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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Os animais tem alma? - H. P. Blavatsky, de 1886 (parte II)

Os animais tem alma? 

De H. P. Blavatsky 
 
Texto integrante de Collected Writings, 
escritos de janeiro a março de 1886 
(Parte II - final) 

Continuamos do ponto em que paramos em nossa postagem imediatamente anterior a essa. Ou seja, a partir da seguinte citação e parágrafo:  


“Que quimera é o homem! Que caos confuso, que matéria de contradição! Um pretenso juiz de todas as coisas, e ainda um frágil verme na terra! O grande depositário e guardião da verdade, e ainda acrescenta um mero amontoado de incertezas ! a glória e o escândalo do universo!” (Pascal) 

Nós agora prosseguiremos analisando quais são as visões da Igreja cristã quanto à natureza da alma no animal, para examinar como ela reconcilia a discrepância entre a ressurreição do animal morto e a afirmação de que a sua alma morre com ele, assim como comentaremos alguns milagres em conexão com os animais.

Antes que o golpe decisivo seja dado à doutrina egoísta, que tem-se tornado tão cheia de práticas cruéis e sem misericórdia contra o pobre mundo animal, o leitor deve ter conhecimento das antigas hesitações dos Pais mesmos da idade patrística, para com a interpretação correta do que foi falado com referência a esta questão por São Paulo. 

É divertido notar como o Karma de dois dos mais infatigáveis defensores da Igreja Latina  __ Srs. Des. Mousseaux e De Mirville, em cujos trabalhos o registro dos poucos milagres aqui mencionados são achados__ conduziu a ambos a fornecer as armas agora usadas contra suas próprias visões sinceras mas muito erradas. 5 



A grande batalha do futuro tem que ser lutada entre “ Criacionistas” ou Cristãos, como todos os crentes de uma criação especial e de um deus pessoal, e os “Evolucionistas” ou os Hindus, Budistas, todos os livres pensadores e por último, mas não menos, a maioria dos homens de ciência,

Uma recapitulação de seus respectivos posicionamentos é aconselhável. 
O mundo cristão postula o seu direito sobre o mundo animal: 
(a) no textos Bíblicos antes citados e nas interpretações escolásticas de depois; 
(b) na ausência assumida de algo como uma alma divina nos animais. 
O homem sobrevive à morte, os animais não. 

Os Evolucionistas Orientais, baseando suas deduções em seus grandes sistemas filosóficos , mantêm que é um pecado contra o trabalho e o progresso da natureza matar qualquer ser vivo __ por razões dadas nas páginas anteriores [postagem anterior feita aqui no blog]. 

Os Evolucionistas Ocidentais , armados com as mais recentes descobertas da ciência, não dão atenção nem aos Cristãos nem aos pagãos.
Alguns homens de ciência acreditam em evolução, outros não. 
Entretanto  ele concordam em um ponto: nomeadamente, a de que a pesquisa física exata não oferece nenhuma base ao pressuposto de que o homem é dotado de uma alma divina e imortal mais do que seu cachorro. 

Portanto, enquanto os Evolucionistas Asiáticos comportam-se em relação aos animais __ consistentemente com suas visões religiosas e científicas __ nem a Igreja nem a escola material da Ciência é lógica na aplicação de suas respectivas teorias. 
A mais antiga, a Igreja, ensinando que cada criatura é criada singularmente e especialmente por Deus, como um bebê humano pode ser, e que ele acha-se do berço à morte sob o cuidado vigilante de uma Providência bondosa e sábia, enquanto permite à "criatura inferior" ao mesmo tempo, apenas uma alma temporária. 
A Ciência, vendo o homem e o animal como uma produção sem alma de forças da natureza até agora não descobertas , ainda cria um abismo entre os dois. 



Um cientista, o mais determinado materialista, alguém que procede à dissecação do animal vivo com extrema frieza, tremeria ao pensamento de aleijar – sem falar de torturar até a morte – seu camarada homem. 
Nem se acha entre os grandes materialistas que foram homens inclinados à religião, um que tenha-se mostrado consistente e lógico ao definir o status moral verdadeiro do animal na Terra e dos direitos do homem sobre ela. 
Alguns exemplos devem agora ser trazidos para provarem as responsabilidades estabelecidas. 
Apelando às mentes sérias e cultas pode ser postulado que as visões das várias autoridades aqui citadas não são desconhecidas do leitor. Portanto, simplesmente satisfará dar pequenas epítones de algumas das conclusões a que chegaram, começando com os Homens da Igreja. 
Como já citado, homens rigorosos da Igreja acreditam nos milagres realizados por seus grandes Santos. Entre os vários prodígios realizados , nós escolheremos para o presente (ensaio) só aqueles que tenham a ver com o assunto – nominadamente, as ressurreições miraculosas de animais mortos. 

Agora, alguém que credita o homem com uma alma imortal independente do corpo que anima pode facilmente acreditar que por algum milagre divino a alma pode ser chamada de volta e forçada abaixo ao tabernáculo que deserta, aparentemente para sempre. 

Mas como pode alguém aceitar a mesma possibilidade no animal, desde que sua fé o ensina que o animal não tem alma independente , desde que é aniquilada com o corpo? 

Por mais de 200 anos, desde São Tomás de Aquino [ o que há de mais trevoso na teologia cristã] , a Igreja tem ensinado autoritariamente que a alma animal morre com o seu organismo. 
O que então é chamado de volta à argila para reanimá-la? 
É nesta conexão que o escolasticismo pisa e  __ tomando a dificuldade nas mãos – tenta reconciliar o irreconciliável. 
Dá as premissas ao dizer que os milagres da ressurreição de animais são inúmeros e tão bem autenticados como “ a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo”.6 
Os Bolandistas dão exemplos sem ( indicar) números. 
Como o padre Burigny , um biógrafo dos santos do  século XVII prazerosamente ridulariza as aves ( abetardas) ressuscitadas por Saint Remi :

“- Podem me dizer, sem dúvida, que sou eu mesmo um ganso ao dar créditos a estas lendas do pássaro azul.”
Eu responderei ao piadista , em tal caso, dizendo que, se ele contesta este ponto, deveria também retirar da vida de São Isidoro da Espanha a afirmação de que ele ressuscitou o cavalo de seu senhor; 
Da biografia de São Nicolau de Tolentino – de que ele trouxe de volta à vida uma perdiz, ao invés de comê-la; 
Da de São Francisco de Assis – que ele recobrou dos carvões em brasa do fogão, onde estava sendo cozido, o corpo de uma ovelha que mais tarde ressuscitou; e que ele fez peixes cozidos, que ressuscitou, nadarem no seu molho; etc., etc. 

Acima de tudo ele, o cético, vai ter que acusar mais do que 100.000 testemunhas oculares __ entre as quais pelo a umas poucas deveria ser permitido um senso comum  __ como sendo mentirosos ou tapeados. 

Uma ainda maior autoridade do que o Padre Burigny, o Papa Benedito XIV, corrobora e afirma a evidência acima. Os nomes, além disso, como testemunhas das ressurreições de São Silvestre, Francisco de Paula, Severino da Cracóvia e um punhado de outros são mencionados nos Bolandistas. 
“ Ele só acrescenta” __ diz o Cardeal Ventura que o cita  __“ que, como ressurreição entretanto, para merecer o nome, requer a reprodução idêntica e numérica da forma", 7 bem como o material da criatura morta; e como esta forma (ou alma) do animal é sempre aniquilada com o seu corpo de acordo com a doutrina de São Tomás de Aquino, Deus em cada tal caso vê-se ele mesmo obrigado a criar para o propósito de um milagre, uma nova forma para o animal ressuscitado, do que sucede que o bruto ressuscitado não era completamente idêntico ao que fora antes de sua morte (nom idem omnino esse). 8 

Agora isto parece terrivelmente com um dos maias da magia . 

Entretanto, embora a dificuldade não seja absolutamente explicada,  fica claro o seguinte: o princípio que animava o animal durante a sua vida, e que seria uma alma terminada , estando morto ou ou dissipado depois da morte do corpo, uma nova alma – “ um tipo de alma informal” __ como o Papa e o Cardeal nos informam __ é criada para o propósito do milagre de Deus; uma alma, além do mais, que seria distinta da do homem, este último “ uma entidade independente, etérea e imortal.” 

Além da objeção natural com relação a ser procedente chamar isto de um “milagre” produzido pelo santo, pois ele é, neste caso,  simplesmente Deus por trás de suas costas , que “cria” para o propósito de sua glorificação uma alma inteiramente nova bem como um novo corpo, a integridade da doutrina Tomasiana é aberta à objeção. 

Como Descartes muito racionalmente destaca: 

Se a alma do animal é tão distinta  (em sua imaterialidade) do seu corpo, nós acreditamos que  dificilmente possamos evitar o reconhecê-la como um princípio espiritual, consequentemente, inteligente.” 

O leitor quase não precisa ser lembrado que Descartes sustentava que o animal era um simples autômato, “o trabalho de um relógio muito bem ajustado" , de acordo com Malebranche. 
Portanto aquele que  adota a teoria Cartesiana sobre o animal deveria também aceitar de imediato as visões dos modernos materialistas. Isto porque, desde que o autômato é capaz de sentimentos tais como amor, gratidão, etc.__ e é dotado de memória sem possibilidade de negação __ tais atributos todos devem ser , como os materialistas nos ensinam, “propriedades da matéria.” 

Mas se o animal é um “autômato”, por que não o homem? 

A Ciência exata  __anatomia, fisiologia, etc. __ não acha a menor diferença entre os corpos dos dois.
E quem sabe, como justamente inquire Salomão  __ se o espírito do homem “ sobe” mais do que o da besta? 
Portanto, achamos o Descartes metafísico tão inconsistente quanto qualquer um. 
Mas o que São Tomás diz a isto? 
Concedendo uma alma ao animal (anima) e declarando-a imaterial, ele recusa ao mesmo tempo a sua qualificação como espiritual. 
Porque diz: 

“ em tal caso implicaria inteligência, uma virtude e uma operação especial reservada só para a alma humana”   (Tomas de Aquino)
 [me perdoem, mas é muito difícil não registrar minha indignação com tanta arrogância e presunção]

Mas como no 4o. Concílio de Latrão foi decidido que “ Deus tinha criado duas substâncias distinta , a corporal ( mundanam ) e a espiritual ( spiritualem) __ bem como que algo incorpóreo deve ser por necessidade, espiritual  __ São Tomás teve que resumir-se a uma espécie de "solução de compromisso". Que só pode-se tentar evitar chamar de subterfúgio apenas quando executado por um santo.... 
Ele diz: 
“ a alma do animal não é nem espírito, nem corpo, é de uma natureza intermediária.” 
Esta é uma afirmativa desafortunada. 
Por toda parte adiante, São Tomás diz que “ todas as almas  __ mesmo aquelas das plantas – têm a forma substancial dos seus corpos”  __ e se isso for verdade para as plantas, por que não para com os animais?

Não é certamente nem “espírito”, nem matéria pura, mas de uma essência que São Tomás chama de “natureza mediana”.9 
Mas por que, uma vez no caminho certo, negar-lhe sobrevivência  __ deixar sozinha a imortalidade? 
A contradição é tão flagrante que de Mirville em desespero exclama: 
“ Aqui estamos na presença de três substâncias, em vez de duas, como decreto do concílio Latrano!” e prossegue adiante para contradizer , tanto quanto ele ousa, o “ Doutor Angélico”. 

O grande Bousset em seu “ Tratado do Conhecimento de Deus e dele mesmo” analisa e compara o sistema de Descartes com o de São Tomás. Ninguém pode achar falta nele por dar preferência em matéria da lógica a Descartes. 
Ele acha a “invenção “ Cartesiana –__aquela do autômato __ como “saindo-se melhor da dificuldade” do que aquela de São Tomás de Aquino,  integralmente aceita pela Igreja Católica. (Pelo que o Padre Ventura sente-se indignado contra Bossuet, por aceitar “ um erro tão miserável e pueril” [o de Descartes].) 

E embora permitindo aos animais uma alma com todas as suas qualidades de afeição e sentido, leal para com seu mestre São Tomás, Ventura também recusa reconhecer neles a inteligência e poderes de razão.
" Bossuet” ele diz, “ é que deve ser mais culpado , visto que ele mesmo disse: “ Eu prevejo que uma grande guerra está sendo preparada contra a Igreja sob o nome de filosofia Cartesiana”. 

Ele está certo aqui, pois como consequência da “ matéria senciente “ do cérebro do animal resultou bem naturalmente a matéria pensante de Locke, e como consequência desta última, todas as escolas materialistas do nosso século. 
Mas quando Ventura falha é apoiando a doutrina de são Tomás, cheia de falhas e contradições evidentes. 



Pois a alma do animal é, como a Igreja Romana ensina, um princípio informal, imaterial, então torna -se evidente que, sendo independente do organismo físico, ela não pode “morrer com o animal” mais do que no caso do homem. 
Se nós admitimos que ela subsiste e sobrevive, em que respeito difere da alma do homem? 
E que ela é eterna – uma vez que nós aceitemos a autoridade de São Tomás em qualquer assunto – embora ele se contradiga por toda a parte.

” A alma do homem é imortal e a alma do animal morre”, ele diz ( Summa, vol. V pg 164), – isto , depois de ter questionado no vol. II do mesmo grande trabalho ( pg. 256)- “ existem seres que reerguem-se do nada?” Ao que ele mesmo respondeu – “ Não , porque no Eclesiastes é dito : (iii 14 – Qualquer coisa que Deus faça, será para sempre “. Com Deus não há variáveis ( Tiago , 1.17) 
“ Portanto” , continua São Tomás, “ nem na ordem natural das coisas, nem por meio de milagres, há qualquer criatura que reerga do nada (seja aniquilada);  não há nada na criatura que seja aniquilada, pois aquilo que mostra com o maior esplendor a bondade divina é a perpétua conservação das criaturas".10 
[Vêem como esta criatura não diz coisa com coisa? Diz o que quer, quando quer, para tentar justificar o que quer que diga naquele momento, não importa quantas vezes desminta a si mesmo?]

Esta frase é comentada e confirmada na anotação pelo Abade Drioux, seu tradutor. 
“ Não” , ele comenta – “ nada é aniquilado; é um princípio que tornou-se uma espécie de axioma com a ciência moderna” 
E se assim é, por que deveria haver uma exceção feita a esta regra invariável na natureza , reconhecida por ambas, a ciência e a teologia – só no caso da alma animal? 

Mesmo ainda que não tivesse inteligência, uma afirmativa da qual todo pensador imparcial sempre muito fortemente objetará. 



Vejamos entretanto , mudando da filosofia escolástica para as ciências naturais, quais são as objeções do naturalista quanto ao animal ter uma alma inteligente e portanto, uma alma independente nele e dele mesmo. 


Seja o que for, o que pensa, que entende, que age, é necessariamente algo celestial e divino; e levando-se isto em consideração, deve ser eterno “, escreveu Cícero, quase dois milênios atrás . 

Realmente, quando tais tremendas alegações ditas como milagres são apresentadas e impostas aos fiéis pela Igreja, seus teólogos deveriam tomar mais cuidado do que suas mais altas autoridades; pelo menos não deveriam contradizer-se,  demostrando assim sua ignorância sobre questões todavia levantadas para uma doutrina. 

O animal é então, privado de progresso e imortalidade porque ele é um autômato. 
De acordo com Descartes, ele não tem inteligência, o que é satisfatório para o escolasticismo medieval; nada além de instinto, o último significando impulsos involuntários, como afirmado pelos materialistas e negado pela Igreja. 

Frederico e George Cuvier discutiram amplamente  a inteligência e os instintos animais.12
Suas idéias sobre o assunto foram reunidas e editadas por Flourens, o secretário erudito da Academia de Ciências. 
Isto é o que Frederico Cuvier , por 30 anos Diretor do Departamento Zoológico do Museu Natural de História do Jardin des Plantes, Paris, escreveu sobre o assunto: 

“ O erro de Descartes, ou mais exatamente, o erro geral, está em que nenhuma distinção suficiente foi algum dia feita entre inteligência e instinto". 

Buffon , ele mesmo, caiu em tal omissão e , devido a isso tudo, tudo na sua Filosofia zoológica é contraditório. Reconhecendo no animal um sentimento superior ao nosso próprio, bem como a consciência de sua real existência, negou-lhe ao mesmo tempo pensamento, reflexão e memória, consequentemente qualquer possibilidade de ter pensamentos ( Buffon, Discourse on the Nature of Animals; VII, pg. 57). 

Ele próprio admitiu que o bruto tinha uma espécie de memória, ativa, extensiva e mais confiável do que nossa memória ( humana) (Id. Ibid. ,pg 77).
Então, depois de ter-lhe recusado alguma inteligência, ao mesmo tempo em que admitia que o animal “ "consultava o seu dono, o interrogava, e compreendia perfeitamente qualquer sinal da sua vontade”. (Id. Ibid. vol. X – História do Cachorro , pg 2) 

Uma série ainda mais estarrecedora de afirmações contraditórias dificilmente poderiam ser  esperadas de um grande cientista.
O ilustre Cuvier está certo portanto em advertir por seu turno, que “ este novo mecanismo de Buffon é ainda menos inteligível do que o autômato de Descartes.”13 
Como observado pelo crítico, uma linha de demarcação deveria ser traçada entre instinto e inteligência. 
A construção de colméias pelas abelhas , o levantamento de diques pelo castor no meio do piso seco do naturalista tanto quanto no rio, são todos atos e efeitos dos instintos imodificáveis para sempre e imitáveis. Enquanto que os atos da inteligência são para ser descobertos em ações evidentemente pensadas e escolhidas pelo animal , onde não o instinto, mas a razão entra em ação, tal como sua educação, e o treinamento provoca e converte em suscetível de perfeição e desenvolvimento. 

O homem é dotado com a razão, a criança com o instinto; e o jovem animal mostra mais de ambos do que uma criança. 




Na verdade, cada um dos contendores sabe tão bem quanto nós que é assim. 
Se qualquer materialista evita confessá-lo , é através do orgulho. 
Recusando uma alma a ambos, o homem e a besta, ele é relutante em admitir que o último é dotado de inteligência tal como também ele mesmo, ainda que em um grau infinitamente inferior. 

Por seu turno, o homem da igreja, o naturalista religiosamente inclinado, o metafísico moderno, acovarda-se ao admitir que o homem e o animal são ambos dotados com alma e faculdades, se não iguais em desenvolvimento e perfeição, ao menos as mesmas em nome e essência. 

Cada um deles sabe ou deveria saber que o instinto e a inteligência são duas faculdades completamente opostas em sua natureza, dois inimigos enfrentando-se em constante conflito. E mais: se eles não admitirem duas almas ou dois princípios, eles têm que reconhecer a qualquer preço , a presença de duas potências na alma , cada uma tendo o seu lugar no cérebro, a localização de qualquer uma das quais bem conhecida deles; visto que podem isolá-las e temporariamente destruí-las por um turno – de acordo com o órgão ou parte dos órgãos que eles estejam torturando durante as suas terríveis vivissecções. 

O que é senão orgulho humano o que levou o Papa a dizer: 
Perguntem para qual finalidade os corpos celestes brilham; A Terra, para que uso? 
O orgulho responde , É para mim. 
Para mim a natureza acorda seu poder genial,
 suga cada erva, e expande todas as flores. *** * 
Para mim, a mina traz milhares de tesouros;

Para mim, a saúde jorra de milhares de fontes;

Os mares rolam para levar-me, sóis para iluminar a minha ascensão 
Meu escabelo a terra, meu dossel os céus ! 
[SOCORRO!!!!]

E é o mesmo orgulho inconsciente que fez com que Buffon emitisse seus comentários paradoxais com referência à diferença entre o homem e o animal. 
Essa diferença, segundo ele, consistia na “ ausência de reflexão, porque o animal não sente o que ele sente.” Como pode Buffon saber? 
“ Ele não pensa que pensa” , ele acrescenta, depois de ter dito à platéia que o animal recordava-se, frequentemente deliberava, comparava e escolhia! 14 

Quem alguma vez pretendeu que uma vaca ou um cachorro pudesse ser um ideólogo? 

Mas o animal pode pensar e sabe que pensa, mais agudamente do que não poder dizer e expressar seus pensamentos. 
Como pode Buffon ou qualquer outro mais saber ? 
Uma coisa é claramente mostrada pelas observações exatas dos naturalista: o fato de que o animal é dotado com inteligência. E, uma vez que isto está estabelecido; nós temos apenas que repetir a definição de inteligência de Tomás de Aquino __ a prerrogativa da alma imortal do homem – __para ver que o mesmo é devido ao animal. 

Mas em justiça à real filosofia cristã, nós somos capazes de mostrar que o Cristianismo primitivo nunca pregou tais doutrinas atrozes  __a causa verdadeira da debandada de muitos dos melhores homens e dos intelectos mais altos dos ensinamentos do Cristo e de seus discípulos. III 

                                                            Ó Filosofia, és guia para a vida e o descobridor da virtude.                               
                                                                                                               (Cícero)

                                                                   A Filosofia é uma profissão modesta, é toda realidade 
                                                                   e conduta clara ; eu odeio solenidade e pretensão, 
                                                                   com nada a não ser orgulho ao fundo. (Plínio)

O destino do homem  __do mais brutal, também o do animal, bem como o do santo  __sendo imortalidade, de acordo com o ensinamento teológico:  qual é o destino futuro das incontáveis hostes do meio animal ? 

Nós somos informados por vários escritores católicos __Cardeal Ventura, Conde de Maistre e outros  __ que ” a alma do animal é uma Força.” 
“ É bem comprovado que a alma do animal”, diz o eco deles, de Mirville – “ foi produzida pela terra, pois isto é Bíblico. Toda a vida e almas moventes  nephesh ou princípio da vida ) vêm da terra; mas deixe-me ser compreendido, não apenas do pó __ do qual não somente o corpo deles mas também o nosso são feitos __ mas do poder ou potência da terra; isto é, de sua força imaterial, como são todas as forças… aquela do mar, do ar etc. de que são todos aqueles Princípios Elementais (principautés elementaires) dos quais nós já falamos em outro lugar.” (15) 

O que o Marquês De Mirville entende pelo termo é que todo “ Elemento” na natureza é um domínio cheio de e governado pelos seus respectivos espíritos invisíveis. 

Os Cabalistas Ocidentais e os Rosacrucianos os chamam de Sílfides, Ondinas , Salamandras e Gnomo. 
Os místicos Cristãos, como De Mirville,  dão a eles nomes hebraicos e os classificam entre os vários tipos de Demônios sob o desvio de Satan, com a permissão de Deus, é claro. 
Ele também se rebela contra a decisão de São Tomás,  segundo quem, como vimos, a alma animal seria  destruída junto com o corpo: 

“ É uma força”, ele diz – "que nós somos chamados a aniquilar, a força mais substancial da terra, chamada alma animal, “ alma esta que, de acordo com o Reverendo Ventura , é (16) ”a alma mais respeitável depois da do homem.” 



Ele a chamou de força imaterial, e agora é nomeada por ele “a coisa mais substancial na terra.”(17) 
Mas o que é esta força? 
George Cuvier e Flourens, o acadêmico, nos contam o seu segredo.


Escreve Flourens: “ A forma ou a força dos corpos ”  __ forma significando alma neste caso__  “ é muito de longe a mais essencial a eles do que a matéria é;  a última muda constantemente, enquanto a forma prevalece eternamente" (sem ser destruída na sua essência)

 A isto Flourens acrescenta : “em tudo o que tem vida, a forma é mais persistente do que a matéria ; pois aquilo que constitui o Ser do corpo vivo, sua identidade e sua semelhança, é a sua forma. (18 )
“Ser” se referindo, como De Mirville observa por seu turno, a “ um princípio magistral, um penhor da nossa imortalidade,” (19) 
Deve ser concluído que a alma __ humana e animal __ é entendida sob este termo enganador. 
É bem o que chamamos a VIDA UNA, eu suspeito. 



Seja como for, as filosofias, ambas a profana e a religiosa, corroboram a afirmativa de que as duas almas são idênticas no homem e no animal. 
Leibnitz , o filósofo amado por Bossuet,  pareceu acreditar, em certa medida,  na “ Ressurreição Animal “. Sendo a morte para ele simplesmente o rompimento do “ invólucro temporário da personalidade “, ele a compara à preservação das idéias no sono ou à borboleta no seu casulo. 
“ Para ele” , diz De Mirville, ”a  ressurreição é uma lei geral na natureza, tornada um grande milagre quando executada por um taumaturgista, só em virtude de sua prematuridade, das circunstâncias do ambiente, e do modo na qual opera.”(20) 
Nisto, Leibnitz é um verdadeiro ocultista,  sem sequer suspeitá-lo.
O crescimento e a floração de uma planta em cinco minutos em vez de em dias e semanas, a germinação forçada e o desenvolvimento da planta, animal ou homem, são fatos preservados nos registros dos ocultistas. São apenas milagres aparentes __ meras forças produtivas naturais aceleradas e mil vezes intensificadas pelas condições induzidas sob leis ocultas conhecidas pelo Iniciado. 

O crescimento rápido anormal é efetuado pelas forças da natureza, sejam cegas ou ligadas a inteligências menores submetidas ao poder oculto do homem, sendo trazidas a suportar coletivamente o desenvolvimento da coisa a ser suscitada de seus elementos caóticos. 
Mas por que chamar um de milagre divino, e o outro de subterfúgio satânico ou proeza fraudulenta? 

Ainda como um  verdadeiro filósofo, Leibnitz vê-se forçado  __ mesmo nesta perigosa questão da ressurreição e da morte __ a incluí-la no todo do reino animal em sua grande síntese, e levanta para dizer :

 “ Eu acredito que as almas dos animais são indestrutíveis … e eu acho que nada é melhor ajustado para provar nossa própria natureza imortal.”(21) 

Em 1748, em apoio a  Leibnitz, Dean, o Vigário de Middleton, publicou dois pequenos volumes sobre o assunto. 
Para resumir suas idéias, ele diz que “as escrituras sagradas insinuam em várias passagens que os brutos viverão uma vida futura. A doutrina foi sustentada por vários Pais da Igreja . A razão ensinando –nos que os animais têm alma , ensina-nos ao mesmo tempo que eles existirão em um estado futuro. O sistema dos que acreditam que Deus aniquila a alma do animal não é apoiada em lugar nenhum, e não há fundamento sólido nele.”, etc.. (22)

Muitos cientistas do século passado defenderam a hipótese de Dean, declarando-a extremamente provável. Um deles especialmente, o culto teólogo Protestante Charles Bonnet, de Genebra.
Ainda agora [este  texto é de 1886], este teólogo foi o autor de um trabalho extremamente curioso,  chamado por ele de Palingenésia  (23) ou “ O Novo Nascimento”.
Segundo Charles Bonnet  este "novo nascimento" acontece, como ele procura provar, devido ao que denomina de um germe invisível que existe em todo mundo. Tal como Leibnitz , ele entende que os animais não estariam excluídos deste sistema de germinação [renascimento] Sistema, escreve, implica em  “ uma coleção de leis.”  universais, (24), o que necessariamente inclui os animais. 



Os animais”, ele escreve “ são livros admiráveis , nos quais o criador reuniu as mais notáveis características da sua inteligência soberana"

"O anatomista tem que estudá-los com respeito e, no mínimo, com o sentimento de delicadeza e razão que caracteriza o homem de moral. 
Ele não imaginará nunca, enquanto está virando as páginas, que está manipulando ardósia ou quebrando seixos. 
Ele jamais esquecerá de que tudo o que vive e sente está habilitado à sua misericórdia e piedade. 
O homem correria o risco de comprometer seu sentimento ético fosse ele tornar-se familiarizado com e sofrimento e o sangue dos animais. 
A verdade é tão evidente que os governos não deveriam nunca perdê-la de vista… quanto à hipótese de automatismo, eu me sentiria inclinado a considerá-la como uma heresia filosófica , muito perigosa para a sociedade, se não violasse tão fortemente o bom senso e o sentimento ao ponto de tornar-se inofensiva, pois não pode jamais ser adotada genericamente.” (Charles Bonnet)

 “ Quanto ao destino do animal, se minha hipótese for correta, a Providência guarda em reserva para eles as maiores compensações em futuros estados…(25) 
"E,  para mim, sua ressurreição é a conseqüência daquela alma ou forma que somos obrigados a conceder-lhes, pois a alma sendo simples substância, não pode ser dividida nem decomposta, nem ainda ser aniquilada. Não se pode escapar a tal dedução sem cair de volta no automatismo de Descartes; e então do automatismo animal se chegaria logo e forçosamente, ao do homem.”… 

Nossa moderna escola de biólogos chegou à teoria do “ homem autômato”, mas seus discípulos podem ser largados aos seus estratagemas e conclusões. 
Aquela concepção com a qual estou presentemente comprometida __ e que se consititui  na prova final absoluta de que nem a Bíblia, nem o que seus intérpretes mais filosóficos sempre quiseram negar , com uma autoridade bíblica __ :  é a existência uma alma imortal para qualquer animal, mais até do que tenham achado nela evidência conclusiva para a existência de tal alma no homem .



 Velho Testamento. 
Alguém só tem que ler certos versos em Job e no Eclesiastes ( iii.17 et seq. 22) para chegar a esta mesma conclusão. A verdade da questão é que o futuro estado de nenhum dos dois __ homem ou animal __ está referido neste lugar, nem por uma simples palavra. 
Mas por outro lado, se só se encontra evidências negativas no Velho Testamento no que concerne a alma imortal em um animal, já  no Novo Testamento , isto está claramente declarado como daquela mesma do homem.
Para benefício daqueles que ridicularizam o sistema filosófico Hindu   __ e que se comprazem em afirmar seu direito de matar animais ao seu desejo e prazer, negando-lhes uma alma imortal __ uma prova definida e final  será dada agora. 

São Paulo 
Paulo foi mencionado no final da Parte I como o defensor da imortalidade de toda a criação bruta. Afortunadamente, esta afirmação não é uma daquelas que podem ser ridicularizadas pelos Cristãos como estando entre o que chamam de "as interpretações blasfemas e heréticas dos escritos sagrados, por um grupo de ateístas e livres pensadores.” 
Que bom seria se cada uma das palavras sábias do Apóstolo Paulo __ um Iniciado, seja quem for que possa ter sido  __ fossem claramente entendidas naquelas passagens relativas aos animais. 
Pois então, como será mostrado,
- a indestrutibilidade da matéria ensinada pela ciência materialista, 
- a lei da evolução eterna, amargamente negada pela Igreja; 
- a onipresença da VIDA UNA, ou a unidade do ELEMENTO ÚNICO , 
- e sua presença através da totalidade da natureza como pregado pela filosofia esotérica, 
- e o sentido secreto das observações de São Paulo aos Romanos ( viii – 18 – 23), tudo isso seria claramente demonstrado , além de dúvida ou sofisma, ser obviamente uma e a mesma coisa. 

Na verdade, o que mais pode aquele grande personagem histórico, tão evidentemente imbuído da filosofia neo-platônica alexandrina , querer dizer com o seguinte , __que transcrevo com comentários à luz do ocultismo, para dar uma compreensão mais clara do que eu quero dizer ? 

O apóstolo dá a sua premissa ao dizer (Romanos viii ; 16,17) que:
“ o espírito , ele mesmo “ (Paramatma) “ dá testemunho de nosso espírito” (atman) de “ que somos filhos de Deus,” e “ se filhos, então herdeiros “  __ herdeiros, é claro, da eternidade e da indestrutibilidade da essência eterna ou divina em nós. 



Ele prossegue: 
“ Os sofrimentos do tempo presente não são dignos de serem comparados com a glória que será revelada ( v.18).” A “ glória “que nós mantemos, não é “ a Nova Jerusalém” , __a representação simbólica do futuro nas Revelações Cabalísticas de São João  __ mas sim os períodos devachânicos e a série de nascimentos nas raças sucessivas quando, depois de cada nova encarnação, nós nos acharemos mais altos e mais perfeitos , tanto fisicamente quanto espiritualmente.E que quando finalmente nós nos tornaremos realmente 
“ os filhos” e “ os filhos de Deus” na “ última Ressurreição”  __ quer as pessoas o chamem Cristão, Nirvânico ou Parabamânico.
Pois todos são um e o mesmo. Verdadeiramente.

A mais fervorosa expectativa da criatura espera pela manifestação dos filhos de Deus”.(v19) 
Por criatura, entenda-se animal, que é o verdadeiro sentido aqui,  como será mostrado adiante sob a autoridade de São João Crisóstomo. 
Mas quem são os “ filhos de Deus”, por cuja manifestação a criação toda espera? 
São eles os “ filhos de Deus” com quem “ Satan também veio”( ver Livro de Jó) ou os “ Sete anjos das Revelações? 
Refere-se aos cristãos apenas ou aos “ filhos de Deus “ por todo o mundo? (26 )
Tal “manifestação “ é prometida no final de todo Manvântara (27) ou ciclo mundial pelas escrituras de toda grande religião, e, salvo na interpretação esotérica de tudo isso, em nenhum lugar tão claramente quanto nos Vedas. Pois lá é dito que, ao final de cada Manvântara, vem o Pralaya: ou seja, a destruição do mundo.

Apenas uma das delas é conhecida e esperada pelos Cristãos – quando serão deixados os Sishtas ou remanescentes, os sete Rishis e um guerreiro e todas as sementes, para a seguinte onda de vida humana da seguinte Ronda. (28) 
Mas a questão principal com a qual estamos ligadas não é no presente, nem tampouco se a teoria Hindu  ou a Cristã são as mais corretas; mas mostrar que os Brahmins  __ ao ensinar que as sementes de todas as criaturas são deixadas de lado, fora da destruição total periódica e temporária das coisas visíveis, junto com “ os filhos de Deus” ou os Rishis que se manifestarão eles mesmos para a futura humanidade – __dizem,  nem mais nem menos, o que São Paulo pregava ele mesmo. 


Ambos incluem toda a vida animal na esperança de um novo nascimento e renovação em um estado mais perfeito quando toda criatura que agora ‘ espera” se regozijará “ na manifestação dos “ filhos de Deus”. Porque como São Paulo explica:
 “ A criatura mesma (ipsa) também se livrará da escravidão da corrupção“, 
o que quer dizer que a semente ou alma indestrutível do animal , que não alcança o Devachan enquanto em seu estado elementar ou animal, alcançará uma forma mais alta e continuará, junto com o homem, progredindo em estados e formas ainda mais altos, para terminarem __ animal bem com o homem __“ na liberdade gloriosa dos filhos de Deus”. (.21) 
E essa “ liberdade gloriosa “ pode ser atingida somente através da evolução ou do progresso cármico de todas as criaturas. O animal mudo tendo evoluído da planta semi-sensível, é ele mesmo transformado, em estágios sucessivos, em homem , em espírito, em Deus – et seq e ad infinitum

Pois, nos diz São Paulo:
 “ Nós sabemos  __“nós”, os Iniciados __ que toda a criação  (omnis creatura ou criatura, em termos vulgares) geme e sofre as dores (do nascimento da criança) sofrendo até hoje.” (29  v.22) 
Isso está claramente dizendo que o homem e o animal estão em igualdade na terra __tanto quanto ao sofrimento, quanto em seus esforços evolucionários em direção à meta e de acordo com a lei cármica. 

Por “ até agora”, queremos dizer até a Quinta. Raça. 
Para fazê-lo ainda mais claro, o Grande Iniciado cristão explica, dizendo: 
“ Não apenas eles (os animais),  mas nós mesmos também, que temos os primeiros frutos do Espírito, nós gememos por dentro de nós mesmos esperando pelo reconhecimento, para testemunhar a redenção de nosso corpo” ( v.23) . 
Sim, somos nós homens que temos “os primeiros frutos do Espírito”, ou a luz Parabramânica direta, ou Atma  __ ou o sétimo princípio, devido à perfeição do nosso quinto princípio (Manas), que nos parece de fato muito menos desenvolvido no animal.
Em compensação, o carma deles é bem menos pesado do que o nosso. 
Mas esta não é razão para que eles também não alcancem um dia a perfeição que dá ao homem completamente evoluído a forma Dhyanchohânica. 
Nada pode ser mais claro  __ mesmo para um crítico profano não iniciado  __ do que aquelas palavras do grande apóstolo, se as interpretarmos pela luz da filosofia esotérica, seja pela luz do escolasticismo medieval. 



A esperança de redenção, ou de sobrevivência da entidade espiritual, liberta do “cativeiro da corrupção” ou da "série de formas materiais temporárias", é para todas as criaturas viventes, não apenas para o homem. 
Mas dos advogados do ” modelo” dos animais __proverbialmente injusto até com os seus próximos __ não se poderia esperar que dessem consentimento fácil de compartilhar suas expectativas com o seu gado e aves domésticas. 
O famoso comentarista da Bíblia, Cornelius, foi o primeiro a apontar e cobrar de seus antecessores com intenção consciente e deliberada de fazer tudo o que pudessem para evitar a aplicação da palavra criatura às criaturas inferiores deste mundo. 

Nós sabemos porque São Gregório de Nazianzus, Orígenes e Santo Cirilo __ quem, mais provavelmente, recusou-se a ver uma criatura humana em Hipatia * , e lidou com ela como se fosse um animal selvagem, __ insistiram para que a palavra creatura, nos versos acima citados, fosse aplicada pelo apóstolo Paulo  simplesmente aos anjos!  ... [como hoje o atual Papa retirou dos animais a sua condição de "seres com alma"]

Mas, como comenta Cornelius, que apela a São Tomás por corroboração:
“ esta opinião é muito distorcida e violenta ( distorta et violenta); ela é, além disso, invalidada pelo fato de que anjos, como tais, estão já libertos dos liames da corrupção.” 
A sugestão de Santo Agostinho não é mais feliz, __ [muito pelo contrário!] __ pois ele oferece a estranha hipótese de que as “criaturas” de que fala São Paulo teriam sido “ os infiéis e os heréticos” de todas as idades! 

Cornelius contradiz o Tomás de Aquino tão friamente quanto este último se opôs a seus irmãos __ os chamados santos mais antigos. Diz ele:

“ Pois no texto citado às criaturas de que fala o Apóstolo são evidentemente criaturas distintas dos homens;  __não só elas mas nós mesmos também __; e então, aquilo que é significado, não é a libertação do pecado, mas a morte por vir.” (30) 
Mas mesmo o bravo Cornelius finalmente fica assustado pela oposição geral e decide que sob o termo criaturas, São Paulo pode ter querido significar__  como Santo Ambrósio , Santo Hilário e outros insistiram  __ elementos (!!) i.e. , o sol, a lua, as estrelas, a Terra, etc. etc. 
[Não à tôa: estamos falando da época das fogueiras da Inquisição]

Infelizmente para os santos especuladores e escolásticos, e muito afortunadamente para os animais  __ se estes tiveram algum lucro com as polêmicas ...  __eles são regulados por uma autoridade ainda maior do que eles mesmos. 
É São Crisóstomo,  anteriormente aqui mencionado a quem a Igreja Católica Romana, no testemunho dado pelo bispo Proculus , em uma certa época seu secretário, guarda na mais alta veneração. 
De fato, São João Crisóstomo foi  __se tal termo profano  nos nossos dias ) pode ser aplicado a um santo __ – o” médium “ do apóstolo dos Gentios. 
Em seu comentário às Epístolas de São Paulo, São João é tido como diretamente inspirado por Paulo:  em outras palavras, como tendo escrito seus comentários ditados por São Paulo. 
Isto é o que lemos naqueles comentários do 3o. Capítulo da Epístola aos Romanos:
 “ Não devemos lamentar sobre a demora de nossa migração  morte), pois, se como disse o Apóstolo, a criatura __ privada de razão ( mente , não Anima  nem “Alma ) e fala ( nan sic hoec creatura mente et verbo carens ) __ geme e espera, vergonha maior seria se nós mesmos falhássemos ao fazê-lo.”(31)



Desafortunadamente, nós {a humanidade] falhamos ingloriosamente neste desejo por  "migração” para regiões desconhecidas. 
Estudassem as pessoas as escrituras de todas as nações e interpretassem seu significado à luz da filosofia esotérica, e ninguém falharia ao tornar-se, se não ansioso por morrer , pelo menos indiferente à morte. 
Nós devemos então fazer uso aproveitável do tempo que passamos nesta Terra preparando-nos calmamente em cada encarnação, para a próxima, acumulando bom carma. 
Mas o homem é um sofista por natureza. 
E , mesmo depois de ler esta opinião de São João Crisóstomo  __ que estabelece a questão da alma imortal nos animais para sempre, ou deveria fazê-lo assim a qualquer custo, na mente de todo cristão – nós tememos que os pobres brutos possam não se beneficiar da lição, apesar de tudo. 

Na verdade, o casuísta sutil , condenado pela sua própria boca, poderia dizer-nos , que qualquer que seja a natureza na alma do animal, ele ainda está lhe  fazendo um favor e uma meritória ação a ele mesmo, ao assassinar o pobre bruto , pois assim lhe acaba com os “gemidos pela demora feita para a sua imigração” na glória eterna. 
A escritora não é simples suficientemente para imaginar que um Museu Britânico, cheio de trabalhos contra a dieta carnívora, o teria o efeito de fazê-los renunciar ao seu bife ou ao seu ganso do Natal. 
Mas se estas linhas humildes pudessem fazer com que uns poucos leitores compreenderem o valor real das nobres palavras de Paulo e, portanto, seriamente dirigissem os seus pensamentos aos horrores da vivisecção  __ então a escritora estaria contente. 
Pois verdadeiramente, quando o mundo sentir-se convencido __ e ele não pode evitar que chegue um dia a tal convicção  __ que os animais são criaturas tão eternas quanto nós mesmos, a vivissecção e outras torturas permanentes, diariamente infligidas aos pobres brutos, após provocarem uma explosão de maldições e ameaças da sociedade em geral, forçarão os Governos a pôr um fim a estas práticas bárbaras e vergonhosas. 

H. P. Blavatsky

Publicado na compilação de textos conhecida como  Collected Writings
escritos de janeiro a março de 1886



NOTAS: Citações e referências inclusas no texto:

1 De la Ressurrection et du Miracle. E. de Mirville. 
2 De la Ressurrection et du Miracle. E. de Mirville. 
3 Compare também a diferença entre a tradução do mesmo verso na Vulgata, e em textos de Lutero e De Wette. 
4 Comentário – Apocalipse, cap. V. 137. 
5 É apenas justiça reconhecer aqui que De Mirville é o primeiro a reconhecer o erro da Igreja neste particular, e a defender a vida animal tanto quanto ele ousa fazê-lo. 
6 De Beatificatione, etc., pelo Papa Benedito XIV.

7 Na filosofia escolástica , a palavra “ forma” aplica-se ao princípio imaterial o qual informa ou anima o corpo. 
8 De Beatificatione , etc. I, IV, c. XI, Artigo 6.
 9 Citado pelo Cardeal Ventura em sua Philosophie Chretienne, Vol. 11, p. 386. Ver também De Mirville, Réssurrections animales. 
10 Summa – Drioux edição em 8 vols. 
11 São Patrício, é proclamado, cristianizou “ o país mais satânico do globo – Irlanda, ignorante em tudo, exceto magia “ – para a “ Ilha dos Santos “ , ao ressuscitar “sessenta homens mortos anos antes. ” Suscitavit sexaginta mortuos ( Lectio I.ii , do Breviário Romano , 1520). Na M.S. tida como sendo a famosa confissão daquele santo , preservada na Catedral de Salisbury ( Descript. Hibern. I II, C.1), São Patrício escreve na sua carta autografada :” Para mim ao último dos homens, e ao maior pecador, Deus deu entretanto,contra as práticas mágicas deste povo bárbaro, o dom dos milagres, tal qual não havia sido dado ao maior de nossos apóstolos, visto que ele ( Deus) permitiu que entre outras coisas ( tais como a ressurreição de animais e criaturas rastejantes) eu devesse ressuscitar corpos mortos reduzidos a cinzas há muitos anos.” Na verdade, depois de tal prodígio, a ressurreição de Lázaro parece apenas um incidente insignificante. 
12 Mais recentemente, Dr. Romanes e Dr. Butler lançaram maior luz sobre o assunto. 
13 Biographie Universelle, art. por Cuvier sobre a vida de Buffon. 
14 Discours sur la nature des Animaux. 
15 Esprits, 2m. mem.cap. XII, Cosmolatrie. 
16 Ibid. 
17 Sprits – pg.158. 
18 Longevity, pp. 49 e 52 
19 Ressurrections. p. 621. 
20 Os ocultistas a chamam “ transformação” durante uma série de vidas e o final, Ressurreição nirvânica. 
21 Leibnitz. Opera philos., Etc. 
22 Ver vol. XXIX da Biblioteque des ciences, 1o. Trimestre do ano 1768. 
23 Das duas palavras gregas – nascer e renascer. 
24 Ver Vol. II Palingeneses. E, ainda,  as Resurrections de De Mirville. 
25 Nós também acreditamos em “ futuros estados “ para o animal do mais alto ao baixo para a infusoria – mas em uma série de renascimentos, cada uma e mais alta forma , acima para o homem e então além – em resumo, nós acreditamos em evolução no sentido mais completo da palavra. 
26 Ver Isis , Vol. I. 
27 O que foi realmente significado em “ filhos de Deus” em antiguidade é agora totalmente demonstrado na DOUTRINA SECRETA na sua Parte I ( no Período Arcaico) 
28 Esta é a visão ortodoxa Hindu bem como a visão esotérica. 
Na sua palestra de Bangalore “ O que é a Religião Hindu?”, Dewan Bahadoor raghunath Rao , de Madras, disse :
 “ Ao 19 fim de cada Manvântara , a aniquilação dos mundos acontece; mas o guerreiro, sete Rishis, e as sementes são salvas da destruição. Para eles , Deus ( ou Bhrama ) comunica as Leis Regulamentares ou os Vedas… logo que o Manvântara começa estas leis são promulgadas … e tornam-se ligadas até o final daquele Manvântara. 
Estas oito pessoas são chamadas Sishtas, ou os remanescentes, porque elas sozinhas permanecem depois da destruição de Todas as outras. Seus atos e preceitos são portanto, designados “ Sishtacar” . São também designadas “ Sadachar”porque tais atos e preceitos são os únicos que sempre existiram.”
Esta é a versão ortodoxa. O um secreto fala dos sete Iniciados tendo atingido a condição de Dhyanchohan ao final da sétima raça nesta terra, os quais são deixados na terra durante sua “Obscuramento “ com a semente de cada mineral, planta e animal que não teve tempo de evoluir para homem para a Ronda seguinte ou período mundial. 
Ver Budismo Esotérico, por A. P. Sinnet, 5a. Edição, anotações, pp146,147. 
29 … ingemiscit et parturit usque adhuc na tradução Latina original. 
30 Cornelius, edit. Pelagaud, I. IX , pg 114. 
31 Homilia XIV . Sobre a Epístola aos Romanos. 


Fonte: (em inglês)
http://www.blavatsky.net/arts/HaveAnimalsSouls.htm 




* Hipatia ( 370-415 dC) – filha de Theron, era uma cientista, astrônoma, matemática, líder da escola de filosofia neo-platônica e diretora da Biblioteca de Alexandria. Cirilo, o arcebispo de Alexandria , a odiava por ela ser um símbolo da ciência e da cultura que, paar a Igreja, representavam o paganismo. Ela continuou o seu trabalho apesar das ameaças até que, no ano de 415, foi cercada pelos monges e paroquianos de Cirilo, despida e esfolada até a morte com cacos de cerâmica. Seus restos foram queimados, suas obras destruídas e Cirilo foi canonizado. A morte de Hipatia e a destruição da Biblioteca de Alexandria marcaram o início da Idade das Trevas. – Adaptação feita pelo Jornal oxigênio , de novembro de 2004, da Série “ Cosmos” , 1980. 
*autofagia – Nutrição ou sustento de um organismo à custa de sua própria substância.
*Escolasticismo ou Escolástica – Doutrinas teológico-filosóficas dominantes na Idade Média , dos sé. IX ao XVII, caracterizadas sobretudo pelo problema da relação entre a fé e a razão , problema que se resolve pelo pensamento filosófico , representado pela filosofia greco-romana, da teologia cristã.desenvolveram-se na escolástica inúmeros sistemas que se definem,do ponto de vista estritamente filosófico, pela posição adotada quanto aos problemas Universais, e dos quais se destacam os sistemas de Santo Anselmo, de São Tomás e de Guilherme de Occam. 

Os animais tem alma? - H. P. Blavatsky, de 1886 (parte I)


Os animais tem alma? 

De H. P. Blavatsky 
T
Texto integrante de Collected Writings, escritos de janeiro a março de 1886

 "Constantemente ensopada de sangue, a terra inteira é um altar imenso sobre o qual tudo o que vive tem que ser imolado – interminavelmente , incessantemente …" Comte. Joseph de Maistre 
(Soirées I.ii,35) 

Helena Blavatsky ou Madame Blavatsky, foi uma prolífica escritora, filósofa e teóloga da Rússia , responsável pela sistematização da moderna Teosofia e co-fundadora da Sociedade Teosófica. 
Nascida ena Ucrânia em 1831, morreu aos 60 anos em Londres, em 1891.
Blavatsky surgiu em um momento histórico em que a religião estava sendo rapidamente desacreditada pelo avanço da Ciência e da Tecnologia, Mulher de personalidade fortíssima e independente, a contribuição de Blavatsky foi então reafirmar o divino, mas oferecendo caminhos de diálogo com a Ciência e tentando purgar a Religião institucionalizada de seus erros seculares, combatendo o dogmatismo e a superstição de todos os credos e incentivando a pesquisa científica, o pensamento independente e a crítica da  cega através da razão. Lutou contra todas as formas de intolerância e preconceito, atacou o materialismo  e o ceticismo arrogante da ciência, e pregou a fraternidade universal. 
Tudo isto, numa época em que as mulheres não eram mais do que "utensílios domésticos", sem voz e presença no discurso acadêmico europeu.

Vamos ao texto desta intrigante e fabulosa mulher.
Que, por considerações de tamanho e forma a facilitar a leitura,  o texto será dividido e publicado em 2 postagens sucessivas neste blog.
Segue abaixo a primeira parte.

Os animais tem alma?

Muitas são as “superstições religiosas antiquadas“ do Leste das quais as nações frequentemente e ignorantemente zombam : mas de nada se ri tanto e se desafia como o grande respeito do povo oriental à vida animal. Os comedores de carne não podem concordar com os abstêmios totais de carne. Nós Europeus , somos nações de bárbaros civilizados com uns poucos milênios entre nós mesmos e nossos antepassados habitantes das cavernas que sugavam o sangue e o tutano de ossos crus. 

Assim, é apenas natural que aqueles que sustentam a vida humana tão pobremente em suas guerras freqüentes e geralmente iníquas, ignorariam inteiramente as agonias mortais da criação bruta , e diariamente sacrificariam milhões de vidas inocentes e inofensivas ; porque somos epicuristas demais para devorar bifes de tigre ou costeletas de crocodilo, mas devemos comer cordeiros tenros e faisões de plumagens douradas . 

Tudo isso é apenas como deveria ser na nossa era de canhões Krupp e viviseccionistas científicos. Nem é uma questão de grande espanto que o duro Europeu viesse a rir-se do meigo Hindu, que estremecesse ao simples pensamento de matar uma vaca , ou de que deveria recusar-se a concordar com os Budistas e Jainistas em seu respeito pela vida de cada criatura sensível __ do elefante ao mosquito. 

Mas se a ingestão de carne realmente tornou-se uma necessidade vital  __ “ a justificativa do tirano”- entre as nações ocidentais; se há o imperativo de que multidões de vítimas em cada cidade, burgo e vila do mundo civilizado necessitem ser assassinadas em templos dedicados à deidade, censurados por São Paulo e adorados pelos homens “cujo Deus é a sua barriga”: – __ se tudo isso e muito mais não pode ser evitado na nossa “ Idade do Bronze”, quem pode argumentar com a mesma desculpa quanto ao esporte? 



A pesca, o tiro e a caça, os mais fascinantes de todos os “divertimentos” da vida civilizada,  são certamente os mais objetáveis do ponto de vista da filosofia oculta, os mais pecaminosos aos olhos dos seguidores destes sistemas religiosos que são o resultado da Doutrina Esotérica: Hinduísmo e Budismo. 

É completamente sem alguma boa razão que os adeptos destas duas religiões, agora as mais antigas do mundo, consideram o mundo animal – do quadrúpede enorme até embaixo, o infinitesimal pequeno inseto – como seus “ irmãos menores” entretanto, uma idéia ridícula para um Europeu? 

Esta questão deve receber a devida consideração adiante. 
Todavia, exagerada como a noção possa parecer, é certo que poucos de nós somos capazes pintar para nós mesmos sem arrepios, as cenas que acontecem quase todas as manhãs nos matadouros inumeráveis do mundo chamado civilizado, ou mesmo daqueles aprovados diariamente durante a “ temporada de caça”. 



O primeiro raio ainda não acordou a natureza sonolenta quando de todos os pontos da bússola , miríades de hecatombes estão sendo preparadas  __ para saudar a luminária ascendente. 
Nunca o pagão Moloch ficou satisfeito com tal lamento de agonia de todas as suas vítimas como o grito de dor cheio de pena que ecoa em todos os países Cristãos como um longo hino de sofrimento através da natureza, pelo dia inteiro e por todos os dias de manhã à noite. 
Na antiga Esparta – de que cujos cidadãos austeros nenhum foi alguma vez menos sensível aos sentimentos delicados do coração humano – um menino , quando sentenciado por torturar um animal por divertimento , era morto como alguém cuja natureza era tão totalmente vil que não deveria ser permitido que vivesse. 

Mas na Europa civilizada __ rapidamente progredindo em todas as coisas, exceto nas virtudes cristãs __  o poder permanece até os dias de hoje como sinônimo para direito
A prática completamente inútil e cruel de atirar por mero esporte em bandos de pássaros e animais não é praticada com mais fervor do que na Inglaterra Protestante, onde os ensinamentos misericordiosos do Cristo dificilmente fizeram os corações humanos mais suaves do que eram nos dias de Nimrod , “poderoso caçador diante do Senhor”. 

A ética Cristã é tão convenientemente mudada em silogismos paradoxais como aquela dos “pagãos”. 
À escritora foi dito um dia por um desportista, que desde que “ nem um pardal cai no chão sem a vontade do Pai”, ele que mata por esporte  __diga-se , uma centena de pardais  __ desse modo, faz cem vezes mais a vontade do Pai! 

Uma sina miserável a das criaturas brutas, endurecida como é numa fatalidade implacável pela mão do homem. 

A alma racional do ser humano parece nascida para tornar-se o assassino da alma irracional do animal  __ no sentido completo da palavra , visto que a doutrina Cristã ensina que a alma animal morre com o seu corpo. 

Não poderia a lenda de Caim e Abel ter tido uma significação dual? 
Olhem a outra desgraça da nossa idade cultural : as casas de carnificina Científica chamadas “ salas de vivissecção”. Entre em um desses salões em Paris, veja Paul Bert, ou alguns outros destes homens __ “ os doutos açougueiros do Instituto” __ em seu trabalho hediondo. 
Eu tenho apenas que traduzir a descrição de uma testemunha , uma que estudou completamente o modus operandi * destes “executores”, um autor francês muito conhecido:

 “Vivisecção” – ele diz –“ é uma especialidade na qual tortura, economizada cientificamente por nossos acadêmicos açougueiros, é aplicada durante dias inteiros, semanas e mesmo meses às fibras e aos músculos de uma e a mesma vítima . A tortura faz uso de todo e qualquer tipo de arma, executa a sua análise ante uma audiência sem piedade, divide a tarefa toda manhã entre dez aprendizes ao mesmo tempo, dos quais um trabalha no olho, outro na perna, o terceiro no cérebro, um quarto na medula; e cujas mãos inexperientes conseguem todavia, até a noite depois de um árduo dia de trabalho, deixar despida a carcassa vivente inteira, na qual receberam ordem de dissecar, e que à noite, é cuidadosamente guardada no porão, de maneira que na manhã seguinte possa ser trabalhada de novo se apenas há um sopro de vida ou sensibilidade deixada na vítima! 

Nós sabemos que os curadores da Lei Grammont tentaram rebelar-se contra esta abominação; mas Pans mostrou-se ela mesma , mais rebelde do que Londres e Glasgow. 
E esses cavalheiros ainda ufanam-se do grande objetivo perseguido, e dos grandes segredos descobertos por eles. 
“ Horrores e mentiras”! – exclama o mesmo autor.  Em matéria de segredos – umas poucas localizações de faculdades e movimentos cerebrais previstos – nós sabemos apenas do único direito que lhes pertence por direito : é o segredo da tortura * modus operandi maneira de operar 
eternizada, ao lado da qual a terrível lei da autofagia *, os horrores da guerra, os alegres massacres do esporte, e os sofrimentos do animal sob a faca do açougueiro  __são como nada! 



Glória aos nossos homens da Ciência! 
Eles ultrapassaram todas as antigas formas de tortura; e permanecem agora e para sempre, sem nenhuma contestação possível, os reis da angústia e do desespero artificial!”2 

O pretexto usual para o açougue, o assassinato e mesmo para torturar legalmente animais – vivisecção – é um verso ou dois na Bíblia, e seu significado mal compilado, desfigurado pelo assim chamado escolasticismo* representado por Tomás de Aquino. 

Até De Merville, o ardoroso defensor dos direitos da Igreja, chama tais textos  de“ tolerâncias Bíblicas tiradas à força de Deus após o Dilúvio e baseadas na decadência de nossa força”. 
Seja como for, tais textos são amplamente contraditos por outros na mesma Bíblia. 
O comedor de carne, o esportista ou até o viviseccionista… se houver algum que acredite em criação especial e na Bíblia, geralmente cita para a sua justificativa aquele verso da Gênese , no qual Deus dá ao Adão dual…” domínio sobre os peixes, aves,gado e sobre qualquer coisa viça que se mova sobre a terra”(cap. I,v.28). 
De onde _ como o cristão entende - o  poder de vida e morte sobre todos os animais do globo. 

Com relação a isto, o Brâmane ou o Budista, de longe muito mais filósofo, poderia dizer:
 “ Nada disso. A evolução começa a moldar as futuras humanidades dentro das escalas inferiores da vida. Portanto, ao matar um animal, ou mesmo um inseto, nós impedimos o progresso de uma entidade em direção à sua meta final na natureza- o Homem”
E a isto o estudante de filosofia oculta pode dizer: “Amem”, e acrescentar que isto não só retarda a evolução daquela entidade, mas a daquela humanidade seguinte e da raça mais perfeita a vir. 

Qual dos oponentes está certo? 
Qual deles é o mais lógico? 
A resposta depende principalmente, é claro, da crença pessoal do intermediário escolhido para decidir questões. 
Se ele acredita em criação especial – assim chamada – então em resposta à pergunta básica – “ Por que deveria o homicídio ser visto como um dos mais terríveis pecados contra Deus e a criatura, e o assassinato de milhares de criaturas vivas ser considerado como um mero esporte?” 
Ele vai responder: “ Porque o homem foi criado à própria imagem de Deus e olha para cima o seu Criador e o céu – seu local de origem (os homini sublime dedit); e o olhar do animal está fixado para baixo o seu lugar de origem – a terra; 
Ou porque Deus disse “ – Deixe a terra produzir a criatura viva como a sua espécie, gado e criaturas rastejantes, a besta da terra como os da sua espécie” (Gênesis I, 24). 
De novo,” porque o homem é dotado de uma alma imortal, e o bruto mudo não tem imortalidade, nem mesmo uma sobrevivência curta após a morte.” 

Agora,  a isto, alguém com um raciocínio pouco mais sofisticado poderia dizer que se é para a Bíblia ser a nossa autoridade nessa questão delicada, não há nela a mais leve prova de que o lugar de nascimento do homem é no céu, mais do que o da última das criaturas rastejantes __ bem pelo contrário; porque nós encontramos no Gênesis que se Deus criou “ o homem” e “ abençoou-os”( cap.I, V,27-28) , então ele criou “ grandes baleias” e ”as abençoou” ( 21,22).

E mais, o “ Senhor Deus formou o homem do pó do chão ( 11. v.7)”: e “pó “ é certamente terra pulverizada. 
Salomão, rei e pregador, é mais decididamente uma autoridade e considerado por todos os lados ter sido o mais sábio de todos os sábios Bíblicos; e ele dá expressão a uma série de verdades nos Eclesiastes (cap. III) as quais devem ter decidido na época, todas as disputas sobre este assunto.

” Os filhos dos homens … puderam ver que eles mesmos eram bestas “ (cap. V.18)… aquilo que ocorre com os filhos dos homens, acontece às bestas… um homem não tem proeminência sobre uma besta -( v.19) “ todos vão para o mesmo lugar; todos são do pó e ao pó retornarão ( v20).. “ quem conhece o espírito do homem que vai para cima, e o espírito da besta, que vai para baixo , para a terra ?"( v 21) 

Realmente, quem conhece !? 

De qualquer maneira, não é nem ciência nem “ escola divina”. 
Fosse o objetivo destas linhas pregar o vegetarianismo sob a autoridade da Bíblia ou do Veda, seria uma tarefa muito fácil. Pois, é bem verdade que Deus deu o Adão dual – o” macho e a fêmea” do capítulo do Gênese – que tem pouco a ver com o nosso ancestral dominador do capítulo II – “ domínio sobre todas as coisas vivas” , ainda que nós não achemos que o “ Senhor Deus” tenha mandado aquele ou o outro Adão devorar a criação animal ou destruí-la por esporte. 

Bem o reverso. Ao apontar para o reino vegetal e o “fruto da semente da árvore” – Deus disse muito evidentemente : “ para vós ( homens) isto será vosso alimento.” 
Era tão aguda a percepção desta verdade entre os primeiros Cristãos que durante os primeiros séculos eles nunca tocaram a carne. 
Otávio Tertuliano escreve a Minuto Felix: “ nós não temos permissão para presenciar, ou mesmo ouvir um homicídio narrado, nós Cristãos, que rejeitamos pratos em que o sangue animal possa ter sido misturado.” 

Mas a escritora não prega o vegetarianismo, simplesmente defendendo os  "direitos dos animais”, e tentando mostrar a falácia do desrespeito a tais direitos na autoridade bíblica.
Além do mais, argumentar com aqueles que argumentariam sobre as linhas de interpretações errôneas seria bem inútil. Quem rejeita a doutrina da evolução achará o seu caminho calçado com dificuldades; consequentemente, ele nunca admitirá que é muito mais consistente com fato e lógica considerar o homem físico meramente como o modelo reconhecido dos animais, e o Ego espiritual que o acusa como um princípio a meio caminho entre a alma do animal e a deidade. 



Seria vão contar-lhe que a não ser que ele aceite não apenas os versos citados para a sua justificativa, mas a Bíblia inteira à luz da filosofia esotérica, a qual reconcilia a massa total das contradições e semelhanças absurdas nela, ele jamais obterá a chave para a verdade __ porque ele não acreditará nela. 

Entretanto, a Bíblia inteira abunda em caridade para os homens e misericórdia e amor aos animais. 
O texto original Hebreu do capítulo XXIV do Levítico está cheio delas. 
Em vez dos versos 17 e 18 como traduzido na Bíblia : “ E aquele que mata uma besta o fará bem, besta por besta” no original está : “ vida por vida” ou melhor “ alma por alma”,” nephesh tachat nephesh”.3 

E se o rigor da lei não chegou a ponto de matar, como em Esparta, uma “ alma” humana por uma “ alma” animal ainda, embora tivesse substituído uma alma morta por uma viva, uma punição adicional era infligida ao culpado. 
Mas isto não é tudo. No Êxodo ( capítulo XX10 e XXIII 2 e seguintes) o descanso do dia de sábado (Sabbath) extendia-se ao gado e a qualquer outro animal: 

“ O sétimo dia é o Sabath… não farás nenhum trabalho… nem tu nem teu gado” ; e o ano sabático… “ no sétimo ano deixarás a terra descansar e ficar parada… que o teu boi e o teu asno possam descansar”

 – cujo mandamento, se isto significa algo, mostra que mesmo a criação bruta não foi excluída pelos antigos hebreus de uma participação na adoração à sua deidade, e que ela foi posta em muitas ocasiões a par com o próprio homem. 

A questão toda fica sobre a concepção errada de que “alma” (nephesh) é inteiramente distinta de “espírito"  (ruach). E ainda é claramente estabelecido que “ Deus soprou nas narinas  do homem) o sopro da vida e o homem tornou-se uma alma vivente”, nephesh, nem mais nem menos do que um animal, pois a alma de um animal é também chamada nephesh. 



É por desenvolvimento que a alma torna-se espírito, ambos sendo o mais baixo e o mais alto degrau da uma e última escada cuja base é a ALMA UNIVERSAL ou espírito. 
Esta afirmação irá espantar aqueles bons homens e mulheres que, embora possam amar muito os seus gatos e cachorros, são ainda devotados demais aos ensinamentos de suas respectivas igrejas para um dia admitir tal heresia. 
_ “ A alma irracional de um cachorro ou de um sapo são divinas e imortais como nossas próprias almas?”
 – Eles irão exclamar com certeza, mas elas são. 
Não é a humilde escritora do presente artigo que diz, mas não menos do que a autoridade para todos os bons cristãos do que o rei dos pregadores, São Paulo. Nossos oponentes, os quais tão indignamente recusam-se a ouvir os argumentos da moderna ciência esotérica talvez possam emprestar o ouvido com mais boa vontade ao que o seu próprio santo e apóstolo tem a dizer nesta questão; a interpretação verdadeira da palavra de quem, além disso, será dada: __; nem por um teósofo ou um oponente, mas por alguém que foi um cristão tão bom e pio quanto qualquer um, nomeadamente, outro santo – São João Crisóstomo.
 –Ele que explicou e comentou as Epístolas Paulinas, e que é mantido na mais alta reverência pelos divinos de ambas as Igrejas Católica e Protestante. 
Os Cristãos já devem ter descoberto que a ciência experimental não está do seu lado; eles podem estar ainda mais desagradavelmente surpresos com a descoberta de que nenhum hindu poderia suplicar mais ardentemente pela vida animal do que o fez São Paulo ao escrever aos Romanos

Os hindus realmente clamam por misericórdia para os animais mudos devido à doutrina da transmigração e por conseguinte pela semelhança do princípio ou elemento que anima a ambos, o animal e o homem. 

São Paulo vai mais longe: ele mostra na esperança de e vivendo na expectativa da mesma” libertação dos laços da corrupção” como qualquer bom cristão. 
As expressões precisas daquele grande apóstolo e filósofo podem ser citadas adiante no presente ensaio e seu verdadeiro significado ser mostrado. 
O fato de que tantos intérpretes  __ Pais da Igreja e Escolásticos __ tentaram evitar o real significado de São Paulo não é nenhuma prova contra o de seu sentido mais interno, mas bem contra a probidade dos teólogos cuja inconsistência será mostrada neste particular
Mas algumas pessoas defenderão suas proposições, embora errôneas , até o final. 
Outras, reconhecendo o seu erro anterior, oferecerão, como Cornelius a Lápide, ao pobre animal “amende honorable” *. 

Especulando sobre a parte determinada pela natureza à criação bruta no grande drama da vida,  Cornelius diz a Lápide : “ 
O objetivo de todas as criaturas é o serviço do homem. Consequentemente, juntamente com ele  seu senhor) , eles estão esperando pela sua renovação” __ cum homine renovationem suam expectant.4  

"Servir” o homem , certamente não pode significar ser torturado, morto, atingido sem nenhuma necessidade e por outro lado, mal usado, enquanto é quase desnecessário explicar a palavra “ renovação”. 

Os cristãos a entendem como a renovação dos corpos depois da segunda vinda de Jesus; e a limitam ao homem para a exclusão dos animais. 
Os estudantes da Doutrina Secreta a explicam pela renovação sucessiva e perfeição das formas na escala , o ser objetivo e subjetivo, numa longa série de transformações evolucionárias do animal ao homem, e em direção ao alto . *[ amende honorable – do francês, confissão de culpa
]
É claro, isto será rejeitado pelos cristãos com indignação. 

Nos dirão que não foi assim que a Bíblia lhes foi explicada, nem poderia ter este significado. 
Muitas e tristes foram as interpretações erradas daquela que as pessoas têm o prazer de chamar de a   "Palavra de Deus”. 

A frase “ amaldiçoada seja Canaan; um servo entre os servos ela será para os seus irmãos”( Gen. IX,25) gerou séculos de miséria e aflição imerecida para os infelizes escravos – os negros. 

O clero dos Estados Unidos, seus inimigos mais amargos na questão anti-escravidão,`a qual se opuseram de Bíblia na mão. Entretanto, a escravidão provou ter sido a decaída natural de muitas nações; e, mesmo a orgulhosa Roma, caiu porque “ a maioria do velho mundo era de escravos”, como Geyer justamente comenta. 
Mas tão terrivelmente imbuídos em todos os tempos, os cristãos mais intelectuais foram tão melhores nas interpretações errôneas da Bíblia que mesmo um de seus melhores poetas, ao defender o direito do homem à liberdade, não atribui tal porção aos pobres animais:

 "Deus nos deu
 somente sobre as bestas, peixes e aves, 
domínio absoluto;   direito este que mantemos pela sua doação; mas o homem sobre o homem Ele não fez senhor: tal título para si 
reservando, o humano deixando livre do humano". (Milton)

Mas, tal como com o assassinato, o direito suprimido erradamente e a incongruência ocorrem inevitavelmente sempre que conclusões erradas são afirmadas, seja contra ou a favor de uma questão pré-julgada. 



Os oponentes do filosofismo oferecem a seus críticos uma arma formidável para aborrecer seus argumentos mais habilidosos por tal incongruência entre premissas e conclusões, fatos postulados e deduções feitas. 

É o propósito do presente ensaio lançar um raio de luz sobre este assunto, dos mais sérios e interessantes. Muitos escritores católicos, em apoio à genuinidade das muitas ressurreições animais produzidas por seus santos, fizeram disto assunto de debates intermináveis. 

A “alma nos animais” é, na opinião de Bossuet, “a mais difícil e a mais importante de todas as questões filosóficas”. 

Confrontada  a doutrina da Igreja segundo a qual animais, embora não sem alma, não têm uma alma permanente ou imortal neles __ e que o princípio que os anima morre com a morte __ torna-se interessante entender como os eruditos e os divinos da Igreja reconciliam esta afirmação com aquela outra afirmação de que os animais possam ser e tenham sido ressuscitados miraculosamente. 

Embora apenas uma pequena tentativa __ uma mais elaborada poderia requerer volumes  __ o presente ensaio, ao mostrar a inconsistência das interpretações dos escolásticos e teólogos da Bíblia, almeja convencer as pessoas do grande crime de tirar  __ especialmente no “esporte” e na vivisecção __ a vida animal. 
Seu objetivo, a qualquer preço, é mostrar que embora seja seja absurda a noção de que tanto o homem como o animal possam ser ressuscitados após o princípio da vida ter deixado o corpo para sempre, tais ressurreições __ se verdadeiras __ não poderiam ser mais impossíveis no caso de um bruto mudo do que de um homem; pois ambos foram dotados pela natureza do que é tão fracamente chamado por nós de “ "alma”, ou nenhum deles é dessa forma dotado. II 

“Que quimera é o homem! Que caos confuso, que matéria de contradição! Um pretenso juiz de todas as coisas, e ainda um frágil verme na terra! O grande depositário e guardião da verdade, e ainda acrescenta um mero amontoado de incertezas ! a glória e o escândalo do universo!” (Pascal)

Nós agora prosseguiremos analisando quais são as visões da Igreja cristã quanto à natureza da alma no animal , para examinar como ela reconcilia a discrepância entre a ressurreição do animal morto e a afirmação de que a sua alma morre com ele, assim como comentaremos alguns milagres em conexão com os animais. 

Continua na postagem seguinte a esta neste mesmo blog.