ele naturalmente se daria, será ele modelo representativo da condição real?

 Ratos não são seres humanos em miniatura. Drogas aplicadas em ratos não nos dão indícios do que acontecerá quando seres humanos consumirem essas mesmas drogas. Há algumas semelhanças no funcionamento dos sistemas de ratos e homens, é claro, somos todos mamíferos, mas essas semelhanças são paralelos. Não se pode ignorar as diferenças, as muitas variáveis que tornam cada espécie única. Essas diferenças, por menores que pareçam, são tão significativas que por vezes produzem resultados antagônicos.

 Testes realizados em ratos não servem tampouco para avaliar os efeitos de drogas em camundongos. Isso porque apesar de aparente semelhança, ambas as espécies possuem vias metabólicas bastante diferentes. Diferenças metabólicas não são difíceis de encontrar nem mesmo dentro de uma mesma espécie, admite-se que as drogas presentes no mercado são efetivas apenas para 30-50% da população humana.

 Na prática o que acontece é que um rato pode receber uma dose de determinada substância e metabolizá-la de maneira que ela se biotransforme em um composto tóxico. A toxicidade mata o rato, mas no ser humano essa droga poderia ser inócua, quem sabe a resposta para uma doença severa. Por outro lado, o teste em ratos pode demonstrar a segurança de uma droga que no ser humano se demonstre tóxica. 



Centenas de drogas testadas e aprovadas em animais foram colocadas no mercado para uso por seres humanos e precisaram ser recolhidas poucos meses após, por haverem sido identificados efeitos adversos à população. Se as pesquisas com animais realmente pudessem prever os efeitos de drogas a seres humanos, esses eventos não teriam ocorrido. Dessa forma, pode-se inferir que a pesquisa que utiliza animais como modelo não só não beneficia seres humanos, como também potencialmente os prejudica.

O modelo de saúde que defendemos é aquele que valoriza a vida humana e animal. Os interesses da indústria farmacêutica e das instituições de pesquisa que lucram com a experimentação animal não nos dizem respeito. Buscamos por soluções reais para problemas reais.

 Os maiores progressos em saúde coletiva se deram através de sucessivas mudanças no estilo de vida das populações. Há uma forte co-relação entre nossa saúde e o estilo de vida que levamos. Se nosso estilo de vida é dessa ou daquela forma, isso reflete em nossa saúde. Está claro que as doenças sejam reflexo, em grande parte, de nosso estilo de vida e que a cura deva estar em correções nesses hábitos.

Sérgio Greif é biólogo, mestre e ativista pelos direitos animais.
Formado pela UNICAMP em 1998, é co-autor do livro “A Verdadeira Face da Experimentação Animal” e autor de “Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação”.
Entre outros assuntos, Sérgio se interessa por bioética, gestão de sistemas de saúde e métodos substitutivos ao uso de animais na ciência e ensino.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Fanny Bernard: uma voz antivivisseccionista no século XIX


Por Laerte Fernando Levai (publicado originalmente em Pensata Animal)

Nascida em 1819, em Paris, Marie-Françoise Martin - chamada afetuosamente de Fanny - era filha do médico Henri Martin e de Anna-Antonette Hezette. Ao se casar com o fisiologista Claude Bernard, em 1845 (o mesmo ano da fundação da primeira sociedade protetora de animais da França, a SPA), ela incorporou o sobrenome do marido, substituindo Martin por Bernard. Dessa união - que teria sido de conveniência,  segundo o romancista português Fernando Namora[1] - nasceram quatro filhos: Jeanne-Henriette, Marie-Louise, Louis-Henri e Claude-Henri, tendo os meninos morrido ainda pequenos. Sabe-se que Fanny gostava de animais, sobretudo cães, postura esta que lhe indispôs contra o esposo, cujos procedimentos vivisseccionistas difundiam-se pela Europa, tornando-se referenciais no meio científico. Naquele tempo, aliás, o animal mais utilizado nas práticas invasivas era o cão, proveniente dos canis públicos ou dos depósitos de animais errantes capturados nas ruas de Paris.
Os estudos de fisiologia, no afã de investigar e compreender o fenômeno da vida, tinham como pressuposto o fato de que para se conhecer o organismo era necessário invadi-lo, lesioná-lo, seccioná-lo e dissecá-lo. Galeno (129-210), em Roma - conforme ponderam Sérgio Greif e Thales Tréz - teria sido o pioneiro nas vivissecções em animais[2], mediante experiências perturbadoras em macacos e porcos, para analisar, por exemplo, os efeitos da perfuração do peito no organismo vivo, as conseqüências da secção dos nervos ligados aos músculos intercostais, o corte das artérias e o mecanismo da deglutição. Depois dele vieram Servet, Harvey, Aselli, Pecquet, Haller, dentre outros tantos, cuja técnica invasiva foi corroborada pelo método de Descartes, consubstanciado, em termos vivisseccionistas, na controvertida teoria bête-machine.
Importa lembrar que desde 1831, em Paris, o professor François Magendie - que lecionava no renomado Colégio de França - já dizia que a fisiologia necessitava de uma nova personalidade, esforçando-se para fazer da experimentação animal a metodologia padrão da medicina. Tal pensamento obtuso acenava para matança oficial de milhares de animais: cães, coelhos, porcos, rãs, macacos, cavalos, etc. E foi justamente Magendie que acolheu Claude Bernard como discípulo, incentivando-o aos estudos de fisiologia experimental. Em 1843, após a publicação de seu primeiro trabalho vivisseccionista ("Investigações Anatômicas e Fisiológicas sobre a Corda do Tímpano"), Claude Bernard obtêm doutoramento em Medicina e Ciências defendendo tese construída, igualmente, com base na experimentação animal ("O suco gástrico e o seu papel na nutrição"). Passados doze anos, ele assume a titularidade da cátedra de Medicina Experimental, para então doutrinar seus alunos pelo método cartesiano.
Fernando Namora, no elogio literário que faz a Claude Bernard, confirma que no século XIX o cão era, de fato, o modelo experimental preferido dos cientistas:
Claude Bernard tinha de realizar as suas experiências sob dificuldades, censuras e desconfianças, pois não podia esconder da repulsa dos leigos as práticas de vivissecção consideradas desumanas. Aoanalisar as propriedades do suco gástrico, recolhera-o com uma sonda adaptada ao estômago de cães vivos, cobaias prediletas da fisiologia...[3]
Torna-se evidente que Fanny Bernard toma conhecimento das experiências macabras que seu marido, em nome da "deusa-ciência", realizava nos laboratórios. Alguns desses procedimentos foram descritos pelo próprio Claude Bernard em sua obra clássica, "Introdução à Medicina Experimental", publicada em 1865. Nela o autor, seguindo à risca a cartilha cartesiana, refere-se aos animais como "corpos brutos", "máquinas" ou "matéria viva", suscetíveis, portanto, de invasão corporal. No capítulo II, Considerações Experimentais Especiais aos Seres Vivos, tópico III, Da Vivissecção, pode-se ler a seguinte afirmação:
Só podemos descobrir as leis da matéria bruta, penetrando nos corpos ou nas máquinas inertes; e, igualmente, só podemos conhecer as leis e propriedades da coisa viva, separando os organismos vivos para nos introduzirmos em seu interior (...) O princípio científico da vivissecção é fácil de apreender. Trata-se, sempre, de separar ou modificar certas partes da máquina viva, a fim de estudar e de assimcompreender o seu emprego e utilidade.[4]
Ao questionar, ainda neste capítulo, se temos ou não o direito de realizar experiências e vivissecções nos animais, o próprio Claude Bernard responde:
Penso que possuímos tal direito de forma indubitável e completa. Seria bem estranho, com efeito, que se reconhecesse que o homem pode servir-se dos animais para todas as necessidades da vida, para osserviços domésticos, para a alimentação, e que lhe proibissem servir-se deles para se instruir em uma das ciências mais úteis à humanidade. (...) Não admito que seja moral ensaiar nos doentes dos hospitais remédios mais ou menos perigosos ou ativos, sem que os tenham anteriormenteexperimentado em cães.[5]
E prosseguindo nesse raciocínio, o autor critica aqueles - como a sua própria esposa - que se opunham aos experimentos em animais:
Depois de tudo isto, seria lícito deixarmo-nos comover pelos gritos de sensibilidade que podem soltar as outras pessoas, ou por objeções feitas por homens estranhos às idéias científicas? (...) Compreendo perfeitamente que as pessoas vulgares, movidas por idéias completamente diferentes das que animam o fisiologista, encarem as vivissecções com um espírito diferente.[6]
A conclusão de Claude Bernard, na obra que passou a ser vulgarmente denominada "A Bíblia da vivissecção", é estarrecedora:
O fisiologista não é um homem do mundo, é um sábio, um homem que se encontra preso e absorvido por uma idéia científica que persegue: não ouve os gritos dos animais, não vê o sangue que se alastra. Só vê a idéia, só observa os organismos que lhe escondem problemas que quer descobrir.[7]
Pouco tempo depois da publicação desse livro, cujo capítulo I da Terceira Parte traz exemplos detalhados de procedimentos de investigação experimental fisiológica realizada em animais, o casal Bernard se separa de fato, oficializando-se o rompimento conjugal em 22 de agosto de 1870. Um ano antes Fanny saiu de casa levando consigo as duas filhas. Analisando tais fatos na obra "Deuses e Demônios da Medicina", Fernando Namora - que também foi médico - assume a defesa de Claude Bernard, atribuindo à mulher a responsabilidade pela desunião da família:
Gradualmente, Claude Bernard foi se sentindo um estranho entre os seus, passando a maioria das horas no laboratório. A mulher, tirânica, incapaz de o compreender e amar, impondo ao clã uma religião asfixiante de temores e superstições, acusava-o de ateísmo, de barbaria, pois supliciava os animais sem hesitação ou remorso...".[8]
Com o devido respeito à interpretação do ilustre escritor português, os dados históricos demonstram que Fanny Bernard foi uma mulher de princípios, que em pleno século XIX teve a coragem de renunciar ao casamento a fim de resguardar a sua dignidade e também para preservar as filhas, evitando a convivência com um homem que se distinguia à custa de imensurável dor e sofrimento impingidos aos animais. Ela, que tanto amava os cães, não suportava a idéia de vê-los torturados todos os dias, ainda que o marido, para se justificar, invocasse suas prerrogativas científicas e a alegada relevância social da função que desempenhava.
O mais interessante disso tudo é que Fanny Bernard não se limitou a afastar-se do esposo. Segundo José Roberto Goldim e Marcia Mocellin Raymundo, co-autores do artigo "Aspectos Históricos da Pesquisa com Animais", ela passou a militar em associações de defesa dos animais:
Um importante episódio para o estabelecimento de limites à utilização de animais em experimentação e ensino foi o que envolveu a esposa e a filha de Claude Bernard. O grande fisiologista utilizou, ao redor de 1860, o cachorro de estimação da sua filha para dar aula aos seus alunos. Em resposta a este ato, a sua esposa fundou a primeira associação para a defesa dos animais de laboratório.[9]
Tal associação, criada em 1883, teria sido - ao que parece - a Sociedade Francesa Antivivisseccionista, que se destinava à acolhida de animais abandonados. Tagore Trajano de Almeida Silva, estudioso do tema, observa que Marie-Françoise Martin foi uma das primeiras mulheres a criticar a forma odiosa pela qual se tratavam os animais[10]. De fato, a coragem demonstrada por ela, Fanny Bernard, longe de apenas renunciar ao seu casamento com uma das personalidades mais prestigiadas do meio científico europeu, redundou em uma atitude política capaz de reivindicar publicamente direitos aos animais, contribuindo, assim, para a difusão de um ativismo que se firmaria apenas no século seguinte, com a difusão do movimento animalista. Por ironia do destino, um dos primeiros passos neste sentido foi dado justamente pela mulher daquele que se tornou o maior vivissector da história.
Fanny Bernard morreu em 9 de janeiro de 1901, aos 82 anos. Já é tempo, um século depois, de resgatar a memória dessa mulher que, por conhecer tão de perto os horrores das práticas experimentais cometidas pelo célebre marido, tornou-se uma das vozes pioneiras na luta contra a vivissecção.
Referências bibliográficas
BERNARD, Claude. Introdução à Medicina Experimental. Trad. Maria José Marinho. Lisboa: Guimarães e Cia Editores, 1978.
GOLDIM, José Roberto; RAYMUNDO, Marcia Mocellin. Pesquisa em Saúde e os Direitos dos Animais. 2ª ed. Porto Alegre: HCPA, 1997.
GREIF, Sérgio. TRÉZ, Thales. A Verdadeira Face da Experimentação Animal: a sua saúde em perigo. Rio de Janeiro: Sociedade Educacional Fala Bicho, 2000.
NAMORA, Fernando. Deuses e Demônios da Medicina. 2º vol. 7ª ed. Portugal: Publicações Europa-América, 1989.
SILVA, Tagore Trajano de Almeida. Crítica à herança mecanicista de utilização animal: em busca de métodos alternativos. Disponível em:http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/salvador/tagore_trajano_de_almeida_silva.pdf. Acesso em 08 dez.2010.
Notas
[1] NAMORA, Fernando. Deuses e Demônios da Medicina. 7ª ed., 2º vol, Portugal: Publicações Europa-América, 1989, p. 71.
[2] GREIF, SÉRGIO. TRÉZ, Thales. A Verdadeira Face da Experimentação Animal: a sua saúde em perigo.Rio de Janeiro: Sociedade Educacional Fala Bicho, 2000, p. 20.
[3] Ibid, p. 55.
[4] BERNARD, Claude. Introdução à Medicina Experimental. Trad. Maria José Marinho. Lisboa: Guimarães e Cia. Editores, 1978, p. 125.
[5] Ibid., p. 128.
[6] Ibid, p. 129.
[7] Ibid, 129.
[8] NAMORA, Fernando, p. 72.
[9] GOLDIM, Jose Roberto; RAYMUNDO, Marcia Mocellin. Pesquisa em Saúde e os Direitos dos Animais.2 ed. Porto Alegre: HCPA, 1997.
[10] SILVA, Tagore Trajano de Almeida. Crítica à herança mecanicista de utilização animal: em busca de métodos alternativos. Disponível em:http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/salvador/tagore_trajano_de_almeida_silva.pdf. Acesso em 08 dez.2010.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Biochips e Pele Artificial: 2 Alternativas para a Experimentação Animal


Norah André

Diante do obscurantismo que os vivissectores conseguem ainda impor à sociedade, fazendo com que os incautos e desavisados ainda acreditem que seus métodos de tortura de animais se constituem no método investigativo adequado e de resultados mais eficientes, somos forçados a funcionar como uma espécie de investigadores e, ao longo do tempo, ir coletando as evidências que vazam para a sociedade, fornecendo informações vindas de outro grupo de cientistas, estes os verdadeiros pesquisadores empenhados no progresso do conhecimento.

 Que fique claro que estes senhores, se assim o fazem, ao mentir descaradamente e insistir no emprego do chamado "modelo animal de pesquisa", assim o fazem por motivos pessoais e financeiros, recusando-se a adotar métodos infinitamente mais produtivos em termos de pesquisa científica, seja pelos investimentos que seriam obrigados a fazer, seja por medo de perder seu "prestígio" junto à comunidade de vivissectores, estreitamente ligada às grande corporações farmacêuticas.

Aqui, a palavra de ordem, é LUCRO e CAUTELA diante de eventuais processos legais que temem encarar, e não a VERDADEIRA pesquisa científica e seus potenciais benefícios para a saúde humana.

Sofrem e morrem os animais. PERDEM os homens com a adoção de metodologias ultrapassadas e anti éticas, que tem retardado o avanço da medicina aplicada, tal como a moderna e boa ciência o indica com clareza inequívoca.


Existem sabidamente muitas alternativas à experimentação em animais.
O que falta é a DECISÃO de fazê-lo. E, eu acrescentaria, alguma vergonha na cara de quem pratica e lucra com a vivissecção


I  - Desenvolvimento de novos fármacos: Biochip evita testes em animais

Uma equipe de pesquisadores norte americanos desenvolveu uma tecnologia capaz de eliminar a necessidade de serem utilizados animais durante os estudos de segurança para o desenvolvimento de novos fármacos.
 E mais: o novo biochip é capaz de garantir  a obtenção de resultados mais rigorosos e fidedignos para a saúde humana.
A pseudo-ciência ainda prevalente, quando se trata de avaliar a toxicidade das substâncias em estudo, equivocadamente ainda se baseia em testes realizados em animais que, segundo afirmam __ falsamente, diga-se de passagem __, permitiriam prever se um determinado candidato a fármaco é ou não tóxico.

 Porém, como já está claramente estabelecido, estes procedimentos, além de dispendiosos e ANTI-ÉTICOS, não refletem com precisão a reação dos seres humanos às mesmas substâncias anteriormente testadas em animais.

 Muito pelo contrário. Sabe-se hoje que a fisiologia humana é diferente da de qualquer outro animal e que os resultados obtidos em estudos com animais, são extremamente imprecisos quando transferidos para humanos.

Substâncias consideradas seguras e eficientes em animais, mostraram-se perigosas ou mortais em seres humanos; outras, consideradas ineficazes quando testadas em animais, mostraram se redentoras do ponto e vista da fisiologia humana.

 Ao longo dos últimos anos, tem sido muitos os esforços para desenvolver estratégias que substituam os testes em animais, ainda mantidos hoje na indústria farmacêutica, que alega serem "necessários" durante os ensaios pré-clínicos.

Você me perguntará o porquê disso. Eu respondo: MUITO DINHEIRO envolvido nisso.

 Há poucos anos, uma investigação conjunta do Rensselaer Polytechnic Institute, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e da Solidus Bioscience, revelou resultados extremamente encorajadores no campo da pesquisa da farmacologia humana:

  "Observamos os problemas com que as empresas se deparam e percebemos que precisávamos desenvolver algo que tivesse custos reduzidos, uma taxa de aceitação elevada, que fosse facilmente automatizado e não envolvesse animais", explicou Jonathan Dordick , um dos principais responsáveis pela investigação, professor do Rensselaer Polytechnic Institute e co-fundador da Solidus Biosciences.

O Datachip engloba mais de 1.000 culturas de tecidos tridimensionais que refletem a forma como as células se organizam no organismo. O objetivo é fornecer aos pesquisadores um sistema de projeção rápido, capaz de prever o potencial de toxicidade de um candidato a fármaco em vários órgãos do corpo humano.

 "Desenvolvemos o MetaChip e o DataChip para lidar com dois dos assuntos mais importantes que precisam de ser avaliados quando se analisa a toxicidade de uma substância – o efeito nas diferentes células do nosso corpo e a forma como a toxicidade se altera quando a substância é metabolizada pelo organismo", afirmou o responsável.

 A capacidade de um indivíduo para metabolizar uma substância é determinada pela sua composição genética e pela quantidade de medicamentos metabolizados pelas enzimas,  determinando o quão tóxico pode ser um composto para eles.

 Ao modificar a proporção das enzimas no MetaChip, os cientistas conseguiram desenvolver chips personalizados que prevêem a resposta de um paciente a uma determinada substância. "Ainda estamos longe da medicina personalizada, mas o MetaChip caminha nessa direcção", salientou Dordick.


II- Pele Artificial

 Há mais de 4 anos, a USP já desenvolveu a pele sintética, ainda não usada pelas grandes corporações como alternativa à experimentação em animais.

 Não é de se estranhar que, todos estes anos mais tarde, as empresas de cosméticos continuem torturando e cegando coelhos, ao invés de adotar esta alternativa, já que seriam necessários investimentos financeiros para fazê-lo ....

A excelente notícia, um break-through potencial que impediria o prolongamento deste holocausto animal, foi dada ao público em matéria da Folha de São Paulo em 2009:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u631911.shtml

Reproduzo a publicação feita, ipsis literis, para facilitar a visualização de todos:


02/10/2009 - 08h52

USP desenvolve pele artificial para evitar testes com animais

MAURÍCIO KANNO
colaboração para a Folha Online

Um laboratório da USP desenvolveu uma pele artificial que pode substituir testes de cosméticos em animais e ajudar também em sua redução nos testes farmacológicos.
Agora, as pesquisadoras estão em fase de contatos com empresas para viabilizar o financiamento da utilização do modelo desenvolvido, apesar de ele já estar pronto há cerca de um ano.
Divulgação/USP
Modelo de pele artificial desenvolvida pela USP constitui estrutura completa tripla e deve ajudar na substituição de animais em testes
Modelo de pele artificial desenvolvida pela USP constitui estrutura completa tripla e deve ajudar na substituição de animais em testes
De acordo com a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP Silvya Stuchi, responsável pela pesquisa, já existem outros modelos de pele artificial sendo utilizados nos Estados Unidos e Europa. No entanto, há dificuldades de transporte e importação, já que é um material vivo e sensível.
Assim, quando há a demanda de não usar animais no Brasil --ou pelo menos usar menos--, o que acaba acontecendo é o envio dos princípios ativos dos cosméticos para testes no exterior. O problema é que a indústria brasileira gasta muito para fazer testes em outros países.
"Desenvolvemos uma estrutura de pele completa, com três elementos", diz Stuchi. "o melanócito, responsável pela pigmentação; o queratinócito, responsável pela proteção; e o fibroblasto, segunda camada", explica ela.
Tendência: sem animais
"A partir deste ano, na Europa, já não há testes em animais para cosméticos, é algo mandatório", afirma a professora Silvia Berlanga, corresponsável pela pesquisa na USP. "É uma tendência mundial."
Para cosméticos como filtro solar e creme antirrugas, a questão fica mais fácil de resolver com a pele artificial e por isso animais já foram totalmente substituídos no continente europeu. Porém, a questão fica mais dificil no que toca à indústria farmacêutica, diz Berlanga. "Os medicamentos podem envolver também ingestão via oral, ou mesmo endovenosa [pelo sangue]", explica ela.
Fármacos envolvem absorção pelo organismo, o que vai além da pele em si. Por isso, neste caso, o que ocorreu foi a redução do uso de animais, já que ao menos certas etapas de testes puderam ser substituídas.
Divulgação
Coelho albino, usado em testes de laboratórios no Brasil devido à pele sensível, segundo recomendação da agência sanitária Anvisa
Coelho albino, usado em testes de laboratórios no Brasil devido à pele sensível, segundo recomendação da agência sanitária Anvisa
Motivações
O representante da Interniche (International Network for Humane Education) no Brasil, o biólogo e psicólogo Luís Martini, estima que ainda mais de 115 milhões de animais sejam usados por ano no mundo em experimentos e testes.
Uma motivação para a transferência para modelos de laboratório é a própria importância científica de trabalhar com a pele da própria espécie humana, que é específica. "Assim trabalha-se com algo mais fidedigno ao que é real", explica a professora Silvya Stuchi.
Martini esclarece ainda que, devido às diferenças fisiológicas entre as espécies, há "inúmeros casos em que medicamentos que foram desenvolvidos e testados em animais tiveram que ser retirados do mercado por terem causado efeitos adversos severos quando foram utilizados por seres humanos".
Outro motivo é a "ética da experimentação" ao lidar com os animais, como diz Berlanga. "Mesmo que fique mais caro com a pele artificial, é importante reduzir o uso de animais", diz ela.
George Guimarães, presidente do grupo de defesa dos direitos animais Veddas, vai mais além. "Consideramos isso [uso de animais] inaceitável do ponto de vista moral e ético, uma vez que esses animais não escolheram ser usados para servir aos nossos interesses."
O ativista e nutricionista afirma ter levado a Brasília, na época da aprovação da lei Arouca, que regulamentou os experimentos com animais em outubro de 2008, um total de 26 mil assinaturas buscando expor sua visão. Mas diz não ter obtido espaço com os parlamentares, que só recebiam "representantes das instituições científicas".
Martini completa dizendo que "os experimentos em animais causam dor e sofrimento". Assim, "segundo o princípio da igual consideração de interesses semelhantes, deveríamos respeitá-los nos seus direitos básicos que são o direito à vida, à integridade física e à liberdade."
Desenvolvimento
A matéria-prima utilizada para criar a pele é na verdade de doadores humanos mesmo, que fazem cirurgias plásticas --no caso do laboratório da USP, são utilizadas doações do Hospital Universitário. Assim, as células são cultivadas em placa de petri e são formados os tecidos, incluindo a derme e epiderme.
O objetivo original do desenvolvimento da pele, no entanto, que começou há 15 anos, foi para o estudo do melanoma, um tipo grave de câncer de pele.
De lá para cá, a professora Stuchi cita dois marcos importantes. O primeiro foi a parceria com os pesquisadores do Instituto Ludwig de Pesquisa Sobre o Câncer, estabelecido no Hospital do Câncer em São Paulo, com quem aprendeu muito o isolamento das células, a partir de 2005.
O segundo marco foi com uma primeira bolsa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) entre 2007 e 2008, sua temporada como pesquisadora visitante na Universidade de Michigan, EUA. Lá adquiriu diversos tipos de tecidos de pele humana e pôde fazer testes com eles no Brasil, obtendo realmente o conhecimento sobre como fazer a estrutura da pele.
Em 2009, o projeto de pesquisa na USP obteve nova verba da Fapesp, por meio do qual, aprimoramentos no modelo de pele estão sendo realizados.
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Fica a pergunta: em que ponto ficou deixada esta pesquisa potencialmente revolucionária?

Porque ninguém teria se disposto a financiar, aprimorar e aplicar este novo modelo de testes, aqui denominado de "modelo de pele"?
A resposta agora você já tem, com certeza: Falta DECISÃO e VONTADE de FAZER.
Falta ÉTICA, pura e simplesmente.
 Namaste

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

“A pesquisa científica com animais é uma falácia”, Ray Greek, MD


Reproduzo abaixo a entrevista dada à Revista Veja, em 2010, pelo médico americano Ray Greek.

Resumidamente e de forma brilhante, ele atesta que a pesquisa com animais atrasa o avanço do desenvolvimento de remédios e fármacos adequados para o consumo humano.

Embora não se diga comprometido com a causa dos direitos dos animais, o que só confere VALOR científico aos seus pontos de vista, ele é claro ao informar que estes métodos, além de não serem necessários, atrasam o desenvolvimento da pesquisa orientada para a saúde humana.

 “A pesquisa científica com animais é uma falácia”, diz o médico Ray Greek "

"As drogas deveriam ser testadas em computadores, depois em tecido humano e daí sim, em seres humanos. Empresas farmacêuticas já admitiram que essa será a forma de testar remédios no futuro."

 Há 20 anos, Ray Greek abandonou o consultório para convencer a comunidade científica de que a pesquisa com animais para fins médicos não faz sentido. Greek é autor de seis livros, nos quais, sem recorrer a argumentos éticos ou morais, tenta explicar cientificamente como a sua posição se sustenta. Em 2003 escreveu Specious Science: Why Experiments on Animals Harm Humans (Ciência das Espécies: Por que Experimentos com Animais Prejudicam os Humanos, ainda não publicado no Brasil) e o mais recente em 2009: FAQs About the Use of Animals in Science: A Handbook for the Scientifically Perplexed (Perguntas e Respostas Sobre o Uso de Animais na Ciência: Um Manual Para os Cientificamente Perplexos). Ele garante que sua motivação não é salvar os animais, mas analisar dados científicos.

Além disso, Greek uniu esforços com outros médicos americanos e fundou a Americans for Medical Advancement, uma organização sem fins lucrativos que advoga métodos alternativos ao modelo animal. Em entrevista para VEJA, ele diz porque, na opinião dele, a pesquisa com animais para o desenvolvimento de remédios não é necessária.

- O senhor seria cobaia de uma pesquisa que está desenvolvendo algum remédio? 
- Claro. Se a pesquisa estivesse sendo conduzida eticamente eu seria voluntário. Milhares de pessoas fazem isso todos os dias. Por vezes elas doam tecido para que possamos aprender mais sobre uma doença, em outros momentos ingerem novos remédios para o tratamento de doenças na esperança que a nova droga apresente alguma cura.

 - E se o medicamento nunca tivesse sido testado em animais? 
A falácia nesse caso é de que devemos testar essas drogas primeiro em animais antes de testá-las em humanos. Testar em animais não nos dá informações sobre o que irá acontecer em humanos. Assim, você pode testar uma droga em um macaco, por exemplo, e talvez ele não sofra nenhum efeito colateral. Depois disso, o remédio é dado a seres humanos que podem morrer por causa dessa droga. Em alguns casos, macacos tomam um remédio que resultam em efeitos colaterais horríveis, mas são inofensivos em seres humanos. O meu argumento é que não interessa o que determinado remédio faz em camundongos, cães ou macacos, ele pode causar reações completamente diferentes em humanos. Então, os teste em animais não possuem valor preditivo. E se eles não têm valor preditivo, cientificamente falando, não faz sentido realizá-los.

- Mas todos os remédios comercializados legalmente foram testados em animais antes de seres humanos. Este não é um caminho seguro? 
Definitivamente não. As estatísticas sobre o assunto são diretas. Inclusive, muitos cientistas que experimentam com animais admitiram que eles não têm nenhum valor preditivo para humanos. Outros disseram que o valor preditivo é igual a uma disputa de cara ou coroa. A ciência médica exige um valor que seja de pelo menos 90%.

- Esses remédios legalmente comercializados e que dependeram de pesquisas científicas com animais já salvaram milhões de vidas…
A indústria farmacêutica já divulgou que os remédios normalmente funcionam em 50% da população. É uma média. Algumas drogas funcionam em 10% da população, outras 80%. Mas isso tem a ver com a diferença entre os seres humanos. Então, nesse momento, não temos milhares de remédios que funcionam em todas as pessoas e são seguros. Na verdade, você tem remédios que não funcionam para algumas pessoas e ao mesmo tempo não são seguros para outras. A grande maioria dos remédios que existe no mercado são cópias de drogas que já existem, por isso já sabemos os efeitos sem precisar testar em animais. Outras drogas que foram descobertas na natureza e já são usadas por muitos anos foram testadas em animais apenas como um adendo. Além disso, muitos remédios que temos hoje foram testados em animais, falharam nos testes, mas as empresas decidiram comercializar assim mesmo e o remédio foi um sucesso. Então, a noção de que os remédios funcionam por causa de testes com animais é uma falácia.

- Se isso fosse verdade os cientistas já teriam abandonado o modelo animal. Por que isso não aconteceu ainda? 
Porque o trabalho deles depende disso. Nos Estados Unidos, a maior parte da pesquisa médica é financiada pelo Instituto Nacional de Saúde [NIH, em inglês]. O orçamento do NIH gira em torno de 30 bilhões de dólares por ano. Mais ou menos a metade disso é entregue a pesquisadores que realizam experimentos com animais. Eles têm centenas de comitês e cada comitê decide para onde vai o dinheiro. Nos últimos 40 anos, 50% desse dinheiro vai, anualmente, para pesquisa com animais. Isso acontece porque as próprias pessoas que decidem para onde o dinheiro vai, os cientistas que formam esses comitês, realizam pesquisas com animais. O que temos é um sistema muito corrupto que está preocupado em garantir o dinheiro de pesquisadores versus um sistema que está preocupado em encontrar curas para doenças e novos remédios.

- Onde estaria a medicina se não fosse a pesquisa com animais?
No mesmo lugar em que ela está hoje. A maioria das drogas é descoberta utilizando computadores ou por meio da natureza. As drogas não são descobertas utilizando animais. Elas são testadas em animais depois que são descobertas. Essas drogas deveriam ser testadas em computadores, depois em tecido humano e daí sim, em seres humanos. Empresas farmacêuticas já admitiram que essa será a forma de testar remédios no futuro. Algumas empresas já admitiram inúmeras vezes em literatura científica que os animais não são preditivos para humanos. E essas empresas já perderam muito dinheiro porque cancelaram o desenvolvimento de remédios por causa de efeitos adversos em animais e que não necessariamente ocorreriam em seres humanos. Foram bilhões de dólares perdidos ao não desenvolver drogas que poderiam ter dado certo.



- Como as pesquisas deveriam ser conduzidas? 
Deveríamos estar fazendo pesquisa baseada em humanos. E com isso eu quero dizer pesquisas baseadas em tecidos e genes humanos. É daí que os grandes avanços da medicina estão vindo. Por exemplo, o Projeto Genoma, que foi concluído há 10 anos, possibilitou que muitos pesquisadores descobrissem o que genes específicos no corpo humano fazem. E agora, existem cerca de 10 drogas que não são receitadas antes que se saiba o perfil genético do paciente. É assim que a medicina deveria ser praticada. Nesse momento, tratamos todos os seres humanos como se fossem idênticos, mas eles não são. Uma droga que poderia me matar pode te ajudar. Desse modo, as diferenças não são grandes apenas entre espécies, mas também entre os humanos. Então, a única maneira de termos um suprimento seguro e eficiente de remédios é testar as drogas e desenvolvê-las baseados na composição genética de indivíduos humanos. Para se ter uma ideia, a modelagem animal corresponde a apenas 1% de todos os testes e métodos que existem. Ou seja, ela é um pedaço insignificante do todo. O estudo dos genes humanos é uma alternativa. Quando fazemos isso, estamos olhando para grandes populações de pessoas. Por exemplo, você analisa 10.000 pessoas e 100 delas sofreram de ataque cardíaco. A partir daí analisamos as diferenças entre os genes dos dois grupos e é assim que você descobre quais genes estão ligados às doenças do coração. E isso está sendo feito, porém, não o bastante. Há também a pesquisa in vitro com tecido humano. Virtualmente tudo que sabemos sobre HIV aprendemos estudando tecido de pessoas que tiveram a doença e por meio de autópsias de pacientes. A modelagem computacional de doenças e drogas é outra saída. Se quisermos saber quais efeitos uma droga terá, podemos desenvolvê-la no computador e simular a interação com a célula.

- Mas ainda não temos informações suficientes para simular o corpo humano no computador… 
Temos sim. Não temos informações suficientes para criar 100% do corpo humano e isso não vai acontecer nos próximos 100 anos. Mas não precisamos de toda essa informação. O que precisamos é saber como e do que um receptor celular é constituído — isso já sabemos — e a partir daí podemos desenvolver, no computador, remédios baseados nas leis da química que se encaixem nesses receptores. Depois disso, a droga é testada em tecido humano e depois em seres humanos. Antes disso acontecer, contudo, muitos testes são feitos in vitro e em tecidos humanos até chegar em um voluntário humano.

- Um computador não é um sistema vivo completo. Como é possível garantir que essa droga, que nunca foi testada em animais, não será nociva aos seres humanos? 
A falácia nesse argumento é que os macacos e camundongos, por exemplo, são seres vivos, mas não são seres humanos intactos. E esse argumento seria muito bom, se ele não fosse tão ruim. Drogas são testadas em macacos e camundongos intactos por quase 100 anos e não há valor preditivo no sentido de dizer quais serão os efeitos da droga no ser humano. O que essas pesquisas têm feito, na verdade, é verificar o que essas drogas causam em macacos e em seres humanos separadamente e não há relação. Por isso, o que dizem é meramente retórico, não há nenhuma base científica.



- O senhor já fez experimentos com animais. O que o fez mudar de ideia?
 Meu posicionamento mudou apenas uma década depois que terminei a faculdade de medicina. Minha esposa é veterinária e comecei a notar como tratávamos nossos pacientes de maneira muito diferente. Comecei a notar também que alguns remédios funcionam muito bem em animais, mas não funcionam em humanos e algumas drogas funcionam em humanos, mas não podem ser usadas em cães, mas podem ser usadas em gatos e assim por diante. Não estou dizendo que os animais e os humanos são exatamente opostos, não é isso. Eles têm muito em comum.

- A semelhança genética de 90% entre humanos e camundongos não é suficiente? 
 Aparentemente não. Porque os dados científicos dizem que não. Não me interessa se somos suficientemente semelhantes aos animais para fazer testes neles ou não. A minha interpretação é científica. E a ciência diz que não somos. Na minha experiência clínica isso é verdade porque não conseguimos prever nem quais serão os efeitos de um remédio no seu irmão, realizando testes em você. Algumas drogas que você pode tomar, seu irmão não pode, por exemplo. Contudo, eu não sou contra todo tipo de experimento com animais. É possível recorrer aos animais para utilização de algumas partes. Por exemplo, podemos utilizar a válvula cardíaca de um porco para substituir a de seres humanos. Além disso, é possível cultivar vírus, insulina, mas isso não é pesquisa. O fracasso está em utilizar modelos animais para prever o que irá acontecer com um ser humano. Um ótimo exemplo disso é a Aids. Os animais não desenvolvem essa doença, de jeito nenhum. Eles sofrem de doenças parecidas com a Aids, mas por causa de vírus completamente diferentes. E os sintomas são muito diferentes dos manifestados em pacientes aidéticos. Por isso, não há correlação.

- O senhor é contra o eventual sacrifício de animais em pesquisas científicas com o objetivo de salvar milhões de vidas humanas? 
Eu não tenho nenhum problema com isso. Meu problema com pesquisa animal não é de cunho ético e sim, científico. É como dizer que estamos em um cruzeiro atravessando o oceano Atlântico e um indivíduo cai na água e está se afogando. Ele precisa é de um salva-vidas mas não temos nenhum, então vamos arremessar 1.000 cães na água. Por que arremessar os cães na água já que eles não vão salvar a vida da pessoa? Você pode construir um argumento ético dizendo que é aceitável afogar esses cães mas o que eu quero dizer é que a pessoa precisa de um salva-vidas e não 1.000 cães afogados. E é exatamente isso que estamos fazendo com a pesquisa animal. Estamos matando cães pelo bem de matar cães. Não porque matá-los irá trazer a cura para doenças como a Aids ou o Alzheimer.

 Fonte: ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais.
http://www.anda.jor.br/2010/10/16/%E2%80%9Ca-pesquisa-cientifica-com-animais-e-uma-falacia%E2%80%9D-diz-o-medico-ray-greek/


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Namaste