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domingo, 13 de setembro de 2020

OS MALDITOS DA CAUSA ANIMAL

 

Conhecemos bem o conceito de "exploração animal", já bem desenvolvido neste blog anteriormente. Trata-se da exploração dos animais pelo homem com vistas a seus próprios objetivos, seja na pecuária, seja no que chamam de "entretenimento" __ rodeios, vaquejadas, circos e zoológicos, bem como aquários ditos "turísticos __, seja na falsa ciência, pelos injustificáveis métodos de vivissecção e experimentação animal. Seja, ainda, nas chamadas "fábricas de filhotes".

Aqueles que assim o fazem podem facilmente ser identificados como os seres abjetos que são, destituídos de alma, princípios e ética. A estes chamo de exploradores de animais.

Mas há toda uma gama de seres ainda mais desprezíveis, menos facilmente identificáveis, a quem chamarei de "exploradores da exploração animal".

Explico: a causa tão difícil da conquista dos direitos animais está invadida por criaturas que, sem o mínimo de caráter ou ética, aproveitam-se da crescente conscientização pública da miséria, indigência e sofrimento extremos a que os animais estão sujeitos, para benefício próprio, ilegítimo e mascarado aos olhos da maioria de boa fé.

Em primeiro __ e mais óbvio__ lugar estão aqueles que se valem da compaixão das pessoas para com o sofrimento animal para arrancar-lhes dinheiro, sob falsos pretextos.

O pretendido benefício jamais alcança os animais. O número de falsos "santuários", imundos e incapazes de oferecer dignidade mínima aos animais que dizem abrigar de maus tratos, disparou nos últimos tempos. Minha recomendação pessoal é de que os visitem sem aviso prévio ou dia e hora agendados.

Vale o mesmo para abrigos de cães e gatos. São uma fonte fácil de renda para muitos impostores que, na realidade, não estão preocupados com os animais que dizem estar "sob os seus cuidados", com o financiamento de pessoas de boa fé. Uma fonte fácil de renda para muitos indivíduos sem caráter algum. Informe-se direta e pessoalmente ao fazer sua doação.

Menciono ainda os "pseudo resgates" e as despesas com o custeio do tratamento de animais. Nem sempre as coisas são o que parece. Desconfie. Cheque bem quem é a pessoa. Sua doação precisa chegar aos animais realmente necessitados. 

Em segundo lugar: a INFILTRAÇÃO da causa animal por indivíduos quem tem OUTRAS motivações que não a causa em si, distintas do lucro imediato.

São os mais perigosos. E normalmente associados a uma agenda política partidária, sua real motivação __ sua motivação primária, eu diria __ para a abordagem dos incautos. São mais facilmente identificados nos meses que antecedem aos processos eleitorais no país, quando se tornam especialmente "ativos".

Costumam se apresentar como veganos e vegetarianos __ será que o são, de fato? __ e, uma vez eleitos, "esquecem-se" por completo da causa animal que os elegeu. É neste momento que é mais fácil identificá-los pelo que são.

(Bom lembrar que muitas "agências de notícia" também se enquadram neste perfil).

Um exemplo recente: o povo paulistano elegeu, por ocasião das últimas eleições para deputado estadual, um falso representante da causa animal. Este "esqueceu-se" de informar a seus eleitores que o PL 588/2018 __ que autoriza a caça de animais considerados "exóticos" no Estado __ estava para entrar na pauta de votação da Alerj. RESULTADO: fomos inteiramente pegos de surpresa com a aprovação do PL e estamos, agora tendo que lutar incansavelmente para conseguir o veto do governador ao projeto de lei.

O especismo __ noção deturpada de que alguns animais "merecem mais" do que outros de outras espécies __ está a pleno vapor.

Também não nos esqueçamos de os cães explorados na caça muitas vez são gravemente feridos ou mortos. E depois frequentemente "descartados".



Terceiro: finalizo com o que aconteceu com o PL "Animal Não é Coisa" e o PL agora aprovado no Congresso sobre penas para perpetradores de crueldade animal.

O primeiro deles, "Animal Não é Coisa" __ que nome lindo, não? __ é na realidade uma aberração, um atentado praticado contra os direitos animais no país. Poucos se deram conta disso.

Nossas parcas leis já existentes, embora insuficientes e necessitando de expressiva melhoria, abrangem todas as espécies animais. A proteção por elas oferecida é insuficiente mas existe. Com a deturpação do texto original pela inserção de uma emenda nada inocente de autoria do Senador Randolph Rodrigues, se aprovado este PL RETIRARÁ a PROTEÇÃO legal hoje existente os animais explorados na pecuária, no que chamam de "entretenimento" e na experimentação animal. Além de abrir as portas para atividades criminosas como rinhas de galo, p.ex.

Maior retrocesso é impossível!

Assine o protesto contra este retrocesso: www.somostodosanimais.org.br 



Comento também o PL agora aprovado no Congresso nacional e que aguarda sanção presidencial, que prevê o aumento de penas para criminosos que praticam atos de crueldade contra os animais.

Mais uma vez estamos sendo enganados.

Primeiro, porque as penas previstas não resultarão em cadeia para o criminosos. Basta ler o Código Penal. Para tal, as penas teriam que ser superiores a 8 anos.

Segundo, porque o alegado aumento de pena refere-se exclusivamente a crimes praticados contra cães e gatos. Os demais animais foram excluídos da legislação. Os senadores assim fizeram questão ...

Em suma: fica assim instalado o especismo como "norma da lei", a noção de que alguns animais "valem mais" do que outros.

Está muito enganado quem acha que esta lei é "um avanço", argumentando que "é o início" de algo que construiremos mais a frente.

Cada vez que uma legislação especista é firmada, mais difícil fica a luta pelos direitos das demais espécies, que foram automaticamente excluídos dos pequenos avanços obtidos. Engessa-se uma posição que desenergiza a luta abolicionista que inclui a todos os animais. (Digo isso também com relação à experimentação animal)

A sociedade, mal informada, inocente e enganada, comemora um retrocesso como se tivéssemos alcançado alguma vitória... Queiramos ou não, acabamos por legitimar a exploração e a crueldade praticada contra outras formas de vidas, para que gatos e cães sejam supostamente beneficiados.

Isso é o mais sórdido bem estarismo.

A luta abolicionista precisa continuar com toda intensidade e de olhos bem abertos.

Impostores no caminho é que não faltam.


Norah André






domingo, 30 de dezembro de 2012

Mensagem de Fim de Ano - Uma avaliação do movimento pelos direitos dos animais.

Mensagem de Fim de Ano - 
Uma avaliação do movimento pelos direitos dos animais. 

Norah André

Ontem foi deixado um comentário na página do Cadeia  que evidencia uma situação muito triste. 
Sem me referir a quem o fez __ até porque não interessa __ evidenciava o quanto as mulheres continuam sendo tratadas como mercadoria "com prazo de validade". 



Não acredita na imagem acima?
Entre no site: European Graduate School - Thomas Aquinas Quotes
Vamos adiante um pouquinho. 
Continuamos a viver numa sociedade racista, não dá para negar. 
Continuamos a viver numa sociedade homofóbica, não dá para negar. 
Se o próprio Papa trocava aperto de mãos com uma genocida africana na semana passada, que prega a pena de morte para homossexuais em Uganda, este fato se torna definitivamente incontestável. 

Que "linda" mensagem de "amor" este senhor transmitiu... http://www.ilfattoquotidiano.it/2012/12/14/papa-benedice-promotrice-legge-che-prevede-pena-di-morte-per-gay-in-uganda/446392/
Igualmente há poucos dias a polícia do Vaticano agrediu fisicamente manifestantes pelos direitos dos gays ...  
http://www.jornalacidade.com.br/editorias/brasil-e-mundo/2012/12/21/religiao-vaticano-papa-critica-casamento-gay-e-fala-em-alianca-de-religioes.html
http://www.record.xl.pt/fora_campo/interior.aspx?content_id=794262

A política persecutória dos homossexuais, bem como o descaso com os direitos das mulheres tem sido objeto de extensas considerações na imprensa mundial. Veja, por exemplo, a matéria recém publicada no The Guardian UK:
The disgrace of papal blessing for Ugandan homophobia

Na verdade, tenho cá as minhas questões pessoais com relação a isto, uma vez que não me 

julgo uma "costela" dos homens, nem aprecio uma visão de mundo que deprecia as mulheres 

como satânicas, a menos que sejam virgens.

Tudo isto sem mencionar a revelação de Bryan Christy da participação do Vaticano no tráfico internacional de marfim, que ganhou as páginas da National Geographic ... 

http://ngm.nationalgeographic.com/2012/10/ivory/christy-text

Continuemos. 
Isto para mim só evidencia a extrema dificuldade da sociedade em aceitar o que julga ser "diferente" dela mesma ... 
Considere, por exemplo, a nova edição __ entre tantas ao longo da história __ das Cruzadas, em que o ocidente e o oriente travam embates "em nome da fé" .... 
Mais uma vez as disparidades do Cristianismo __ não de Jesus, o que é inteiramente independente e avesso à doutrinação do catolicismo __ e do Islamismo __ que também reverencia Jesus __, usadas para exercer o controle da mente social coletiva, servindo ainda como "incentivo" à indústria da guerra e à lucrativa fabricação de armas. 

http://usahitman.com/vbmsipb/

http://valjucapereira.blogspot.pt/2012/08/o-banco-do-vaticano-e-o-principal.html?spref=fb



Imagine então esta mesma dificuldade, quando lidamos com os  direitos dos animais e a luta anti especista. 


Mais um passo adiante: 
Cada vez mais se entende, internacionalmente, que precisamos nos juntar em defesa destas "minorias", como a sociedade de hoje prefere vender suas idéias à la TFP. 
Não são "minorias". Na verdade, os excluídos são a MAIORIA, deixados de fora das considerações dos líderes mundiais e da maioria dos formadores da opinião pública. 

Precisamos unir forças e mostrar a que viemos. 
Não se pode mais conceber a luta pelo abolicionismo animal como estando desvinculada de outros movimentos anti racismo, anti homofóbicos, anti sexistas etc. 
Ou desvinculada do que eu chamaria a causa pelos DIREITOS da NATUREZA. 




Se o movimento ABOLICIONISTA ANIMAL não se abrir para outras lutas que na verdade tem objetivos semelhantes, continuaremos a falar entre nós mesmos, ao invés de abrirmos espaço para a causa. 
PENSE BEM NISSO. 
Não é 2013 que precisa "ser diferente" ... 
Somos NÓS que precisamos MUDAR! 
Para a CAUSA AVANÇAR! 
TODOS SOMOS UM! 
E a diferença é bem vinda e uma característica da natureza! 

Namaste













terça-feira, 20 de março de 2012

Vivissecção: o lado especista da ciência

Por Colaboradores do Libertação Animal Brasília

Postado por
Libertação Animal

Texto escrito por colaboradores que estão envolvidos na organização da nossa manifestação de abril na capital federal  


Vivissecção: o lado especista da ciência

A vivissecção, entendida como a prática de se realizar intervenções em animais não humanos vivos ou recém-abatidos com propósitos científicos, costuma englobar uma série de procedimentos que consistem em provocar danos ao corpo desses seres, tais como queimaduras, congelamentos, cirurgias não-terapêuticas, indução de doenças ou danos intencionais em seres sadios, além de experiências psicológicas, teste com drogas etc.

O argumento utilizado por uma parcela considerável de pessoas interessadas em justificar esta prática, não apenas no meio acadêmico, mas também nas pesquisas biométicas, nos testes de produtos de limpeza e em cosméticos, é de que existe a necessidade de se confirmar as possíveis reações e os impactos que certos produtos de uso humano podem causar na saúde dos seres humanos.

Estimativas oficiais indicam que entre 17 e 70 milhões de animais são usados em experimentações somente nos EUA, que detêm em seu território um dos maiores “produtores” de animais para laboratórios: Charles River Breeding Laboratories (CRBL), em Massachusetts, de propriedade da Bausch & Lomb, donos de mais 40% desse mercado. No Brasil não é muito diferente. Os dados não são precisos, porém, estima-se que são milhares, número que possivelmente aumentará independente do quão avancem as leis que rogam por um tratamento “humanizado” visando a diminuição da dor causada pelos procedimentos adotados. Animais continuam sendo mortos como alternativa mais barata para testes, cujos resultados finais não são confiáveis.

Nas últimas décadas, o movimento de defesa dos direitos animais passou a mostrar e denunciar o que muitas pessoas sequer imaginavam que ocorria nos laboratórios de pesquisa e nas salas de aula. Em nome do ensino e do dito “progresso” das técnicas institucionais cientificas, da qualidade de vida baseada em novos e milagrosos produtos farmacêuticos, da estética visual e do movediço campo de combate e cura de doenças, o sofrimento imposto a bilhões de animais não humanos, antes ignorado pela maioria das pessoas, passou a chocar – e muito, quem quer que tomasse conhecimento do que ocorre dentro dos laboratórios. 

Diante dessas denúncias, muitas vezes incômodas e fortemente criticadas em razão da exposição a que universidades e laboratórios são submetidos, a sociedade também se viu motivada a entrar no debate sobre vivisseção e experimentação em animais. Não apenas opinando, mas também pressionando e cobrando a substituição dessas práticas. Este esforço não tem sido em vão e, juntamente com uma parcela de cientistas e acadêmicos que também se utilizam de sólidos argumentos que desmontam este já ultrapassado modelo de pesquisa, estão conseguindo promover importantes e consideráveis mudanças no campo científico. 

Neste sentido, várias conquistas podem ser citadas ou encontradas mediante pesquisas em ferramentas de busca disponíveis na internet. Como exemplo, é possível mencionar o anúncio feito em 2010 pelo Comitê de Médicos pela Medicina Responsável (PCRM, na sigla em inglês) sobre o fim do uso de animais nos testes laboratoriais das universidades do Canadá . As faculdades de medicina daquele país agora utilizam métodos alternativos, tais como simuladores humanos, em seus laboratórios. Também em Israel, El Al (principal linha aérea israelenses) assumiu publicamente que se recusa a transportar primatas para serem usados em experiências. Além disso, lá, a vivissecção é proibida em todas as instituições federais de ensino.



 Nós também temos um papel importante nesta luta pelo fim do sofrimento animal. Como indivíduos críticos de nosso próprio consumo, somos capazes de renegar esse tipo de lógica de produção pelo boicote direto e uso de produtos alternativos, ao mesmo tempo que pressionamos as devidas autoridades (legais e corporativas) para que abandonem essa metodologia visando uma ética diferenciada que exclua o uso de animais nesses procedimentos. Do contrário, como consumidores desinformados, estaremos subordinados a sempre recompensar esse ciclo de dor em cada produto que compramos e trazemos para nosso cotidiano.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Temos este direito?

A fronteira tênue entre ciência e crueldade na rotina dos laboratórios esquenta no mundo todo o debate sobre a vivissecção


Escrito por Rodrigo Vergara
Publicado na Revista Super Interessante em junho de 2011

Os alunos que ingressaram este ano no curso de medicina da Universidade de São Paulo (USP) verão menos sangue que seus veteranos durante a estada na faculdade. Pela primeira vez, a universidade vai abolir o sacrifício de cães em aulas sobre “o efeito de drogas na função cardiorrespiratória”. Nessa disciplina, os estudantes testemunham os efeitos de várias substâncias sobre os batimentos cardíacos e a freqüência respiratória. Agora, em vez de verem essas reações no tórax aberto de um animal anestesiado, que depois será morto, os alunos aprenderão com uma simulação em computador. Mudança semelhante ocorreu há um ano nas aulas de técnica cirúrgica na USP. Em vez de treinar sutura em coelhos, que depois eram sacrificados, os alunos passaram a “costurar” cães e gatos mortos naturalmente. As duas mudanças, ao que tudo indica, são definitivas.

Elas fazem parte de um movimento mundial de combate ao uso de animais em laboratórios, não só no ensino, mas também na pesquisa biomédica e para testar artigos de limpeza e cosméticos.

As mudanças são incontáveis e quase diárias mundo afora: de fabricantes de cosméticos que anunciam que não vão mais testar seus produtos em coelhos a governos que aprovam leis mais restritivas aos testes. No final do ano passado, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países desenvolvidos, anunciou sua intenção de abolir o DL50, um teste de toxicidade em que 20 ratos recebem doses crescentes da substância testada até dez deles morrerem. A decisão significa que produtos testados com o DL50 serão barrados nesses países. Em tempo: as alternativas para o DL50 usam, no máximo, nove animais. Ou seja: o sacrifício animal diminui, mas continua existindo.

Segundo Alan Goldberg, diretor do Centro de Alternativas para Testes em Animais da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, tido como uma autoridade no assunto, “desde 1976 o uso de animais usados em pesquisa biomédica caiu 15% no mundo todo”. Ainda assim, estima-se que a ciência sacrifique 40 milhões de animais no mundo por ano.

Para muita gente, no entanto, a redução está longe de resolver a questão. O problema é: podemos utilizar os animais para pesquisa? Os grupos de proteção dos direitos dos animais vêem na pesquisa com cobaias, conhecida como vivissecção – que significa “cortar vivo” –, dois enormes calcanhares-de-aquiles: o primeiro é que os testes seriam inúteis. Depois, mesmo que eles fossem úteis ou, mais que isso, vitais, ainda assim não teríamos o direito de fazê-los.

O principal argumento antivivissecção, que prega sua absoluta inutilidade, está expresso nas palavras do médico inglês Robert Sharpe, autor de Science on Trial (Ciência em julgamento, inédito no Brasil): “Homens e animais têm organismos e reações bioquímicas diferentes. Se um estudo com hamsters achar a cura do câncer, ela servirá só para curar o câncer em hamsters”. O efeito carcinogênico do cigarro é um caso clássico. Embora amplamente atestada por estudos epidemiológicos, a ligação entre câncer e tabaco seguiu sob suspeita por vários anos porque a doença não pôde ser reproduzida em animais. Por muito tempo, a indústria tabagista aproveitou o fato para negar o teor tóxico do seu produto.

“O uso de animais em laboratório é um recurso retórico. Usando diferentes espécies em projetos diferentes, os pesquisadores podem encontrar evidências que sustentam qualquer teoria”, diz Neal Barnard, presidente do Comitê Médico por uma Medicina Responsável, dos Estados Unidos. “No caso do cigarro, tanto as provas de que o tabaco é cancerígeno quanto as que asseguram sua inocência usaram animais como base.”

A crítica à suposta inutilidade dos testes em animais se estende às pesquisas de novas drogas. Apesar do enorme número de cobaias sacrificadas para testar a eficácia e os efeitos colaterais de novas substâncias, 95% dos fármacos aprovados em animais acabam descartados nos testes em voluntários humanos e não chegam ao mercado. Uma revisão realizada pelo governo americano nas drogas lançadas entre 1976 e 1985 revelou que 51,5% delas ofereciam riscos não previstos nos testes.

Vale também o raciocínio inverso: ao testar substâncias em animais, os cientistas poderiam descartar drogas promissoras para humanos só porque elas causaram mal a ratos ou porcos. A aspirina, por exemplo, causa deformidades nas crias de roedores, cães, gatos e macacos, embora para nós seja segura. Já a penicilina é fatal para o porquinho-da-índia.

A tese que valida a vivissecção surgiu no século XIX, quando o médico francês Claude Bernard começou a teorizar sobre a lógica científica do uso de cobaias. Ele defendia que todo conhecimento obtido em animais era válido para humanos. Hoje, poucos cientistas, mesmo os que se utilizam de vivissecção, sustentariam sua tese nua e crua. Mas a maioria crê que as diferenças entre humanos e não-humanos são superáveis. “Animais e homens são mais semelhantes que diferentes”, diz Marco Aurélio Amorim, coordenador da comissão de ética no uso de animais em laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Maria Helena Catelli de Carvalho, professora do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, concorda: “O projeto genoma mostrou que somos muito parecidos com ratos e camundongos”. E Alan Goldberg, do Johns Hopkins, completa: “Diferimos nos detalhes, mas somos parecidos o suficiente com animais para permitir paralelos.

Tomemos o caso da insulina, responsável por controlar o nível de açúcar no sangue. Ela cumpre essa função em várias espécies, além do homem”. Goldberg continua: “Em um animal, a insulina pode ser levemente diferente da insulina humana, mas é a mesma substância e tem as mesmas propriedades”.

O segundo round dessa disputa, ainda sobre a utilidade da vivissecção, diz respeito às conquistas da pesquisa biomédica, como vacinas e antibióticos. De acordo com a organização americana Fundação para a Pesquisa Médica, a evolução da expectativa de vida, que saltou de 47 anos, em 1900, para 75 anos, em 1985, nos Estados Unidos, deve-se a pesquisas com animais. Ou seja, os milhões de animais sacrificados salvaram milhões de vidas humanas. “O médico inglês William Harvey não teria feito suas famosas descobertas sobre a circulação do sangue em 1628 se não fosse por suas experiências com cervos ”, escreve Deborah Rudacille em seu livro The Scalpel and the Butterfly (O bisturi e a borboleta, inédito no Brasil), sobre a história da vivissecção. E novas descobertas ocorrem a cada dia. Em Boston, vítimas de derrame recuperaram-se graças a injeções de células de feto de porco.

Os antivivisseccionistas acham esses resultados insuficientes para justificar o sacrifício de milhões de animais. Primeiro, eles duvidam do papel de vacinas, antibióticos e hipertensivos na evolução da saúde humana. Além disso, sustentam que a medicina tem muito menos bala na agulha para combater as doenças do que seus propagandistas querem fazer crer. Ou seja: os benefícios humanos, se existem, não compensam os custos animais.

Estudos realizados na Europa e nos Estados Unidos indicam que 90% dos fatores que determinariam a longevidade de uma pessoa devem-se ao estilo de vida, ao meio ambiente e à hereditariedade. Só 10% dependeriam da assistência médica (leia mais sobre isso em “A medicina doente”, capa da edição de maio da SUPER). Mas órgãos do governo americano que financiam pesquisas gastam em estudos com animais – ou seja, voltadas para o modelo biomédico – o dobro do que despendem em pesquisas em humanos.

Nessa guerra de argumentos, os antivivisseccionistas marcaram pontos importantes. Com publicidade agressiva, divulgaram imagens dos bichos estripados e atingiram a comunidade científica. Pesquisa realizada nos Estados Unidos por Scott Plous, da Wesleyan University, Connecticut, revelou que psicólogos graduados nos anos 90 têm metade da disposição em apoiar pesquisa com animais do que os titulados nos anos 70. Empresas com nomes associados à crueldade aboliram o teste de animais, temendo boicote dos consumidores. Muitas delas, após porem fim ao uso de cobaias, aproveitaram o fato como arma de marketing e adotaram um selo em seus produtos indicando que aboliram a vivissecção.

A mudança no mundo da ciência e das empresas acabou forjando um novo modelo para testes, hoje prevalente, que reconhece o sofrimento dos animais e se propõe a substituí-los por técnicas alternativas. Mas há ressalvas. Nos casos em que o bicho for considerado imprescindível, o máximo de alinhamento ético por parte dos cientistas é reduzir ao mínimo possível o sofrimento e a quantidade de cobaias.

Na esteira do novo modelo experimental, os métodos alternativos multiplicaram-se. Há hoje desde pele artificial a simulações de computador (leia quadro com exemplos nesta página). As ONGs que defendem o direito dos animais à vida sustentam que esses métodos podem substituir rigorosamente todos os testes com bichos.

A vitória dos ativistas, curiosamente, acabou resultando em ganhos de precisão e eficácia para a ciência. A redução do estresse e a padronização das condições do cativeiro reduziram o número de mortes de cobaias. E pesquisas recentes revelaram que barulho, manuseio, higiene e superlotação nos biotérios influenciam diretamente os resultados. “As cobras do Butantã passaram a produzir sete vezes mais veneno e a viver oito anos, em vez de um, depois que a coleta de veneno passou a ser feita com as serpentes anestesiadas”, diz Roberto Sogayar, do Instituto de Biociências da Unesp, em Botucatu, e ex-presidente da Comissão de Ética e Legislação do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal.

Muitos pesquisadores discordam frontalmente. “Os testes in vitro são úteis, mas continuam pobres perto da acurácia que há nos testes em organismos vivos”, diz a professora Zuleica Bruno Fortes, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. “Além disso, certas substâncias só podem ser estudadas em um organismo vivo. Quando o animal morre, elas desaparecem. São procedimentos para os quais a vivissecção é imprescindível.” Sheila Moura, da Sociedade Fala Bicho, acredita que essa resistência esconde um dogma. “Muitos cientistas reconhecem que existem substitutos para os animais, mas ainda assim usam as cobaias por medo de que seu estudo seja questionado por não usar o método tradicional. Essa mentalidade precisa mudar.”

O segundo grande argumento antivivissecção é que não interessa se o uso de animais ajuda ou não a ciência: nós simplesmente não temos o direito de sacrificá-los. “A questão é moral. Se há um dilema em usar animais, então temos de buscar alternativas. Mas, se os usamos sob o argumento de que não há alternativas, então nunca vamos encontrá-las”, diz Rita Leal Paixão, professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal Fluminense, pesquisadora de ética aplicada e bioética da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz. Alguns exemplos corroboram suas palavras. Na Inglaterra, a proibição de usar animais para praticar microcirurgia levou à adoção de técnicas que usam placenta humana. Para o filósofo australiano Peter Singer, autor de Animal Liberation (Liberação dos animais, inédito no Brasil), um clássico sobre o assunto, há, sim, um problema ético em usar qualquer ser capaz de sentir dor.

A classificação dos seres em humanos e não-humanos, para Singer, configura “especismo”, uma discriminação que equivaleria ao racismo. “Há animais cujas vidas, por quaisquer critérios, são mais valiosos que as vidas de alguns seres humanos. Um chimpanzé ou um porco tem um grau mais alto de autoconsciência e uma maior capacidade de relações significativas do que uma criança com uma doença mental séria”, diz Singer. Ou seja: quem admite cortar um macaco em nome da ciência teria que admitir também cortar uma criança com paralisia cerebral, por exemplo. “Um dia, a experimentação animal será considerada tão absurda como hoje nos é a idéia do holocausto, da escravidão, da inquisição”, diz Sheila Moura, da Sociedade Fala Bicho. É ver para crer.