sexta-feira, 30 de março de 2012

Eventos públicos relacionados à II Manifestação Nacional Anti Vivissecção


Estamos realizando uma série de eventos públicos, paralelos e relacionados à II Manifestação Nacional ANTI Vivissecção, que ocorrerão em outras datas, mas estão sendo promovidos pelos organizadores locais, como parte do esforço de conscientização da sociedade brasileira.

Todas as atividades tem entrada franca e estão abertas ao público em geral.

É especialmente relevante que os estudantes universitários se informem, além de conhecer seu direito à Objeção de Consciência, assegurado constitucionalmente a qualquer cidadão brasileiro:

http://www.1rnet.org/objetando.htm

 - No dia 31 de março, em BELÉM (Pará), às 16 hs, por iniciativa dos Vegetarianos em Movimento e do Daniel Freire, haverá uma exibição seguida de debate do documentário "Não Matarás" do INR:


















- No dia 25 de abril, às 13 hs, no RIO DE JANEIRO capital, estaremos realizando um flash mob, anti vivissecção no Largo da Carioca, às 13 hs, de forma a coincidir com o horário de almoço dos que trabalham no centro do Rio. COMPAREÇA! Vista um jaleco branco preferencialmente, ou uma camisa preta e traga o seu CARTAZ improvisado! Ficaremos EM SILÊNCIO, exibindo as imagens e distribuindo folhetos informativos. Os animais torturados pela falsa ciência agradecem pela sua cooperação!



- No dia 26 de abril, em GOIÂNIA (GO), às 17:30 hs, haverá também uma exibição seguida de debate do documentário "Não Matarás" do INR.
Convidem os alunos da Universidade Federal de Goiás!
Iniciativa da Patricia Magalhães e demais coordenadores do nosso Evento em Goiânia, como parte da II Manifestação Nacional Anti vivissecção.


















- No dia 27 de abril,em BRASÍLIA (DF), véspera da manifestação, haverá concentração às 9:00 da manhã em frente ao Ministério da Ciência e Tecnologia, onde se encontra o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal - CONCEA.
Levaremos faixas e por lá permaneceremos por cerca de 1 hora em protesto. A presença de todos é muito importante!

Outras atividades irão sendo relacionadas, em ordem cronológica de realização, à medida que forem sendo confirmadas.
Agradecemos desde já pela ajuda na divulgação também destes eventos paralelos.

Os locais e horários dos eventos da II Manifestação ANTI Vivissecção propriamente ditos podem ser encontrados em:
Contato Animal - eventos


Observação importante: Em função da recém deliberada criação de um BIOTÉRIO na Universidade Federal de Pernambuco __ o evento de RECIFE da II Manifestação Nacional ANTI Vivissecção será no dia 27 de abril, excepcionalmente! Numa 6a feira, dia em que a faculdade está aberta e em aulas!
Motivo: será realizado na frente da universidade, que estaria fechada e SEM os alunos no sábado.
A decisão foi tomada em conjunto com os organizadores do evento, o MDA-PE e a Goretti Queiroz.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Eunucos versus ativismo pelos direitos animais



Quando o "menos" na verdade é "mais"
Norah

A maioria de nós sabe o que quer dizer "eunuco".

Um sujeito de quem se rouba a virilidade e a energia, por ser considerado uma "ameaça", arrancando-lhe o que tipifica a sua masculinidade.

Na História, muitos foram os casos em que homens tiveram seus testículos arrancados por orquidectomia, para que sua convivência com mulheres nas cortes fosse considerada "segura".
Independentemente de tais barbaridades, sexualmente orientadas, há diversos sentidos simbólicos possíveis de tornar algo ou alguém um "eunuco", na tentativa de domesticá-lo ou fazer calar a ENERGIA de um ideal.

A todas as grandes CAUSAS foi dado "tratamento" semelhante.
Uma das estratégias mais recorrentes de silenciá-los e fazê-las perder o seu vigor é o estabelecimento de "alianças" que só lhe retiram a ALMA e a CHAMA.
Pessoas com ideais distintos __ como certamente é o caso do abolicionismo e do bem estarismo __ deveriam estar precavidas. Ao discursar sobre a "união", muitos são levados a crer que "devagarzinho", obtendo "apoios" e estabelecendo "coligações" (à moda do que os políticos fazem tão bem), estando presentes na mídia, obtendo apoios externos sem antes se verificar as reais intenções de alguém, estamos fazendo "progressos" e progredindo em direção à Libertação Animal e ao estabelecimento de uma ampla plataforma de ativismo em benefício do reconhecimento dos direitos animais.

ENGANO.
Se eu, abolicionsta, me convenio e me associo a falas mansas e castradas, que na verdade escondem interesses humanos na exploração animal, estou caindo no famoso "conto do vigário", aplicado aos ingênuos que continuam vendo o mundo com base em sua boa fé e confiança irrestrita na "bondade" do meu semelhante.
"Devargazinho" não se chega a lugar algum.
Ou portamos a CHAMA da Libertação Animal, ou não.
Ou formamos um grupo coeso, com intenções idênticas, ou estamos abrigando o inimigo que nos enfraquecerá.
Com toda certeza, este discurso não é "popular", já que com ele costumamos fazer mais inimigos do que amigos. Muitas pessoas com DE FATO excelentes intenções, recolheram-se por ter contatado que este tipo de associação traz muita dore de cabeça. Não é diferente o que disse Sergio Greif em seu último artigo postado em nosso blog.
Entretanto, firmemente acredito que SÓ este caminho nos conduzirá até o que pretendemos ver realizado. E terremos a grande vantagem de não precisar ficar olhando eternamente olhando para trás, verificando os passos de nossos supostos "aliados".
Toda e qualquer institucionalização ou ajuntamento de organizações traz o risco da DESVIRILIZAÇÃO e do encampamento de interesses "estranhos" à causa abolicionista, bem como de qualquer causa legítima.

Neste exato momento estamos OUVINDO o SILÊNCIO de uma ong nacional em relação aos destinos dos jegues do nordeste brasileiro.
Estamos igualmente ouvindo a OMISSÃO de políticos que supostamente deveriam trabalhar por seu "bem-estar".
Não à tôa desconfiamos de qualquer um que se apresente como "político", mesmo correndo o risco de estarmos enganados, CASO se prove o contrário.
Neste caso, como na maioria das situações em nossas vidas adultas, desconfiar é uma NECESSIDADE e uma OBRIGAÇÃO de qualquer um que DE FATO tenha decidido erguer a bandeira dos direitos DOS ANIMAIS.

Prefiro ser acusada de excesso de zelo do que de de cumplicidade com o enfraquecimento da CAUSA.
Há momentos em que o "menos" com certeza é "mais", do ponto de vista da CHAMA que se pretende manter acesa.

"Seja manso como um cordeiro e esperto como uma serpente", já dizia o Mestre.

terça-feira, 20 de março de 2012

Crítica à vivissecção: a disparidade entre a moral (mores) científica e ética - Sonia T. Felipe

Texto da palestra de 2007 de Sônia T. Felipe, aqui reproduzido, primeiro postado em Pensata Animal

Mais um texto de Sonia T. Felipe reproduzido em nosso blog para leitura e consulta de todos, bem como compartilhamento.
Numa crítica contundente à então recém aprovada Lei Arouca, Sonia rebate o argumento dos adversários dos direitos dos animais de que a visão abolicionsita não estaria fundamentada em "argumentos científicos", com argumentações éticas incontornáveis.
Destaque-se, por exemplo: "Imaginemos que, para abolir a escravidão humana, houvesse sido exigida uma "prova científica" de que os "negros" mereciam igual consideração e direitos."

 RESUMO: Neste artigo, respondo à acusação da cientista que afirmou não estar fundada em argumentos "científicos" a proposta abolicionista de erradicação de todos os experimentos feitos em animais vivos, e apresento os argumentos éticos para esclarecer por que a pesquisa em animais vivos não pode ser justificada eticamente, a não ser seguindo o modelo antropocêntrico da moralidade, justamente o que nos leva a destruir a vida alheia em nome de uma promessa da boa vida para humanos.


Ciência 

 Por conta da aprovação da Lei Arouca, na semana passada, representantes da comunidade "científica" acusaram os abolicionistas de não serem "científicos" em sua defesa do fim do uso de animais para testes da indústria química, bélica, farmacêutica, de cosméticos e alimentos (todas vinculadas aos interesses da primeira).

A defesa da erradicação das pesquisas em animais vivos de quaisquer espécies, para os vivisseccionistas, só teria valor se fosse uma defesa "científica". Em não se tratando de uma tese "científica", a proposta abolicionista não teria valor algum. Ao fazer tal afirmação, a cientista omite de seus leitores ou ouvintes fatos marcantes da história de sua área de atividade, a ciência.

Com a pretensão de buscar o conhecimento de forma objetiva, a ciência dedicou-se nas últimas décadas à investigação de drogas para "cura" das doenças humanas. Por serem "cientistas", os vivissectores excluíram de sua investigação todos os métodos que não usam animais. Por terem a certeza de que o método vivisseccionista é o "único" método que leva a ciência à descoberta da cura das doenças humanas, esses mesmos cientistas passaram as últimas sete décadas a interrogar as entranhas dos organismos de animais de outras espécies, pondo-lhes "questões objetivas" (leia-se, "científicas") que, assim acham os cientistas, os organismos animais, que possuem anatomia, fisiologia, metabolismo, e bagagem genética diversa da humana, têm obrigação de responder para livrar os humanos de doenças que eles próprios não investigam, mas dizem à comunidade, ansiosa pelos resultados de suas descobertas, querer curar.

Pois bem. Esta ciência que agora acusa os abolicionistas de não serem "científicos" em sua luta pela libertação dos animais, é tão "científica" em seus estudos usando ratos, camundongos, cães, gatos, primatas, que passou mais de 70 anos produzindo "verdades científicas" descartáveis, seguindo ora os interesses da indústria tabagista, ora os interesses das seguradoras privadas de saúde. A ciência produzida com cobaias vivas de outras espécies é tão "rigorosa" e "objetiva", em seus métodos de investigação, que por mais de meio século levou os leitores dos papers científicos a lerem, ora um artigo que "provava" cientificamente que o uso de tabaco produz câncer, ora que o uso de tabaco não produz câncer. Uma objetividade sem par! (Ver, Allan M. Brandt, The Cigarette Century: The Rise, Fall, and Deadly Persistence of the Product that Defined America, New York: Basic Books, 2007, 600 p.)

A objetividade metodológica da vivissecção é tão irreprochável que admite resultados "científicos" contraditórios, não apenas no exemplo da pesquisa financiada pela indústria tabagista e pelas companhias de seguro de saúde. Enfim, segundo a cientista que acusa os abolicionistas de não serem científicos em sua defesa dos animais, quando a ciência usa um animal vivo para testar qualquer produto químico, ela chega à conclusão objetiva que procura. É verdade. O cientista monta seu protocolo de pesquisa tão "objetivamente" que o resultado de sua investigação já pode ser publicado antes do experimento ser levado a efeito. A ciência é tão objetiva que "conduz" a investigação de modo a que ela resulte exatamente no que o protocolo de pesquisa promete trazer à luz. Portanto, se a pesquisa é paga (direta ou indiretamente) pela indústria tabagista, o protocolo do cientista afirma que o cigarro não produz câncer. Todavia, se o projeto recebeu financiamento da indústria de seguro-saúde privado, o protocolo de pesquisa formula a hipótese a ser comprovada de que o fumo produz câncer. Bingo! Para os dois protocolos. E, pobres dos cientistas que devem produzir a confirmação "objetiva" de suas hipóteses contraditórias! Se não têm animais vivos para levar a efeito seu protocolo de pesquisa, os resultados a que chegam "não podem" ser classificados de científicos! Podemos concluir então que quem garante ao cientista vivisseccionista a objetividade dos resultados que ele almeja são os ratos e camundongos que ele extermina em seus experimentos. Raciocínio para encaminhar sua pesquisa usando conhecimentos da física, da química, e de outras áreas que formam juntas o cabedal do conhecimento necessário para explicar a doença de um humano, isso eles não podem aprender a fazer. A questão é que esses mesmos ratos e camundongos que dão garantia de objetividade à pesquisa vivisseccionista são usados tanto para "provar cientificamente" que o fumo dá câncer, quanto para "provar cientificamente" que o fumo não dá câncer. O que é isto, então, fazer ciência?

Para a cientista que acusa os abolicionistas de não serem "científicos" ao defenderem o fim do uso de animais vivos em experimentos da indústria química em quaisquer de suas ramificações, a ciência é um conhecimento tão refinado, tão sofisticado, tão mais elevado do que a ética, não? Pois é: o cientista só põe questões a serem respondidas pelas entranhas de ratos e camundongos, por serem essas o "único" recurso do qual dispõe a inteligência humana para a obtenção do conhecimento que se deseja sobre a etiologia e terapêutica das doenças. O cidadão que não "sabe" como fazer pesquisa científica dispõe do seu raciocínio, da capacidade moral de antecipar historicamente a derrocada dos modelos "científicos" mais arraigados, e da memória de todos os erros que se cometeu ao longo da história quando se quis fundamentar decisões de ordem moral em "conhecimentos científicos", descartáveis. A noção ética de malefício e benefício não é descartável, não tem idade. Pode-se dar voltas e voltas, mas sempre se acaba dando meia-volta e reconhecendo que não dá para escapar dela.

É preciso lembrar a esta senhora cientista que se hoje ela ocupa o lugar que ocupa na comunidade científica, isso se deveu à luta de filósofos (John Stuart Mill na Inglaterra, por exemplo) que, de modo "não científico" defenderam a abolição do uso e abuso praticado contra os interesses das mulheres num tempo em que elas eram consideradas incapazes de raciocínio, de inteligência, de ciência, de política, de administração dos próprios negócios, de responder civilmente por seus atos... isso faz menos de dois séculos. No Brasil as mulheres só puderam votar na década de 30 do século XX, portanto somente há 80 anos. Também a erradicação da escravização dos africanos se deveu a um argumento absolutamente "não-científico", o da igual consideração da dor e sofrimento para qualquer ser dotado de sensibilidade e consciência. 

Imaginemos que, para abolir a escravidão humana, houvesse sido exigida uma "prova científica" de que os "negros" mereciam igual consideração e direitos. À época, os cientistas que estudavam a "natureza" dos negros chegavam a escrever coisas tais quais esta, em suas enciclopédias "científicas" de psiquiatria: os negros sofrem de uma patologia que os leva à síndrome de fuga. Não podem ser deixados sem vigilância ou correntes, pois têm genes que os levam a fugir impulsivamente do lugar onde se encontram! Mas a ciência não produz disparates apenas em relação aos negros, não. Tem mais uma: as mulheres não podem dedicar-se aos estudos e seguir uma vida de "cientistas", ou de "filósofas", porque sua circulação sangüínea se altera, tornando-as estéreis! Isso era cientificamente comprovado, por seus pares "científicos", colega! (Ver, Tom Regan, Defending Animal Rights, Urbana and Chicago: University of Illinois Press, 2001).

Assim, a levar-se em consideração que uma luta ética de abolição de todas as práticas cruéis e tormentosas de escravização de seres capazes de sentir dor e de sofrer tem que ser precedida por uma "comprovação científica" dos argumentos, a colega cientista estaria condenada ainda a parir bebês e ter suas contas pagas pelo marido. E, caso fosse rica, teria amas de leite afrodescendentes para cuidar de nutrir seu bebê! Tudo em nome de conclusões científicas objetivas!

Mas, o que traduz a "objetividade" da vivissecção? É o fato de ela pôr uma questão às entranhas de ratos e camundongos, e tirar daí sua resposta mais sábia? Mas, se são "igualmente sabedores", os cientistas que concluem, ao investigar entranhas de ratos, camundongos, cães, gatos, símios e aves, que cigarro não dá câncer, e os que concluem que dá, como pode a colega cientista acusar os defensores dos animais de não serem "científicos" em seus argumentos? Presumo que a colega esteja a entender por "científico" um método que traz resultados objetivos seguros e irretocáveis, que possam ser confiáveis para que os humanos tomem outras decisões relevantes baseando-se neles, por exemplo, erradicar toda propaganda de cigarro na TV, ou parar de fumar. É para isso que a sociedade paga salários aos cientistas, para que produzam conhecimentos que permitam às pessoas e aos governos tomarem medidas de precaução para não serem afetados por doenças evitáveis. Ou não é bem essa a história a ser desvelada? (Ver, Sônia T. Felipe, Vivissecção, um negócio indispensável aos "interesses" da ciência?, Pensata Animal, Tribuna, 2007).2

Bem, se a ciência deve produzir um conhecimento objetivo e digno de ser usado pelas pessoas para orientar suas próprias decisões em relação à sua própria saúde e à saúde de sua família, como é que emprega métodos tão "cientificamente objetivos" que levam a resultados disparatados, tanto quanto o são os testes feitos em animais para "provar" que cigarro não produz câncer, e, que produz? E os filósofos defensores dos animais é que não são "científicos"? Talvez eles tenham horror à contradição, ao embotamento da inteligência humana e até mesmo a falácias na produção do conhecimento.

A cientista ainda acusa os abolicionistas de estarem propondo que os testes ora feitos em animais vivos de outras espécies sejam feitos em humanos vivos! Só uma pessoa desinformada dos argumentos abolicionistas pode afirmar tal coisa. Exatamente por considerarem os métodos atuais vivisseccionistas indignos da moralidade humana, até mesmo da moralidade de um "positivista", é que os abolicionistas lutam pela erradicação desses métodos na busca do conhecimento necessário para a preservação da saúde humana e a prevenção de males evitáveis. Bem, esse projeto não passa pelo uso de animais vivos, nem não-humanos, nem humanos.

O que os abolicionistas propõem é que sejam substituídos os métodos tradicionais vivisseccionistas por métodos de investigação não vivisseccionistas. Por isso não defendemos "alternativas", exatamente para não deixar margem para a "escolha subjetiva" do método. Os novos métodos devem substituir o usado até hoje.

É claro que para fazer ciência "limpa" (sem dor, sofrimento e sangramento alheios) os métodos apropriados ainda precisam ser inventados e aprimorados. Alguns, por exemplo, os estudos clínicos e epidemiológicos, já existem, mas não recebem financiamentos em larga escala, pelo menos não em escala tão larga quanto recebem os vivisseccionistas. Outros métodos, por exemplo, simulações complexas em computador, já são empregues no estudo de algumas interações bioquímico-físicas, mas precisam ser aprimorados para estudo de outras, o que já está sendo feito no caso de biochips (o biochip da síndrome de Golgi, por exemplo, que permite estudos do diabetes e coagulação, inventado por um jovem numa universidade norte-americana). Isso é pouco? Obviamente! Se todo dinheiro do planeta está escoando pelo ralo dos laboratórios vivisseccionistas, como se pode esperar que sem dinheiro os jovens cientistas possam construir modelos substitutivos às entranhas de ratos e camundongos? Mas é só uma questão de financiamento. Em duas décadas as simulações por computador, os biochips, as pesquisas com células-tronco-próprias, os modelos matemáticos, a física quântica, e os estudos transdisciplinares aposentarão a massa de cientistas que hoje insiste em manter ao mais alto custo para os animais, a saúde humana e a eticidade científica um único modelo de investigação, o que emprega seres vivos em testes de todo tipo para fabricação de drogas de toda ordem que combatem sintomas mas não produzem a saúde do organismo humano.

Ainda uma palavra sobre experimentos macabros levados a efeito em animais vivos, humanos e não-humanos. É tempo de cultivar a inteligência da juventude, e de livrar as universidades de todas as práticas que recendem a crueldade contra seres sencientes, tenham esses o formato que tiverem, sejam eles capazes ou não de raciocinar em termos lógicos típicos da inteligência humana. É uma incoerência argumentar que a incapacidade lógica dos animais é a razão pela qual os usamos em experimentos tormentosos. Mesmo a comunidade científica tem membros incapazes de agirem de modo lógico, ainda que saibam seguir um raciocínio instrumental. Nem por isso se defende que sejam usados nesses experimentos cruéis. O que importa é a capacidade de sofrer, não a de raciocinar!

Além do mais, é preciso não mentir quando se fala de vivissecção. Os cientistas afirmam na mídia que a lei aprovada para regulamentar a vivissecção os obriga a aplicarem analgesia ou anestesia nos animais. Isso não é verdade para os experimentos mais dolorosos, justamente os inflamatórios, neurológicos e psicológicos. Se o animal for analgesiado o resultado do experimento não conduzirá ao fim almejado. Se é preciso produzir a inflamação para estudo de anti-inflamatório, como se pode afirmar para o público que o animal receberá analgesia, se nela há substâncias anti-inflamatórias? Afirmar tais coisas é mais do que errar por falácias!

Quanto à acusação de que os defensores dos animais não adotam argumentos científicos para embasar sua argumentação, gostaria de dizer que isso não é uma ofensa, é o reconhecimento lúcido de que a perspectiva da defesa dos animais não sofre os revezes das "grandes verdades científicas", que tanto podem ser afirmadas quanto negadas, dependendo do bicho que foi empregue na investigação, e da fonte que financiou a pesquisa. Sempre foi verdadeiro que maltratar animais é ato de imoralidade humana. Ao longo da história tal argumento ético foi sufocado, mas jamais deposto. Continua a ser verdade que maltratar animais, seja para pseudo-benefício humano, ou simplesmente para obter divertimento é algo que não pode ser justificado eticamente. O argumento abolicionista não é "científico", é ético. Explico a seguir o que quero dizer com isso.1


O argumento conservador em favor da vivissecção 

O filósofo norte-americano Carl Cohen, representando a comunidade científica responsável pela investigação em animais vivos, reconhece que o uso de animais para alimentação, lazer, testes cosméticos e moda deve ser questionado, mas não o uso de animais vivos em experimentos biomédicos. Cohen lista uma série de descobertas feitas com experimentos em modelo animal vivo, que ajudaram a minimizar dores e doenças humanas. Esta é a linha de argumentação em defesa da continuidade dos experimentos em animais vivos: os benefícios que tais experimentos representam para o bem-estar humano.

Cohen indica estes benefícios, e, em nome deles, ignora absolutamente o malefício que tais experimentos produzem ao bem-estar e à vida de animais das mais diferentes espécies, usados vivos, sem analgesia e anestesia nos experimentos mais macabros, que vão desde congelamento a queimaduras, isolamento físico e psíquico, a, tormentos causados por drogas ou produtos químicos que lhes são injetados, inalados, ingeridos, e assim por diante (Ver o documentário Earthlings, e Não Matarás!, Instituto Nina Rosa, São Paulo, 2006).

A defesa do uso de animais vivos em experimentos dolorosos ou atormentadores elaborada por Cohen não se constitui sobre um argumento ético. Ela tem natureza estritamente econômica, o que não quer dizer somente vantagens monetárias para quem faz uso de animal vivo para desenvolver a ciência.

Exigências formais e substancial de um princípio genuinamente ético:

1. Universalizabilidade (qualquer sujeito capaz de raciocínio esclarecido deve poder reconhecer que tal princípio é válido, obrigando-se com esse reconhecimento a obedecê-lo);

2. Generalidade (o princípio deve servir para orientar decisões em casos que não são da mesma natureza);

3. Imparcialidade (o princípio deve ser seguido pelo sujeito moral agente em todos os casos, ainda que seus interesses possam ser prejudicados em certos casos); e, uma exigência substancial:

 4. Orientar decisões e ações humanas com vistas a beneficiar os afetados por elas.

Tomemos o caso dos experimentos em animais vivos para verificar de que modo tal prática poderia ser considerada ética, considerando-se as exigências formais e a exigência substancial acima apontadas.

O princípio ético substancial e fundamental para julgar as ações humanas leva em conta, exatamente, que tais ações podem ser responsáveis pelo benefício ou pelo malefício daqueles que serão afetados por elas. Não importa, neste caso, a natureza biológica daqueles que serão afetados pela atividade que está sendo julgada. O que importa, da perspectiva ética, é se tal atividade beneficia ou prejudica os seres afetados por ela. No caso de experimentos em animais, vimos no primeiro parágrafo que a justificativa de tais procedimentos sempre é o presumido benefício que a atividade de investigação em modelo animal vivo traz para os seres humanos.

O argumento tradicional que defende tal prática investigadora não leva em consideração todos os seres afetados por esta metodologia, apenas os interesses presumidos dos seres humanos, em nome dos quais se justifica a prática dolorosa e atormentadora levada a efeito nesses animais. Pode-se concluir, então, que o uso de animais vivos em experimentos que lhes causam dor, sofrimento e morte, em nome do benefício que tais experimentos trazem para a saúde humana fere a quarta exigência que a filosofia faz a qualquer princípio moral que tenha a pretensão de validade: a de que deve orientar as decisões humanas para o benefício daqueles que são afetados por ela. No caso dos animais usados em experimentos de laboratório esta exigência é absolutamente ignorada, pois não se tem conhecimento de um experimento doloroso e letal que sirva para atender ou beneficiar o animal usado vivo nele. A ciência está sedimentada sobre uma perspectiva ética antropocêntrico-hierárquica, razão pela qual os interesses mais genuínos dos animais não contam, ainda que confrontados com os mais triviais interesses humanos, por exemplo, adquirir um batom com novo aroma ou coloração. Isso basta para cegar coelhos nos testes dos elementos que entrarão na nova coloração e aroma.

 Mas, seria tal procedimento ético, pelo menos no que diz respeito à terceira exigência formal de um princípio ético, qual seja, a da imparcialidade na tomada de decisão quando esta pode afetar interesses moralmente relevantes de outros seres? Também neste caso, o uso de animais vivos em experimentos não pode ser justificável do ponto de vista ético, pois viola o princípio da imparcialidade.

Quando se trata de seres sencientes, isto é, capazes de sofrer dor, tormento psíquico e qualquer outro desconforto, mal-estar, prejuízo ou morte por conta de ações empreendidas por sujeitos morais agentes, julgamos antiéticas tais ações pelo fato de que elas só deveriam ser empreendidas com pleno consentimento dos afetados por elas. Por isso, para fazer experimentos em animais-humanos vivos é preciso que eles concordem com o experimento e, para que concordem com ele, é preciso que recebam esclarecimento sobre os riscos inerentes a ele.

No caso de animais da espécie Homo sapiens, não se pode realizar qualquer experimento naqueles que não podem dar consentimento esclarecido: bebês, crianças, adolescentes, dementes, comatosos, pobres, adictos, marginalizados de qualquer natureza.

O princípio da imparcialidade, terceira exigência formal de um princípio ético, não admite o uso de seres sencientes humanos em experimentos que lhes possam causam dor, sofrimento ou privação que resultem em dano e morte. Se um experimento tem que ser realizado, o pesquisador tem que encontrar um paciente que atenda à exigência do consentimento esclarecido, isto quer dizer, que seja capaz de pensar com clareza e tenha sua vontade livre de toda e qualquer forma de dominação, que pode ser material ou mental.

Sem liberdade de escolha não pode haver pesquisa de seja lá qual for o problema que afeta humanos. Quando se faz pesquisa em animal vivo esta exigência é ignorada absolutamente. É claro, poderíamos replicar: "animais não podem manifestar-se nem dar consentimento, nem ser esclarecidos sobre os riscos inerentes a este ou aquele experimento!". Justamente. Por não serem capazes de nada disso, estão no mesmo patamar dos bebês humanos, das crianças e adolescentes, dos senis, dos dementes, dos miseráveis, dos adictos que não podem raciocinar com clareza sobre os assuntos que lhes dizem respeito. Sua vontade não é livre, pois sua condição os torna dependentes das decisões tomadas por seus cuidadores. Ainda aqui poder-se-ia achar a saída para justificar o uso deles, exatamente por serem dependentes das decisões que outros têm de tomar em seu nome. Mas, neste ponto, a quarta exigência que constitui a natureza de um princípio ético é o limite imposto aos que cuidam desses humanos incapazes: suas decisões devem estar orientadas para proteger e preservar o bem-estar próprio daquele que se encontra na condição de vulnerabilidade.

Onde está a imparcialidade dos sujeitos morais agentes que usam animais vivos em experimentos que destroem o bem-estar próprio do animal e acabam com sua vida? No caso humano, a imparcialidade ordena que não se faça a eles o que não se admitiria que fizessem contra nós. Mas, assim que passamos a barreira da espécie biológica e nos encontramos diante de um animal não-humano, especialmente quando sua configuração não se assemelha à da espécie Homo sapiens, abandonamos imediatamente a exigência de imparcialidade e o dever que ela impõe, de proteger e preservar o bem-estar dos seres em situação de vulnerabilidade aos interesses humanos.

A segunda exigência formal de um princípio ético é a de que seja capaz de iluminar juízos e decisões morais em casos distintos. Tomemos, pois, o princípio moral mais conhecido, o da não-maleficência. Este é um princípio muito antigo, conhecido nos textos judaicos, no humanismo grego, e nas concepções éticas budista e jainista. Baseada no princípio da não-maleficência, qualquer decisão, ação ou atividade de um sujeito moral agente deve ser guiada pela finalidade de não causar mal a qualquer ser senciente, e promover seu bem-estar, abstendo-se de ações que possam privar outros seres das condições de estar bem em vida a seu próprio modo, isto quer dizer, de acordo com o bem-estar de sua espécie de vida.

Quando animais vivos sencientes são usados em experimentos científicos aquela exigência é ignorada. Poderíamos aqui pensar que a ética bem-estarista, a que defende condições de maior conforto para os animais usados em laboratório seria a saída para tornar éticas essas pesquisas. Isto é uma ilusão. O princípio da não-maleficência e sua contraface, o da beneficência, não ordenam que se dê aos animais sencientes o tipo de conforto necessário e suficiente para que o experimento seja bem sucedido. Ele ordena que em quaisquer casos, o bem-estar próprio daquele indivíduo seja protegido e preservado. Tal exigência torna anti-ético qualquer experimento em animais vivos, pois o bem-estar próprio do animal usado nesses experimentos já foi danificado pelo fato mesmo de o animal ser privado das condições ambientais nas quais seu psiquismo e sua fisiologia poderiam encontrar o equilíbrio homeostático típico de sua espécie. Assim, também em relação à segunda exigência formal de um princípio ético, experimentos em animais vivos sencientes não podem ser considerados éticos.

 A primeira exigência, a da universalidade do princípio, obriga todos os sujeitos morais agentes, quer dizer, todos os seres humanos capazes de raciocinarem sobre os desdobramentos de suas ações e os malefícios que elas podem representar para os interesses de outros seres sencientes que forem afetados por elas, a tomarem decisões e empreenderem ações apenas nos limites do princípio ético, se quiserem que suas ações sejam aprovadas da perspectiva moral.

 Via de regra, no caso de experimentos científicos em animais vivos, o cientista não está minimamente interessado em saber se o que ele faz tem ou não aprovação ética, bastando que seu protocolo de pesquisa tenha aprovação de seus pares e dos órgãos que o financiam. De ética, este conjunto de crenças não tem nada. São crenças fomentadas pelo cientista para assegurar financiamento de seus projetos. Se o protocolo de pesquisa for aprovado, isto quer dizer, se ele receber financiamento, basta. Considerações éticas tornam-se dispensáveis. Menos nos casos em que procedimentos experimentais possam levantar suspeitas relativamente ao prejuízo, para o experimento, de submeter os animais vivos sencientes a procedimentos que acabem por atrapalhar o resultado da pesquisa.

 Pode-se ver que o princípio da universalizabilidade, que deveria levar os cientistas a realizarem investigações dentro dos limites do princípio da não-maleficência, é completamente ignorado no caso de experimentos em animais vivos. A única preocupação do cientista é a de não perder o financiamento de seu projeto. Os órgãos financiadores não têm princípios éticos para decidir quais pesquisas são maleficentes para os animais submetidos a elas. O bem-estarismo não defende os animais frente à liberdade do cientista de usá-los em experimentos dolorosos e letais.

 Animais, humanos e não-humanos, são seres capazes de ter um bem-próprio, isto é, específico, e, ao mesmo tempo, seres cuja manutenção deste bem se dá em condições ambientais e emocionais frágeis. Qualquer interferência que represente limitação a este bem, necessariamente é maléfica ao indivíduo que a sofre.

 Nos termos nos quais se faz investigação, hoje, não há possibilidade de reconhecer vestígios de ética na perspectiva do respeito pelos interesses dos animais. Poderíamos nos agarrar à hipótese de uma ética antropocêntrica, quer dizer, uma ética indiferente à dor e ao sofrimento animal, realmente voltada apenas para alcançar o benefício humano. Se conseguíssemos justificar a pesquisa sob esta perspectiva, poderíamos então reconhecer que se poderia aprovar tudo o que se pratica hoje contra os animais. A questão, porém, é que o tal do benefício humano não é alcançado. Há três décadas atrás, era raro conhecer alguém que sofresse de câncer, ou depressão profunda (refiro-me à cidade onde moro, Florianópolis). Hoje, passados trinta anos nos quais a indústria química produziu drogas para tratar de quaisquer sintomas humanos, o câncer, os AVC's e a depressão estão espalhados na comunidade da UFSC, que agrega mais de trinta mil pessoas. Os trilhões de animais que foram mortos em pesquisas contra o câncer não levaram a ciência a descobrir a cura do câncer. Os cientistas continuam a crer que outros tantos trilhões de vidas animais serão necessárias até que eles cheguem às descobertas que prometem fazer. Eles continuam a procurar as chaves perdidas na madrugada debaixo do poste iluminado, mesmo já sabendo que ela foi perdida lá atrás, na esquina escura (para poste iluminado leia-se: financiamentos).

 NOTAS: 1 Palestra proferida pela autora na IX Semana de Biologia da UFSC. Auditório do Forum, CCJ/UFSC, 23/10/07, a convite dos estudantes que organizaram a mesa-redonda: Ética e Experimentação Animal, da qual participaram os pesquisadores, Dra. Paula Brügger (UFSC), o presidente da CEUA, Dr. Tonussi (UFSC), o presidente do COBEA, Dr. Freyblatt (UNIVALI).
                 2. Artigo também já publicado anteriormente neste blog, em fevereiro de 2012.


Sobre a autora:
Sônia T. Felipe
- Doutora em Teoria Política e Filosofia Moral, pela Universidade de Konstanz, Alemanha (1991). Co-fundadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Violência (UFSC, 1993). Autora dos livros, "Ética e Experimentação Animal - fundamentos abolicionistas" (Edufsc, 2006); "Por uma questão de princípios" (Boiteux, 2003). Co-autora de "A violência das mortes por decreto" (Edufsc, 1998), "O corpo violentado" (Edufsc, 1998),"Justiça como Eqüidade" (Insular, 1998, esgotado). Colaboradora nas coletâneas, "Instrumento Animal" (Canal 6, 2007), "Éticas e políticas ambientais" (Lisboa, 2004), "O utilitarismo em foco" (Edufsc, 2007), "Filosofia e Direitos Humanos" (Editora UFC, 2006), "Tendências da ética contemporânea" (Vozes, 2000). Autora de dezenas de artigos editados nos sítios: http://www.svb.org.br/; http://www.pensataanimal.net/; e na Revista Ethic@ (http://www.cfh.ufsc.br/ethic@/). Coordena o Laboratório de Ética Prática, do Departamento de Filosofia da UFSC, é professora e pesquisadora do Programa de graduação Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas, da UFSC. Membro Permanente do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e do Bioethics Institute da Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento, Lisboa. Coordena o Projeto de pesquisa: Feminismo ecoanimalista: contribuições para a superação da violência e discriminação especistas, revisando a literatura sobre defesa de animais e ecossistemas produzida por mulheres (Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas, UFSC, 2009-2011).

Vivissecção: o lado especista da ciência

Por Colaboradores do Libertação Animal Brasília

Postado por
Libertação Animal

Texto escrito por colaboradores que estão envolvidos na organização da nossa manifestação de abril na capital federal  


Vivissecção: o lado especista da ciência

A vivissecção, entendida como a prática de se realizar intervenções em animais não humanos vivos ou recém-abatidos com propósitos científicos, costuma englobar uma série de procedimentos que consistem em provocar danos ao corpo desses seres, tais como queimaduras, congelamentos, cirurgias não-terapêuticas, indução de doenças ou danos intencionais em seres sadios, além de experiências psicológicas, teste com drogas etc.

O argumento utilizado por uma parcela considerável de pessoas interessadas em justificar esta prática, não apenas no meio acadêmico, mas também nas pesquisas biométicas, nos testes de produtos de limpeza e em cosméticos, é de que existe a necessidade de se confirmar as possíveis reações e os impactos que certos produtos de uso humano podem causar na saúde dos seres humanos.

Estimativas oficiais indicam que entre 17 e 70 milhões de animais são usados em experimentações somente nos EUA, que detêm em seu território um dos maiores “produtores” de animais para laboratórios: Charles River Breeding Laboratories (CRBL), em Massachusetts, de propriedade da Bausch & Lomb, donos de mais 40% desse mercado. No Brasil não é muito diferente. Os dados não são precisos, porém, estima-se que são milhares, número que possivelmente aumentará independente do quão avancem as leis que rogam por um tratamento “humanizado” visando a diminuição da dor causada pelos procedimentos adotados. Animais continuam sendo mortos como alternativa mais barata para testes, cujos resultados finais não são confiáveis.

Nas últimas décadas, o movimento de defesa dos direitos animais passou a mostrar e denunciar o que muitas pessoas sequer imaginavam que ocorria nos laboratórios de pesquisa e nas salas de aula. Em nome do ensino e do dito “progresso” das técnicas institucionais cientificas, da qualidade de vida baseada em novos e milagrosos produtos farmacêuticos, da estética visual e do movediço campo de combate e cura de doenças, o sofrimento imposto a bilhões de animais não humanos, antes ignorado pela maioria das pessoas, passou a chocar – e muito, quem quer que tomasse conhecimento do que ocorre dentro dos laboratórios. 

Diante dessas denúncias, muitas vezes incômodas e fortemente criticadas em razão da exposição a que universidades e laboratórios são submetidos, a sociedade também se viu motivada a entrar no debate sobre vivisseção e experimentação em animais. Não apenas opinando, mas também pressionando e cobrando a substituição dessas práticas. Este esforço não tem sido em vão e, juntamente com uma parcela de cientistas e acadêmicos que também se utilizam de sólidos argumentos que desmontam este já ultrapassado modelo de pesquisa, estão conseguindo promover importantes e consideráveis mudanças no campo científico. 

Neste sentido, várias conquistas podem ser citadas ou encontradas mediante pesquisas em ferramentas de busca disponíveis na internet. Como exemplo, é possível mencionar o anúncio feito em 2010 pelo Comitê de Médicos pela Medicina Responsável (PCRM, na sigla em inglês) sobre o fim do uso de animais nos testes laboratoriais das universidades do Canadá . As faculdades de medicina daquele país agora utilizam métodos alternativos, tais como simuladores humanos, em seus laboratórios. Também em Israel, El Al (principal linha aérea israelenses) assumiu publicamente que se recusa a transportar primatas para serem usados em experiências. Além disso, lá, a vivissecção é proibida em todas as instituições federais de ensino.



 Nós também temos um papel importante nesta luta pelo fim do sofrimento animal. Como indivíduos críticos de nosso próprio consumo, somos capazes de renegar esse tipo de lógica de produção pelo boicote direto e uso de produtos alternativos, ao mesmo tempo que pressionamos as devidas autoridades (legais e corporativas) para que abandonem essa metodologia visando uma ética diferenciada que exclua o uso de animais nesses procedimentos. Do contrário, como consumidores desinformados, estaremos subordinados a sempre recompensar esse ciclo de dor em cada produto que compramos e trazemos para nosso cotidiano.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Video MANIFESTO ANTI VIVISSECÇÃO 2012 - inédito



 Não à tôa o nome que escolhemos dar aos vídeos informativos à sociedade sobre o que é "vivissecção" receberam o nome de VIVISSECÇÃO: a PSICOPATIA da pseudo-ciência.
Foram os 3 videos adicionados anteriormente a este blog.
Duas criaturas daquela "estirpe" estão se aproveitando da oportunidade de nossa Manifestação Nacional ANTI Vivissecção para promover uma tentativa de legitimação do genocídio e dos interesses do obscurantismo e da pseudo-ciência.

O Robson do Consciência.blog tem se ocupado de responder a estes senhores com extrema competência e uma boa dose de "estômago". Ao Robson, só elogios a fazer. Eu, entretanto, tenho uma outa linha de estratégia. Talvez por entender, por formação profissional, os desvios da mente dos sociopatas, recuso-me a dar espaço e audiência para que espalhem sua saga de horror, que se nutre do mal estar que provocam, sempre com "carinhas de boas pessoas".

Os parabéns à capacidade argumentativa e à posição ética do Robson.

Quanto aos demais, vou preferir ignorar sua existência propositadamente, de forma a não ampliar sua rede de ação de lavagem cerebral e falta de ética.
Continuemos a manter nossa linha assertiva de INFORMAÇÃO, sem perder tempo com confrontações improdutivas.
Toda a energia de que dispomos tem que ser aproveitada e direcionada ao movimento abolicionista ANTI VIVISSECÇÃO, esta "o mais negro dos crimes", nas palavras de Gandhi.
A  Verdade Prevalecerá.
"Truth will ultimately prevail where there is pains taken to bring it to light."
(George Washington)


Segue hoje o inédito video-MANIFESTO ANTI VIVISSECÇÃO, postado ontem, domingo, dia 18 de março, no YouTUBE.
Eu agradeço antecipadamente e peço a todos que ouçam e compartilhem o nosso MANIFESTO ANTI VIVISSECÇÂO 2012.

A Verdade Prevalecerá.



"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."
"Enfrentaremos a força física com a nossa força moral"
 " Nossas vidas começam a acabar no dia em que silenciamos a respeito das coisas  que verdadeiramente importam"                                


             (Martin Luther King)

domingo, 18 de março de 2012

Direitos animais e o caminho a seguir - Sergio Greif


"Por ocasião do 1º Encontro Nacional de Direitos Animais (ENDA), ocorrido em Porangaba - SP, entre os dias 1º e 4º de maio de 2008, tive a oportunidade de proferir 4 palestras sobre temas diversos. Duas dessas palestras tratavam de aspectos relacionados ao posicionamento ideológico daqueles que lutam pelos direitos dos animais, sendo uma referente ao dito "movimento abolicionista" e a segunda uma tentativa de estabelecer de que forma se daria o ativismo pelos direitos animais no futuro. O artigo que se segue refere-se a essas duas apresentações realizadas."
Sergio Greif


Direitos animais e o caminho a seguir 
Sergio Greif

Vem ganhando popularidade em nosso meio as alusões e referências a um tal "abolicionismo animal". Mais e mais pessoas vem se auto-denominando abolicionistas, escrevendo mensagens de e-mail destinadas aos "Prezados Abolicionistas" (independente de quem sejam os destinatários) e se despedindo em suas mensagens com "abraços abolicionistas". Abolicionismo parece ser a nova palavra da moda, seja lá o que ela queira dizer para a maioria das pessoas.

 Embora "abolicionismo animal" seja uma terminologia popularizada relativamente em tempos recentes, a idéia que ela encerra não é de forma alguma nova. Abolicionistas não inventaram nada que já não se soubesse; essa não é uma nova seita, sem um passado, e que surgiu para acabar com tudo o que se tinha até então, como querem fazer parecer muitos "protetores de animais das antigas". Se hoje o termo abolicionismo é necessário, se foi preciso "inventar" uma palavra, foi porque as antigas terminologias - direitos animais, proteção animal, defesa animal - ou qualquer outra que tenha vindo a ser utilizada, foram corrompidas pelo desgaste e mau uso.

 Se pessoas que reproduzem animais, criam-nos para seus fins, fazem uso de sua carne, couro ou outras partes, etc. - se pessoas, enfim, que não possuem nenhum compromisso para com a vida animal repentinamente passam a se autodenominar "protetores de animais", "defensores de animais", etc., então é certo que as pessoas que realmente protegem e defendem animais, que lutam por seus direitos, precisarão adotar uma outra denominação. Se muitas pessoas entendem que lutar pelos direitos animais significa lutar para que as galinhas tenham jaulas maiores ou para que o vitelo possa deitar em um cocho um pouco mais largo, esticando as pernas, então de fato entendemos porque da necessidade de se criar uma nova palavra. Assim popularizou-se o termo "abolicionismo".

 Mas essa popularização, quando não seguida de uma definição clara e amplamente entendida e aceita, pode ser algo ruim. Basta analisarmos a forma como muitos auto-denominados abolicionistas levam a vida ou se embrenham no seu ativismo para vermos que o abolicionismo de agora nada tem a ver com o que devíamos entender por abolicionismo, e que ele muito mais se aproxima da proteção animais outrora criticada. Aliás, é óbvio que apenas se autodenominar abolicionista sem seguir a isso uma critica ao bem-estarismo é uma colocação vazia. Não há porque utilizar essa palavra senão em oposição ao movimento tal qual existia e existe até hoje.




Abolicionismo nada mais é do que direitos animais. Não há nada somado, não há nada subtraído. Direitos animais em sua forma mais pura.* Não é novo porque o conceito estava lá desde o começo. Se reconhecemos que animais possuem direitos e que esses direitos são inalienáveis então não podemos utilizar animais como meios para nossos fins. O conceito é simples, não há mais o que se argumentar sobre isso. Mas tudo o que é diferente disso, ainda que parecido para os menos avisados, não é mais direitos animais.

No meu entender, visto o mau uso do termo abolicionismo, caminhamos para a eleição de uma nova palavra para definir a forma como pensamos. Direitos animais já foi bom, mas foi corrompido, abolicionismo já começou com um emprego ruim... que palavra virá agora? Minha opinião é que deixemos de neologismos, deixemos o abolicionismo de lado e nos voltemos novamente para os direitos animais, mais lógico e explicativo. Com o perdão das palavras, mas para o inferno os protetores de animais, falsos defensores de animais - se eles comem frango ou apoiam o uso "ético" de animais em pesquisa, eles não defendem nada senão seus próprios interesses. Sou pelos direitos animais e só me denomino abolicionista quando preciso fazer uma crítica específica ao bem-estarismo.

 O ideal abolicionista não é novo, nem saiu do movimento de defesa animal, como muitas vezes colocado pelos críticos. Estiveram ambos os movimentos engendrados um ao outro desde o começo, atrapalhando-se e confundindo-se mutuamente. A cisão que surgiu recentemente não veio para enfraquecer, mas para fortalecer cada movimento em suas opiniões, cada qual em sua maneira de agir. E as diferenças são tantas que ambos os grupos chegam a ser opostos, embora por um ponto de vista bastante superficial, ambos lutem pela mesma coisa.

Entender a evolução deste movimento é entender seu próprio funcionamento. Não pretendo aqui escrever muito mais do que já foi escrito sobre essa evolução. Outros artigos nessa mesma publicação o fazem muito melhor. Mas como uma rápida retrospectiva dos fatos, precisamos entender que, no mundo ocidental, grande parte do pensamento humano com relação aos animais baseou-se na passagem de Gênesis 1:28 "E Deus os abençoou (Adão e Eva), e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.". Essa passagem, invocada em praticamente toda discussão referente aos direitos animais, predominou no pensamento humano durante as Idades Antiga, Média e Moderna.

 Mesmo atualmente ainda há quem a use para justificar o direito do homem sobre as demais espécies, o que de fato atesta contra a racionalidade do argumentador, visto que outras passagens bíblicas autorizam a escravidão, o saque, o estupro, etc (para mais informações sobre esse tópico leia o ensaio "O bem-estarismo e a Bíblia" - www.anima.org.ar/libertacao/animais/o-bem-estraismo-e-a-biblia.html). Note-se que muitas vezes quem utiliza tal argumento sequer conhece ou segue a Bíblia. Apenas a utiliza para defender um ponto de vista que serve aos seus interesses.

 A defesa da idéia de que animais são meros recursos a serviço dos seres humanos atingiu seu ápice com René Descartes, que em 1637 defendia que os corpos eram apenas máquinas, autômatos. Embora Descartes tentasse ser perfeitamente racional em sua argumentação, ou como mais tarde popularizou-se dizer - Cartesiano - sua lógica não estava desvencilhada do pensamento da época. O homem é também máquina visto que possui corpo, mas possuindo também alma e pensamento, torna-se sujeito de direito. Animais não possuíam alma nem pensavam, pelo menos esse era o pensamento da época, logo, não eram mais do que robôs. E robôs podem ser usados para qualquer coisa, inclusive destruídos sem qualquer justificativa.

O Iluminismo surgiu como uma crítica a diversos pressupostos religiosos, entre os quais a idéia de que animais não possuíam alma ou não raciocinavam. Jean-Jacques Rousseau em 1755 defendia que os animais possuem sim sentimentos, e que por isso não devem ser "desnecessariamente mal tratados". Vemos aqui que Rousseau não chega a realizar uma defesa verdadeira aos direitos animais. Ele reconhece que animais sofrem e que, portanto, é moralmente errado fazê-los sofrer. Mas se ele cita o "sofrimento desnecessário" é porque pressupõe a existência do "sofrimento necessário". Embora referido como vegetariano pelas sociedades vegetarianas pelo mundo afora, Rosseau jamais foi vegetariano nem se posicionou contra qualquer uso de animais. Apenas sugeria que houvesse maior critério nesse uso.

Outro iluminista, Voltaire, em 1764 fez críticas mais específicas às colocações de Descartes, defendendo que animais pensam e tem sentimentos. Embora defendesse isso, acreditava que tínhamos o direito de usar animais, ao mesmo tempo que tínhamos obrigação de defendê-los. Esse antagonismo, um contra-senso, é o cenário que ainda encontramos no movimento de "proteção animal". Protetores de animais até hoje defendem essa mesma idéia, a de que podemos utilizar animais para nossos fins, mas temos obrigação de defendê-los.

Immanuel Kant, outro filósofo iluminista bastante prolífico, defendia em 1781 que o ser humano devia se abster de maltratar animais porque o homem que se acostumava com o sofrimento animal mais facilmente se tornava indiferente ao sofrimento humano. Na opinião de Kant os animais em si não gozavam de direitos, nem o sistema moral que devia ser aplicado a todos os homens deveria ser estendido aos animais. Apenas devíamos nos compadecer dos animais porque assim nos compadeceríamos do próprio ser humano.

O filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham, maior representante da ideologia utilitarista, escreveu em seu livro de 1789 An Introduction to the Principles of Morals and Legislation: "Pode um dia vir a ser reconhecido que o número de pernas, a vilosidade da pele, ou a terminação do osso sacro são razões igualmente insuficientes para abandonar um ser senciente à mesma sorte.

O que mais seria isso que poderia traçar a linha insuperável? É a faculdade da razão ou talvez a faculdade do discurso? Mas um cavalo ou um cão bem crescidos são sem comparação mais racionais, bem como mais comunicativos, do que um bebê de um dia ou de uma semana ou mesmo de um mês de vida. Mas suponhamos que eles fossem de outra maneira, o que isso valeria? A questão não é, Eles pensam?, nem Eles falam? Mas, Eles sofrem?"

Muitos se referem a essa passagem de Jeremy Bentham como o início do pensamento com respeito aos direitos animais, mas costumo vê-la como apenas mais um degrau em direção a esse pensamento. Bentham não era ele mesmo um vegano, e embora fosse opositor da escravidão humana, acreditava que animais podiam ser escravizados. A contribuição verdadeira de Bentham não foi com relação aos direitos animais, mas sim em reconhecer que animais possuíam interesses iguais aos do homem no que se refere à capacidade de sofrer e sentir dor.

 Embora seus escritos sejam referidos como tendo dado início ao movimento de direitos animais, sua influência foi mais forte dentro do movimento de bem-estar animal. Por influência de Bentham, em 1822 foi promulgada a primeira lei de bem-estar animal da história, a British Anti Cruelty Act, que pretendia prevenir a crueldade contra os animais habitualmente utilizados pelo homem. A lei em nenhum momento questionava se animais devem ser utilizados, apenas estabelecia que uma vez que seu uso existe, os animais deveriam ser tratados seguindo princípios não-cruéis. Essa lei não era extensiva a todas as espécies animais, mas aplicável apenas a animais domésticos de grande porte.

 Em 1824 foi fundada, também na Inglaterra, a Society for the Prevention of Cruelty to Animals - SPCA, rebatizada em 1840 de Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals. Esses dois eventos servem de marco histórico para o bem-estarismo enquanto movimento, e embora em determinados aspectos isso tenha influenciado o movimento pelos direitos animais, não se pode considerar que o reconhecimento de que animais que devem ser utilizados pelo homem merecem alguma consideração devido à sua capacidade de sentir dor seja um passo em direção ao reconhecimento de que animais não devem ser utilizados pelo homem.

O bem-estarismo, compatível com a filosofia utilitarista, difere da filosofia dos direitos animais em tantos aspectos que apenas por ignorância ou superficialidade as pessoas podem confundi-los. Como nos direitos animais, o bem-estarismo também reconhece que animais são seres sencientes, ou seja, capazes de sentir dor e sofrer. Mas as semelhanças acabam por aqui, pois com essa informação em mãos, ambos os grupos tomam caminhos opostos.*

 - Bem-estaristas reconhecem que animais podem sentir dor, logo, não devem jamais sofrer desnecessariamente. Mas, quando o sofrimento for necessário, animais podem ser usados. Bem-estaristas crêem que existem formas éticas de utilização de animais, a que chamam de "tratamento humanitário", onde alega-se que o sofrimento é minimizado. Bem-estaristas defendem que a prevenção da crueldade contra animais deve ser regulamentada por leis.

 - Os defensores dos direitos animais, como os bem-estaristas, reconhecem que animais são seres sencientes. Exatamente essa senciência lhes torna sujeitos de direito. Animais têm interesse em não sofrer, em não sentir dor, em continuarem vivos. Portanto, fazê-los sofrer ou matá-los é moralmente errado. Animais não devem ser vistos como recursos, como meios para nossos fins, e independente do valor que o ser humano lhes atribua, animais possuem um valor inerente que não pode ser expresso em termos monetários ou negociados de alguma maneira.

 A diferença fundamental entre bem-estaristas e defensores dos direitos animais é que os primeiros não se opõe ao uso de animais e apenas lutam pela sua regulamentação, enquanto que os segundos querem abolir toda forma de exploração animal. São movimentos que trabalham por causas opostas, pois regulamentar determinado uso significa torná-lo aceitável, mais longe de ser abolido.* Apesar disso, ambos os movimentos se confundem entre si, gerando por vezes atritos e desavenças.

 O filósofo australiano Peter Singer, discípulo de Bentham, é muitas vezes referido como pai do movimento de direitos animais. Embora seu livro Animal Liberation, de 1974, tenha popularizado a idéia de que animais sofrem, em nenhum momento Singer nele defende que não devemos utilizar animais. O nome "Libertação Animal", do título, não condiz com o conteúdo do livro. Singer tem um posicionamento utilitarista, onde o prazer deve ser maximizado e o sofrimento minimizado, tanto para os homens quanto para animais. Ele também tem uma argumentação coerente no que se refere ao princípio da igualdade entre espécies. Mas, por outro lado, ele também defende que vidas - humanas ou animais - podem ser negociadas em troca de "um bem maior".

 Na concepção de Singer, animais podem ser usados desde que isso beneficie a um grande número de animais ou de seres humanos. A vida e o direito individual não têm aqui valor, indivíduos podem ser sacrificados pelo bem da coletividade. Singer reconhece que animais tem interesse em não sentir dor, mas não tem interesse na vida e na existência continuada. Assim, não há nada de errado em matar um animal, o errado está em fazê-lo sofrer. Singer não defende o veganismo, mas sim um "onívorismo consciente", onde os produtos de origem animal sejam oriundos de sistemas de criação que dêem aos animais "tratamento humanitário". Defendendo idéias referentes ao bem-estar de animais de criação, Singer não reconhece que animais tem direitos.

 O bem-estarismo falha em sua alegada missão de proteger animais em diversos aspectos, especialmente por:
 - supor que em algum momento a exploração de animais pode ser eticamente justificada;

 - supor que o julgamento humano de fato pode contrapor os interesses de animais (propriedades) e humanos (proprietários) com justiça;

 - permitir que o "sofrimento necessário" imposto aos animais seja, na prática, todo uso que se queira fazer do animal;

 - supor que leis anti-crueldade de fato protegem os animais ou previnem abusos sendo que elas sequer tipificam o que sejam crueldades ou abusos;

O bem-estarismo em verdade conduz a um lugar bastante diverso do que se desejaria para os animais. Promovendo o consumo de produtos de origem animal do tipo carne de boi orgânico, frango caipira, leite de "vaquinhas felizes", etc. o bem-estarismo cria uma sensação de conforto com relação à exploração animal. O erro não está na exploração de animais, mas na forma como o fazemos. Pessoas deixam de se tornarem veganas para consumir esses produtos mais caros e valorizados, mas que na praticam não são sequer resultados de sistemas de exploração menos sofríveis para os animais. O manejo valorizado pelo bem-estarismo, além de resultar em melhoria na produção pecuária, apenas elimina o sofrimento inútil do sistema de criação. O "sofrimento útil", que se converte em dinheiro para criador, é mantido, até porque ele é inerente a essa atividade.*



 E porque valoriza a exploração animal, o bem-estarismo tem como ícones de seu movimento indivíduos e organizações que se destacam explorando animais, desde que adotando a mesma ótica de minimização do sofrimento "desnecessário" e otimização do manejo. Por esse motivo organizações de bem-estar animal tendem a premiar cadeias de lanchonete que se comprometem em usar hambúrgueres de vacas que sofreram menos pra morrer, ou cientistas que se comprometem em reduzir o número de animais usados em seus laboratórios, ou refinar a técnica de modo a diminuir significativamente seu sofrimento. O bem-estarismo não cogita uma campanha de eliminação dessas formas de exploração animal porque eles mesmos se beneficiam desse uso. O bem-estarismo tem, enfim, objetivos diferentes dos direitos animais, e não faz sentido defender que a adoção de uma estratégia bem-estarista levará a abolição do uso de animais. Nós chegamos aonde estamos tentando ir.

 Embora a concepção de direitos animais seja antiga, podendo remontar ao século XVII (para mais detalhes, ler O homem e o mundo natural, de Keith Thomas), sua caracterização enquanto movimento distinto do de bem-estar animal só tomou forma mediante os escritos de Tom Regan e Gary Francione. O processo ainda está em curso e depende das pessoas envolvidas reconhecerem que as diferenças existem e que as distinções são necessárias.

O movimento de direitos animais caracteriza-se pelo reconhecimento de que animais possuem os mesmos direitos que o ser humano à vida, e que esses direitos não podem ser negociados. Animais têm interesse na vida e existência continuada e jamais devem ser usados como recursos, ainda que se provem benefícios para o ser humano ou para maior número de animais.



Considerando tudo isso, o veganismo não é apenas uma escolha individual, mas uma obrigação moral de todo ser humano. Não é concebível que uma pessoa que diga defender animais não seja vegana visto que o veganismo é o primeiro estágio que o indivíduo deve buscar após reconhecer que animais possuem direitos. Uma pessoa que difunde direitos animais sem antes haver adotado o veganismo age de forma desonesta, pois pretende ensinar sem antes haver aprendido, e propõe que os outros façam o que ela mesma não se comprometeu a fazer. O veganismo não é um mero detalhe na vida do indivíduo, ele é fundamental para se entender de que forma que a pessoa realmente se compromete com os direitos animais. Veganismo é direitos animais em ação.

Dito isso, entendemos o porquê do movimento de bem-estar ser mais popular que o movimento de direitos animais. O "bem-estar" não exige nada do indivíduo, basta reconhecer que animais sofrem. E nem é necessário reconhecer que todos os animais sofrem, basta que sejam aqueles que nos são mais simpáticos. Basta empunharmos cartazes e gritarmos palavras de ordem. Basta dizermos que gostamos de animais. Não é necessário, realmente, mudar nada em nossas vidas para que sejamos "protetores de animais".


Por outro lado, reconhecer que animais possuem direitos exige que transformemos nossas vidas, que façamos algo a respeito. E fazendo isso, levantamos muitas críticas daqueles que não querem assumir os mesmos compromissos. Muitos não negam que animais têm direitos, mas preferem defender que assumir que não devamos utilizá-los seja uma posição utópica. Que a sociedade não está ainda preparada para isso e que a adoção do veganismo é uma atitude extrema, radical. Defendem que quem quiser adotar o veganismo pode fazê-lo, mas que o veganismo não é para todos, e que as pessoas podem optar por continuar fazendo uso de animais.



 Enfim, acreditam que animais têm interesse em não sofrer, mas não que eles tenham interesses na vida continuada. Que basta que animais morram sem sofrimento para que sua exploração seja considerada ética. Defendem ainda que aqueles que lutam pelos direitos animais colocam seu ativismo como uma questão de "tudo ou nada", ou seja, que não acreditam que pequenos ganhos pela causa. Essa crítica é bastante infundamentada, até porque ela surge toda vez que bem-estaristas recebem criticas por estarem promovendo legislações que não representam pequenos ganhos pela causa, mas sim regulamentações de uso de animais.

 Outra crítica infundamentada muitas vezes recebida é a de que animais não têm direitos porque direitos pressupõem deveres perante um Estado. Ora, se assim o fosse, bebês e deficientes mentais não gozariam de direitos, visto que não possuem deveres para com o Estado. Ademais, o que se busca para os animais não é "proteção" da forma como é colocada pelos "protetores de animais", nem o direito ao voto, nem qualquer reconhecimento de cidadania. Direitos animais referem-se aos direitos à vida, à existência sem sofrimento e livre do subjugo humano. Não há porque exigir dos animais qualquer obrigação para com o Estado.



Entendidas as diferenças entre ambos os movimentos, resta-nos entender de que forma cada qual deve buscar seus objetivos. Vimos que o movimento de bem-estar animal tem uma forma de atuação que privilegia a premiação de indivíduos e organizações que se comprometem em explorar animais fazendo uso de "métodos humanitários". Vimos também que esse movimento busca a elaboração de legislações que estabeleçam de que forma animais podem e de que forma animais não podem sofrer. Outras formas de ativismo, em verdade ‘demonstrações de que existimos' podem ser enumeradas, entre elas protestos, performances de rua, divulgação de materiais, organização de abaixo-assinados, etc.

Convém que o movimento de direitos animais, enquanto movimento distinto do movimento de bem-estar animal, não tome parte dessas ações, ou quando o fizer, que o seja de maneira bem criteriosa. Creio que a palavra critério seja fundamental para a compreensão de todo o texto que se segue. Comecei o presente texto com uma crítica à popularização e mau uso do termo abolicionismo, porque mesmo quando adotados por veganos sinceros, seu emprego em um contexto bem-estarista acaba por corromper a palavra em sua pureza. Ativistas pelos direitos animais devem ver com reservas toda ação promovida pelos grupos de bem-estar animal. Devem ser criteriosos na escolha daquilo que apoiamos, aquilo a que somos indiferentes, e aquilo que merece nossas críticas.



Nesse 1º ENDA foi pedido que eu falasse sobre o caminho que o ativismo pelos direitos animais deveria tomar no futuro. Não sou dado a previsões, mas posso analisar criticamente o movimento no presente e tentar esboçar um movimento ideal no futuro. Certamente o que mais me incomoda no movimento presente é a falta de critério. Uma boa demonstração de falta de critério é a quantidade de e-mails inúteis referentes ao tema que recebemos diariamente. Sob a pretensão de estar ajudando animais, ativistas fazem circular tudo o que recebem. É óbvio que muito desse material é repassado sem uma leitura prévia, pois não se encontra nele nenhum objetivo prático. Também o texto nem sempre condiz com aquilo que acreditamos. É material ruim e até contrário à nossa ideologia, mas porque dele constam palavras chaves - direitos animais, proteção animal, etc. - ele simplesmente chega ás nossas caixas. Falta de critério dos ativistas.

A falta de critério também se torna evidente quando consideramos o grande número de atividades que se desenvolvem sob o pretexto de ‘direitos animais'. Embora o número seja relativamente grande, considerando o número de ativistas, faltam a essas atividades objetivos claros, foco, organização, enfim, são atividades sem propósito que apenas consomem tempo e energia dos ativistas.



 Baseado nessas considerações supus que ‘falta de critério' seja o maior problema do ativismo do presente e que ‘mais critério' seja o que devemos buscar para o ativismo do futuro. Existem 5 perguntas que as organizações sempre devem se fazer para otimizar suas ações. Creio que movimentos e indivíduos envolvidos com direitos animais, para trabalhar com maior critério, devam sempre se fazer essas perguntas, também. São elas: Qual? Como? Quem? Onde? e Quando?

 Qual? - "Qual o objetivo de determinada atividade? Quais atividades realmente merecem nossa atenção e a quais devemos ser indiferentes?" A pergunta qual? é importante para o ativista, pois impede que ele se envolva com atividades que não resultem em nada ou que resultem em algo que não seja seu objetivo. Algumas vezes me envolvi em campanhas sem realizar os devidos questionamentos e só então percebi que os objetivos de alguns dos participantes eram distintos dos meus. Outras vezes não havia objetivo algum, apenas o dispêndio de tempo e energia. Poucas pessoas gozam o privilégio do tempo e energia ilimitados. Para aqueles que trabalham, que possuem relações sociais, família, etc, as ações precisam resultar em algo, caso contrário serão ações vazias. Tudo o que fazemos tem que fazer sentido. Não adianta atirar para todos os lados, envolver-se com toda ação proposta, é hora de parar e se concentrar. Quais atividades de fato merecem nossa atenção?

Como? - "Como devo agir?" "Como vou atingir meu objetivo?" A pergunta Como? é importante porque muitas vezes as atividades propostas tem um objetivo claro, mas as ações pretendidas não são compatíveis com esses objetivos ou os efeitos que delas podem advir potencialmente produzirão resultados não desejáveis. Mais adiante realizaremos uma análise critica dessas formas de atuação.

Quem? - "Quem podemos chamar para fazer parte de nossas atividades ou de nosso grupo?" A pergunta Quem? é bastante importante no que se refere à formação de grupos ou das atividades que demandam a participação de muitas pessoas ou grupos distintos. Trabalhos em grupo são mais difíceis de manter dentro de um critério porque por sua própria natureza, as pessoas não agem de forma coesa. Quando o ingresso em um grupo se dá de uma maneira não questionada os grupos se tornam entidades heterogêneas, abertas a praticamente todas as formas de pensamento. É ótimo que no nível individual as pessoas possuam liberdade de pensamento, mas isso dentro de um grupo descaracteriza todo o trabalho. Grupos deveriam trabalhar por um objetivo claro e para isso a maior homogeneidade possível é impreterível. Por esse motivo, grupos menores tendem a ter ações mais focadas e o trabalho individual bem feito tende a ter qualidade superior ao trabalho realizado em conjunto. Grupos grandes e inchados tendem a ter infiltração de bem-estaristas, o que condena toda e qualquer ação do grupo. Em um grupo menor, com número mais limitado de pessoas, porém, é mais fácil encontrar retidão, coerência, honestidade, bom senso, responsabilidade, capacidade de manter o foco, convicção, clareza, profundidade, características desejáveis em companheiros de atividades.

Onde? - "Onde a ação deve se desenvolver?" A pergunta Onde? tem importância somente após decidida quais ações valem a pena serem tomadas, como deve-se agir e quem será chamado a participar. Ações em locais públicos demandam um questionamento per se, pois os efeitos desejáveis podem ser suprimidos por efeitos indesejáveis que poderiam ser previstos caso houvesse maior critério. Também, é importante que as ações sejam tomadas em locais que de alguma forma tenham relação com os objetivos propostos e cujo público alvo seja capaz de tomar decisões que de fato tenham efeito sobre os objetivos almejados.

Quando? - "Quando ela deve começar?" A pergunta Quando?, igualmente, tem importância somente após realizadas as três primeiras perguntas. Muitas vezes os objetivos são válidos, a forma de agir é compatível com esses objetivos, a escolha do local é a ideal, mas o momento não é o correto. Para que os objetivos sejam atingidos muitas vezes precisamos ter tomados medidas anteriores à ação. Não adianta trabalhar por algo fazendo com que as ações se antecedam aos eventos. As coisas funcionam dentro de determinada ordem e contrariar essa ordem pode significar não atingir o objetivo da ação.

O ativista pode encontrar problemas em agir seguindo esse critério, especialmente quando o convite para tomar parte em ações sem objetivos claros partir de pessoas por quem ele tenha apreço. Mas, certamente, o ativismo pelos direitos animais não deve ser usado como um recurso para fazer ou manter amizades. É bom que do ativismo resultem amizades, mas a verdade dos direitos animais e seus objetivos estão acima disso.


 No passado me abstive de dizer para certos "ativistas" que o que eles faziam nada tinha de direitos animais, seja por causa das atividades em si, seja porque seu estilo de vida sequer era compatível com essa ideologia. Não é possível, por exemplo, que uma pessoa se identifique como ativista pelos direitos animais sem que antes tenha adotado um estilo de vida vegano. Veganismo não é o estágio máximo, superior, que o ativista deve atingir após anos de "desenvolvimento espiritual". Veganismo é o estágio inicial, pelo qual ele primeiro realiza a mudança em si mesmo, para então buscar a mudança nos outros. Não devemos tentar ensinar aquilo que nem mesmo nós aprendemos.

 No presente encontro-me afastado de muitas pessoas que conheci nessa jornada simplesmente porque disse a verdade. Vislumbrei que não estava no ativismo para fazer amigos, mas para atingir um objetivo. Amigos tenho fora do ativismo, pessoas que comem carne e que declaradamente não estão nem aí para os animais. No ativismo quero trabalhar com pessoas que vivam sua ideologia, e que tenham um estilo de vida compatível com ela. Pessoas que primem pela coerência. Disse certa vez John Kennedy "O segredo do sucesso é não tentar agradar a todo mundo". Se algumas pessoas não suportam a verdade esse é um problema delas.* Creio que no futuro os ativistas não precisarão passar por isso, pois já encontrarão dois movimentos bastante distintos.



 E de que forma se dará o ativismo pelos direitos animais do futuro? Feitas as 5 perguntas e adotado a todo momento o pensamento criterioso, creio que o ativismo no futuro não lançará mão de recursos tão diversos dos já adotados atualmente, seja a divulgação de textos, o trabalho junto à mídia, a panfletagem, a organização de protestos, de performances, abaixo-assinados ou mesmo a ação direta. O que não temos hoje e espero que tenhamos no futuro é critério.

 Não há nada de inerentemente errado em nenhuma das ações enumeradas acima. O erro está no uso que se tem feito de cada uma delas até o presente momento. A ação em si não tem sentido se ela não almeja um objetivo e se esse objetivo não condiz com os interesses dos animais. Considerando, ainda, que no futuro espera-se que haja um maior aprofundamento e até uma profissionalização do ativista, as ações tenderão a demandar menor gasto de tempo e energia com um maior rendimento nos resultados. Analisemos criticamente, à seguir, algumas dessas formas de atuação:

 A divulgação de material é certamente uma ótima forma de atuação porque tem o potencial de educar as pessoas. Educar é, afinal, a melhor forma de atuação dentro do movimento. No entanto, sem critério, podemos estar divulgando material cujo conteúdo pode não condizer com a ideologia que queremos que as pessoas adquiram. Quando recebemos um material é prudente que, antes de repassá-lo, questionemo-nos: "Esse texto é perfeitamente coerente com minhas idéias? A linguagem empregada no texto é adequada? Ela é acessível? O texto é claro? Ele está bem embasado? A argumentação fere algum conceito ético?".

 Se o texto for ruim ou mais ou menos, não convém divulgá-lo. Quando as palavras não são colocadas de forma clara e exata e o texto dá margem a mais de uma interpretação, ou quando as palavras parecem ser medidas de modo a evitar tratarem explicitamente de direitos animais, veganismos ou outros temas, apenas porque o autor pode considerar que a população não está preparada para essas idéias, encontramos textos falhos. Textos com conteúdo religioso ou de ideologias diversas aos direitos animais também devem ser evitados. Textos que contenham referências a fatos científicos, como é o caso de nutrição ou fisiologia, devem ser tecnicamente bem embasados. Enfim, a divulgação de textos deve ser criteriosa e apenas textos que atendam a critérios bem específicos devem ser divulgados.

 É curioso que no presente sejamos sempre incitados a dar apoio a determinado projeto de lei ou a assinar determinado abaixo-assinado, porque aí se encontra "a salvação dos animais". Mas por que recebemos esse material já engessado, em um texto ruim e que não pode ser alterado? Por que a pessoa que agora te procura buscando teu apoio não te procurou antes, quando da elaboração desse material? Correndo o risco de parecermos mesquinhos, não se trata de orgulho de alguém que não foi consultado anteriormente, mas de alguém que não encontra naquele texto a expressão de suas idéias referentes àquele assunto.

 Tendo em mãos um bom material para ser divulgado, cabe decidir a melhor forma de fazê-lo. Enviar textos pela internet é uma forma barata e com potencial de atingir pessoas em lugares distantes, mas mesmo aí é necessário haver critério. Se eu recebesse, digamos, textos com conteúdo evangélico em minha caixa de mensagens, além de não lê-los eu possivelmente pegaria birra de quem me enviou. Não tendo interesse pelo assunto não quero receber material com esse conteúdo. Simplesmente enviar material referente a direitos animais para pessoas que simplesmente não se interessam pelo assunto não as fará interessarem-se. Poderá, quanto muito, fazê-las adquirir aversão pelo assunto.

 Outra forma de divulgar mensagens é através de panfletos. É providencial ter em mãos panfletos com bom conteúdo, para entregar às pessoas que por algum motivo se interessam pelo assunto e que querem saber mais. Panfletos são uma extensão da abordagem, trazem referências para que o assunto não morra ali, tenha uma continuidade. Bons panfletos trazem links para boas entidades; mais tarde a pessoa interessada pode buscar outras informações na internet.

 Mas a panfletagem por si só, o ato vazio de entregar um panfleto para um pedestre na rua, ou para um motorista parado em um farol, não tem qualquer razão de ser. Quando recebo um panfleto na rua descarto sem ler. Ele vai parar na primeira lixeira ou no cestinho do carro. Pedestres que não tem tempo para conversar com você não terão tempo nem interesse de ler um panfleto que receberam na rua. Panfletos assim desperdiçados são recursos da entidade jogados fora, é lixo gerado, e não tem potencial de produzir os efeitos desejados.

 Atividades como protestos e performances também precisam ser realizados de maneira bastante criteriosa. Precisamos a todo o momento questionar se com tais manifestações atingiremos algum objetivo. Particularmente assisto a protestos praticados por outros movimentos e não posso entender quais sejam suas exigências. Sei que uns são sem-terra, outros são estudantes de esquerda... mas o que eles realmente estão reivindicando? E se entendo a reivindicação, não entendo de que forma que o protesto pode ajudar. A quem ele é dirigido? Essa pessoa tem poder para cumprir com essas exigências? Se não há resposta para essas perguntas, o protesto ou a performance não fazem sentido.

 Os protestos e performances em si não nos educam e, se chamam nossa atenção, nem sempre isso é feito de uma maneira positiva. Invariavelmente protestos significam pessoas segurando faixas e cartazes, e gritando palavras de ordem. Apenas quem está "puxando" o protesto tem voz, o restante é massa de manobra e não necessariamente está familiarizado com a situação. Há um lado hipócrita dos protestos, porque seu objetivo é juntar o máximo de pessoas possível, não importa qual seja sua ideologia.

 Um protesto pode, inclusive, ser constituído por uma maioria que sequer pratica aquilo que está exigindo dos outros. Um protesto pelos direitos animais pode ser realizado por um grupo de pessoas cuja maioria não seja vegetariana. Um protesto pelo fim da experimentação animal pode ser promovido por pessoas que utilizam produtos testados em animais. Atividades que reúnem grande número de pessoas nem sempre são honestas e esse é um ponto importante a considerar.

 Outro ponto importante é a possível antipatia que essa atividade pode gerar nas pessoas. Possivelmente uma pessoa que não pôde chegar em casa na hora desejada porque havia determinada atividade atrapalhando o trânsito não verá com bons olhos a mensagem desse grupo. Uma performance que faça uso de nudez ou que simule intercurso sexual pode não agradar a muitas pessoas, além de gerar o questionamento de como pode um grupo que combate o especismo fazer uso de recursos sexistas para levar adiante sua mensagem. E mesmo que a performance não faça uso desses recursos cabe o questionamento. É uma performance de bom gosto? As pessoas que a assistem entendem a mensagem? 

Entendo que ter uma boa relação com a mídia é primordial para o futuro do movimento. Possivelmente no futuro os ativistas contarão com um corpo de especialistas nos diversos assuntos pertinentes aos direitos animais, prontos para fornecer opiniões sobre os diferentes assuntos. O ativismo contará também com uma efetiva assessoria de imprensa. Estar na mídia é importante, mas apenas quando a mensagem a ser transmitida é clara e está livre de distorções. No presente prevalece a idéia de que estar na mídia a qualquer custo é algo vantajoso. Isso está errado. Se for para aparecer em uma situação de ridicularização, ou transmitindo uma mensagem que não condiz com a ideologia, é melhor não estar na mídia.

 Igualmente, as ações diretas, tão valorizadas por uns, tão depreciadas por outros, na verdade podem ser consideradas válidas desde que obedecendo a determinados critérios. As ações que se confundem com vandalismo, terrorismo, violência, etc. devem ser combatidas, não porque aqueles que sofrem essas ações mereçam alguma consideração, mas porque a impressão de que determinado grupo pratica violência tem efeito negativo sobre a população. Nós somos a forma como os outros nos vêem. Se educação é a principal bandeira do movimento, convém que as pessoas sintam simpatia pelo mesmo. Invadir um laboratório e dele retirar animais pode gerar simpatia ou antipatia, depende da forma como isso será feito. 

Outro problema relacionado à ação direta é o possível destino que poderá ser dado aos animais. Em um determinado momento um grupo bem intencionado de jovens ativistas poderão ter em mãos centenas de cães, gatos, coelhos, furões, macacos, chinchilas, ou seja qual for a espécie animal. O que fazer com esses animais? É óbvio que quase qualquer coisa é melhor do que um laboratório ou uma fazenda de pele, mas simplesmente soltar animais em um ambiente selvagem não é algo bom de se fazer, primeiramente porque não sendo aquele o ecossistema ao qual o animal pertence e tendo esses animais passado suas vidas em cativeiro, suas chances de sobrevivência são mínimas. Em segundo lugar a introdução de espécies estranhas ao ambiente gerará impactos sobre as espécies ali presentes.

 Um terceiro problema relacionado à ação direta é que o senso de justiça dos ativistas não condiz com o senso de justiça da polícia. O que uns podem ver como libertação, para outros significa vandalismo, invasão e roubo de propriedade. Ativistas podem ser presos praticando ação direta e precisamos de ativistas do lado de fora das prisões. As ações diretas não devem ser totalmente condenadas, mas menos ainda devem ser encorajadas. Os ativistas são mais úteis aos animais desenvolvendo outras atividades do que se envolvendo com ações diretas.

 Enfim, de uma maneira geral, o que difere o ativismo do presente e o ativismo do futuro é que no futuro os ativistas terão mais senso crítico. No futuro as ações serão melhor planejadas, e por isso serão mais efetivas, com menor gasto de tempo e energia. No futuro haverá ativistas especialistas em diferentes assuntos. Haverá materiais de qualidade cobrindo os mais diferentes assuntos, o que evitará que continue a se proliferar a falta de informação e o ‘achismo'. Acima de tudo, o ativismo no futuro se desvencilhará do estigma de atividade de gente desocupada, de gente radical, de gente relacionada ao esoterismo ou hippies. Assumida uma postura mais séria e com uma mensagem mais clara, haverá maior respeito da população e da mídia.



(* meus grifos)
Sobre o autor:
 Sergio Greif:  Biólogo formado pela UNICAMP, mestre em Alimentos e Nutrição com tese em nutrição vegetariana pela mesma universidade, ativista pelos direitos animais.
Co-autor do livro "A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua saúde em perigo" e autor de "Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável", além de diversos artigos e ensaios referentes à nutrição vegetariana, ao modo de vida vegano, aos direitos ambientais, à bioética, à experimentação animal, aos métodos substitutivos ao uso de animais na pesquisa e na educação e aos impactos da pecuária ao meio ambiente, entre outros temas.
 Membro fundador da Sociedade Vegana.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Temos este direito?

A fronteira tênue entre ciência e crueldade na rotina dos laboratórios esquenta no mundo todo o debate sobre a vivissecção


Escrito por Rodrigo Vergara
Publicado na Revista Super Interessante em junho de 2011

Os alunos que ingressaram este ano no curso de medicina da Universidade de São Paulo (USP) verão menos sangue que seus veteranos durante a estada na faculdade. Pela primeira vez, a universidade vai abolir o sacrifício de cães em aulas sobre “o efeito de drogas na função cardiorrespiratória”. Nessa disciplina, os estudantes testemunham os efeitos de várias substâncias sobre os batimentos cardíacos e a freqüência respiratória. Agora, em vez de verem essas reações no tórax aberto de um animal anestesiado, que depois será morto, os alunos aprenderão com uma simulação em computador. Mudança semelhante ocorreu há um ano nas aulas de técnica cirúrgica na USP. Em vez de treinar sutura em coelhos, que depois eram sacrificados, os alunos passaram a “costurar” cães e gatos mortos naturalmente. As duas mudanças, ao que tudo indica, são definitivas.

Elas fazem parte de um movimento mundial de combate ao uso de animais em laboratórios, não só no ensino, mas também na pesquisa biomédica e para testar artigos de limpeza e cosméticos.

As mudanças são incontáveis e quase diárias mundo afora: de fabricantes de cosméticos que anunciam que não vão mais testar seus produtos em coelhos a governos que aprovam leis mais restritivas aos testes. No final do ano passado, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países desenvolvidos, anunciou sua intenção de abolir o DL50, um teste de toxicidade em que 20 ratos recebem doses crescentes da substância testada até dez deles morrerem. A decisão significa que produtos testados com o DL50 serão barrados nesses países. Em tempo: as alternativas para o DL50 usam, no máximo, nove animais. Ou seja: o sacrifício animal diminui, mas continua existindo.

Segundo Alan Goldberg, diretor do Centro de Alternativas para Testes em Animais da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, tido como uma autoridade no assunto, “desde 1976 o uso de animais usados em pesquisa biomédica caiu 15% no mundo todo”. Ainda assim, estima-se que a ciência sacrifique 40 milhões de animais no mundo por ano.

Para muita gente, no entanto, a redução está longe de resolver a questão. O problema é: podemos utilizar os animais para pesquisa? Os grupos de proteção dos direitos dos animais vêem na pesquisa com cobaias, conhecida como vivissecção – que significa “cortar vivo” –, dois enormes calcanhares-de-aquiles: o primeiro é que os testes seriam inúteis. Depois, mesmo que eles fossem úteis ou, mais que isso, vitais, ainda assim não teríamos o direito de fazê-los.

O principal argumento antivivissecção, que prega sua absoluta inutilidade, está expresso nas palavras do médico inglês Robert Sharpe, autor de Science on Trial (Ciência em julgamento, inédito no Brasil): “Homens e animais têm organismos e reações bioquímicas diferentes. Se um estudo com hamsters achar a cura do câncer, ela servirá só para curar o câncer em hamsters”. O efeito carcinogênico do cigarro é um caso clássico. Embora amplamente atestada por estudos epidemiológicos, a ligação entre câncer e tabaco seguiu sob suspeita por vários anos porque a doença não pôde ser reproduzida em animais. Por muito tempo, a indústria tabagista aproveitou o fato para negar o teor tóxico do seu produto.

“O uso de animais em laboratório é um recurso retórico. Usando diferentes espécies em projetos diferentes, os pesquisadores podem encontrar evidências que sustentam qualquer teoria”, diz Neal Barnard, presidente do Comitê Médico por uma Medicina Responsável, dos Estados Unidos. “No caso do cigarro, tanto as provas de que o tabaco é cancerígeno quanto as que asseguram sua inocência usaram animais como base.”

A crítica à suposta inutilidade dos testes em animais se estende às pesquisas de novas drogas. Apesar do enorme número de cobaias sacrificadas para testar a eficácia e os efeitos colaterais de novas substâncias, 95% dos fármacos aprovados em animais acabam descartados nos testes em voluntários humanos e não chegam ao mercado. Uma revisão realizada pelo governo americano nas drogas lançadas entre 1976 e 1985 revelou que 51,5% delas ofereciam riscos não previstos nos testes.

Vale também o raciocínio inverso: ao testar substâncias em animais, os cientistas poderiam descartar drogas promissoras para humanos só porque elas causaram mal a ratos ou porcos. A aspirina, por exemplo, causa deformidades nas crias de roedores, cães, gatos e macacos, embora para nós seja segura. Já a penicilina é fatal para o porquinho-da-índia.

A tese que valida a vivissecção surgiu no século XIX, quando o médico francês Claude Bernard começou a teorizar sobre a lógica científica do uso de cobaias. Ele defendia que todo conhecimento obtido em animais era válido para humanos. Hoje, poucos cientistas, mesmo os que se utilizam de vivissecção, sustentariam sua tese nua e crua. Mas a maioria crê que as diferenças entre humanos e não-humanos são superáveis. “Animais e homens são mais semelhantes que diferentes”, diz Marco Aurélio Amorim, coordenador da comissão de ética no uso de animais em laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Maria Helena Catelli de Carvalho, professora do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, concorda: “O projeto genoma mostrou que somos muito parecidos com ratos e camundongos”. E Alan Goldberg, do Johns Hopkins, completa: “Diferimos nos detalhes, mas somos parecidos o suficiente com animais para permitir paralelos.

Tomemos o caso da insulina, responsável por controlar o nível de açúcar no sangue. Ela cumpre essa função em várias espécies, além do homem”. Goldberg continua: “Em um animal, a insulina pode ser levemente diferente da insulina humana, mas é a mesma substância e tem as mesmas propriedades”.

O segundo round dessa disputa, ainda sobre a utilidade da vivissecção, diz respeito às conquistas da pesquisa biomédica, como vacinas e antibióticos. De acordo com a organização americana Fundação para a Pesquisa Médica, a evolução da expectativa de vida, que saltou de 47 anos, em 1900, para 75 anos, em 1985, nos Estados Unidos, deve-se a pesquisas com animais. Ou seja, os milhões de animais sacrificados salvaram milhões de vidas humanas. “O médico inglês William Harvey não teria feito suas famosas descobertas sobre a circulação do sangue em 1628 se não fosse por suas experiências com cervos ”, escreve Deborah Rudacille em seu livro The Scalpel and the Butterfly (O bisturi e a borboleta, inédito no Brasil), sobre a história da vivissecção. E novas descobertas ocorrem a cada dia. Em Boston, vítimas de derrame recuperaram-se graças a injeções de células de feto de porco.

Os antivivisseccionistas acham esses resultados insuficientes para justificar o sacrifício de milhões de animais. Primeiro, eles duvidam do papel de vacinas, antibióticos e hipertensivos na evolução da saúde humana. Além disso, sustentam que a medicina tem muito menos bala na agulha para combater as doenças do que seus propagandistas querem fazer crer. Ou seja: os benefícios humanos, se existem, não compensam os custos animais.

Estudos realizados na Europa e nos Estados Unidos indicam que 90% dos fatores que determinariam a longevidade de uma pessoa devem-se ao estilo de vida, ao meio ambiente e à hereditariedade. Só 10% dependeriam da assistência médica (leia mais sobre isso em “A medicina doente”, capa da edição de maio da SUPER). Mas órgãos do governo americano que financiam pesquisas gastam em estudos com animais – ou seja, voltadas para o modelo biomédico – o dobro do que despendem em pesquisas em humanos.

Nessa guerra de argumentos, os antivivisseccionistas marcaram pontos importantes. Com publicidade agressiva, divulgaram imagens dos bichos estripados e atingiram a comunidade científica. Pesquisa realizada nos Estados Unidos por Scott Plous, da Wesleyan University, Connecticut, revelou que psicólogos graduados nos anos 90 têm metade da disposição em apoiar pesquisa com animais do que os titulados nos anos 70. Empresas com nomes associados à crueldade aboliram o teste de animais, temendo boicote dos consumidores. Muitas delas, após porem fim ao uso de cobaias, aproveitaram o fato como arma de marketing e adotaram um selo em seus produtos indicando que aboliram a vivissecção.

A mudança no mundo da ciência e das empresas acabou forjando um novo modelo para testes, hoje prevalente, que reconhece o sofrimento dos animais e se propõe a substituí-los por técnicas alternativas. Mas há ressalvas. Nos casos em que o bicho for considerado imprescindível, o máximo de alinhamento ético por parte dos cientistas é reduzir ao mínimo possível o sofrimento e a quantidade de cobaias.

Na esteira do novo modelo experimental, os métodos alternativos multiplicaram-se. Há hoje desde pele artificial a simulações de computador (leia quadro com exemplos nesta página). As ONGs que defendem o direito dos animais à vida sustentam que esses métodos podem substituir rigorosamente todos os testes com bichos.

A vitória dos ativistas, curiosamente, acabou resultando em ganhos de precisão e eficácia para a ciência. A redução do estresse e a padronização das condições do cativeiro reduziram o número de mortes de cobaias. E pesquisas recentes revelaram que barulho, manuseio, higiene e superlotação nos biotérios influenciam diretamente os resultados. “As cobras do Butantã passaram a produzir sete vezes mais veneno e a viver oito anos, em vez de um, depois que a coleta de veneno passou a ser feita com as serpentes anestesiadas”, diz Roberto Sogayar, do Instituto de Biociências da Unesp, em Botucatu, e ex-presidente da Comissão de Ética e Legislação do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal.

Muitos pesquisadores discordam frontalmente. “Os testes in vitro são úteis, mas continuam pobres perto da acurácia que há nos testes em organismos vivos”, diz a professora Zuleica Bruno Fortes, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. “Além disso, certas substâncias só podem ser estudadas em um organismo vivo. Quando o animal morre, elas desaparecem. São procedimentos para os quais a vivissecção é imprescindível.” Sheila Moura, da Sociedade Fala Bicho, acredita que essa resistência esconde um dogma. “Muitos cientistas reconhecem que existem substitutos para os animais, mas ainda assim usam as cobaias por medo de que seu estudo seja questionado por não usar o método tradicional. Essa mentalidade precisa mudar.”

O segundo grande argumento antivivissecção é que não interessa se o uso de animais ajuda ou não a ciência: nós simplesmente não temos o direito de sacrificá-los. “A questão é moral. Se há um dilema em usar animais, então temos de buscar alternativas. Mas, se os usamos sob o argumento de que não há alternativas, então nunca vamos encontrá-las”, diz Rita Leal Paixão, professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal Fluminense, pesquisadora de ética aplicada e bioética da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz. Alguns exemplos corroboram suas palavras. Na Inglaterra, a proibição de usar animais para praticar microcirurgia levou à adoção de técnicas que usam placenta humana. Para o filósofo australiano Peter Singer, autor de Animal Liberation (Liberação dos animais, inédito no Brasil), um clássico sobre o assunto, há, sim, um problema ético em usar qualquer ser capaz de sentir dor.

A classificação dos seres em humanos e não-humanos, para Singer, configura “especismo”, uma discriminação que equivaleria ao racismo. “Há animais cujas vidas, por quaisquer critérios, são mais valiosos que as vidas de alguns seres humanos. Um chimpanzé ou um porco tem um grau mais alto de autoconsciência e uma maior capacidade de relações significativas do que uma criança com uma doença mental séria”, diz Singer. Ou seja: quem admite cortar um macaco em nome da ciência teria que admitir também cortar uma criança com paralisia cerebral, por exemplo. “Um dia, a experimentação animal será considerada tão absurda como hoje nos é a idéia do holocausto, da escravidão, da inquisição”, diz Sheila Moura, da Sociedade Fala Bicho. É ver para crer.