sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Os animais tem alma? - H. P. Blavatsky, de 1886 (parte I)


Os animais tem alma? 

De H. P. Blavatsky 
T
Texto integrante de Collected Writings, escritos de janeiro a março de 1886

 "Constantemente ensopada de sangue, a terra inteira é um altar imenso sobre o qual tudo o que vive tem que ser imolado – interminavelmente , incessantemente …" Comte. Joseph de Maistre 
(Soirées I.ii,35) 

Helena Blavatsky ou Madame Blavatsky, foi uma prolífica escritora, filósofa e teóloga da Rússia , responsável pela sistematização da moderna Teosofia e co-fundadora da Sociedade Teosófica. 
Nascida ena Ucrânia em 1831, morreu aos 60 anos em Londres, em 1891.
Blavatsky surgiu em um momento histórico em que a religião estava sendo rapidamente desacreditada pelo avanço da Ciência e da Tecnologia, Mulher de personalidade fortíssima e independente, a contribuição de Blavatsky foi então reafirmar o divino, mas oferecendo caminhos de diálogo com a Ciência e tentando purgar a Religião institucionalizada de seus erros seculares, combatendo o dogmatismo e a superstição de todos os credos e incentivando a pesquisa científica, o pensamento independente e a crítica da  cega através da razão. Lutou contra todas as formas de intolerância e preconceito, atacou o materialismo  e o ceticismo arrogante da ciência, e pregou a fraternidade universal. 
Tudo isto, numa época em que as mulheres não eram mais do que "utensílios domésticos", sem voz e presença no discurso acadêmico europeu.

Vamos ao texto desta intrigante e fabulosa mulher.
Que, por considerações de tamanho e forma a facilitar a leitura,  o texto será dividido e publicado em 2 postagens sucessivas neste blog.
Segue abaixo a primeira parte.

Os animais tem alma?

Muitas são as “superstições religiosas antiquadas“ do Leste das quais as nações frequentemente e ignorantemente zombam : mas de nada se ri tanto e se desafia como o grande respeito do povo oriental à vida animal. Os comedores de carne não podem concordar com os abstêmios totais de carne. Nós Europeus , somos nações de bárbaros civilizados com uns poucos milênios entre nós mesmos e nossos antepassados habitantes das cavernas que sugavam o sangue e o tutano de ossos crus. 

Assim, é apenas natural que aqueles que sustentam a vida humana tão pobremente em suas guerras freqüentes e geralmente iníquas, ignorariam inteiramente as agonias mortais da criação bruta , e diariamente sacrificariam milhões de vidas inocentes e inofensivas ; porque somos epicuristas demais para devorar bifes de tigre ou costeletas de crocodilo, mas devemos comer cordeiros tenros e faisões de plumagens douradas . 

Tudo isso é apenas como deveria ser na nossa era de canhões Krupp e viviseccionistas científicos. Nem é uma questão de grande espanto que o duro Europeu viesse a rir-se do meigo Hindu, que estremecesse ao simples pensamento de matar uma vaca , ou de que deveria recusar-se a concordar com os Budistas e Jainistas em seu respeito pela vida de cada criatura sensível __ do elefante ao mosquito. 

Mas se a ingestão de carne realmente tornou-se uma necessidade vital  __ “ a justificativa do tirano”- entre as nações ocidentais; se há o imperativo de que multidões de vítimas em cada cidade, burgo e vila do mundo civilizado necessitem ser assassinadas em templos dedicados à deidade, censurados por São Paulo e adorados pelos homens “cujo Deus é a sua barriga”: – __ se tudo isso e muito mais não pode ser evitado na nossa “ Idade do Bronze”, quem pode argumentar com a mesma desculpa quanto ao esporte? 



A pesca, o tiro e a caça, os mais fascinantes de todos os “divertimentos” da vida civilizada,  são certamente os mais objetáveis do ponto de vista da filosofia oculta, os mais pecaminosos aos olhos dos seguidores destes sistemas religiosos que são o resultado da Doutrina Esotérica: Hinduísmo e Budismo. 

É completamente sem alguma boa razão que os adeptos destas duas religiões, agora as mais antigas do mundo, consideram o mundo animal – do quadrúpede enorme até embaixo, o infinitesimal pequeno inseto – como seus “ irmãos menores” entretanto, uma idéia ridícula para um Europeu? 

Esta questão deve receber a devida consideração adiante. 
Todavia, exagerada como a noção possa parecer, é certo que poucos de nós somos capazes pintar para nós mesmos sem arrepios, as cenas que acontecem quase todas as manhãs nos matadouros inumeráveis do mundo chamado civilizado, ou mesmo daqueles aprovados diariamente durante a “ temporada de caça”. 



O primeiro raio ainda não acordou a natureza sonolenta quando de todos os pontos da bússola , miríades de hecatombes estão sendo preparadas  __ para saudar a luminária ascendente. 
Nunca o pagão Moloch ficou satisfeito com tal lamento de agonia de todas as suas vítimas como o grito de dor cheio de pena que ecoa em todos os países Cristãos como um longo hino de sofrimento através da natureza, pelo dia inteiro e por todos os dias de manhã à noite. 
Na antiga Esparta – de que cujos cidadãos austeros nenhum foi alguma vez menos sensível aos sentimentos delicados do coração humano – um menino , quando sentenciado por torturar um animal por divertimento , era morto como alguém cuja natureza era tão totalmente vil que não deveria ser permitido que vivesse. 

Mas na Europa civilizada __ rapidamente progredindo em todas as coisas, exceto nas virtudes cristãs __  o poder permanece até os dias de hoje como sinônimo para direito
A prática completamente inútil e cruel de atirar por mero esporte em bandos de pássaros e animais não é praticada com mais fervor do que na Inglaterra Protestante, onde os ensinamentos misericordiosos do Cristo dificilmente fizeram os corações humanos mais suaves do que eram nos dias de Nimrod , “poderoso caçador diante do Senhor”. 

A ética Cristã é tão convenientemente mudada em silogismos paradoxais como aquela dos “pagãos”. 
À escritora foi dito um dia por um desportista, que desde que “ nem um pardal cai no chão sem a vontade do Pai”, ele que mata por esporte  __diga-se , uma centena de pardais  __ desse modo, faz cem vezes mais a vontade do Pai! 

Uma sina miserável a das criaturas brutas, endurecida como é numa fatalidade implacável pela mão do homem. 

A alma racional do ser humano parece nascida para tornar-se o assassino da alma irracional do animal  __ no sentido completo da palavra , visto que a doutrina Cristã ensina que a alma animal morre com o seu corpo. 

Não poderia a lenda de Caim e Abel ter tido uma significação dual? 
Olhem a outra desgraça da nossa idade cultural : as casas de carnificina Científica chamadas “ salas de vivissecção”. Entre em um desses salões em Paris, veja Paul Bert, ou alguns outros destes homens __ “ os doutos açougueiros do Instituto” __ em seu trabalho hediondo. 
Eu tenho apenas que traduzir a descrição de uma testemunha , uma que estudou completamente o modus operandi * destes “executores”, um autor francês muito conhecido:

 “Vivisecção” – ele diz –“ é uma especialidade na qual tortura, economizada cientificamente por nossos acadêmicos açougueiros, é aplicada durante dias inteiros, semanas e mesmo meses às fibras e aos músculos de uma e a mesma vítima . A tortura faz uso de todo e qualquer tipo de arma, executa a sua análise ante uma audiência sem piedade, divide a tarefa toda manhã entre dez aprendizes ao mesmo tempo, dos quais um trabalha no olho, outro na perna, o terceiro no cérebro, um quarto na medula; e cujas mãos inexperientes conseguem todavia, até a noite depois de um árduo dia de trabalho, deixar despida a carcassa vivente inteira, na qual receberam ordem de dissecar, e que à noite, é cuidadosamente guardada no porão, de maneira que na manhã seguinte possa ser trabalhada de novo se apenas há um sopro de vida ou sensibilidade deixada na vítima! 

Nós sabemos que os curadores da Lei Grammont tentaram rebelar-se contra esta abominação; mas Pans mostrou-se ela mesma , mais rebelde do que Londres e Glasgow. 
E esses cavalheiros ainda ufanam-se do grande objetivo perseguido, e dos grandes segredos descobertos por eles. 
“ Horrores e mentiras”! – exclama o mesmo autor.  Em matéria de segredos – umas poucas localizações de faculdades e movimentos cerebrais previstos – nós sabemos apenas do único direito que lhes pertence por direito : é o segredo da tortura * modus operandi maneira de operar 
eternizada, ao lado da qual a terrível lei da autofagia *, os horrores da guerra, os alegres massacres do esporte, e os sofrimentos do animal sob a faca do açougueiro  __são como nada! 



Glória aos nossos homens da Ciência! 
Eles ultrapassaram todas as antigas formas de tortura; e permanecem agora e para sempre, sem nenhuma contestação possível, os reis da angústia e do desespero artificial!”2 

O pretexto usual para o açougue, o assassinato e mesmo para torturar legalmente animais – vivisecção – é um verso ou dois na Bíblia, e seu significado mal compilado, desfigurado pelo assim chamado escolasticismo* representado por Tomás de Aquino. 

Até De Merville, o ardoroso defensor dos direitos da Igreja, chama tais textos  de“ tolerâncias Bíblicas tiradas à força de Deus após o Dilúvio e baseadas na decadência de nossa força”. 
Seja como for, tais textos são amplamente contraditos por outros na mesma Bíblia. 
O comedor de carne, o esportista ou até o viviseccionista… se houver algum que acredite em criação especial e na Bíblia, geralmente cita para a sua justificativa aquele verso da Gênese , no qual Deus dá ao Adão dual…” domínio sobre os peixes, aves,gado e sobre qualquer coisa viça que se mova sobre a terra”(cap. I,v.28). 
De onde _ como o cristão entende - o  poder de vida e morte sobre todos os animais do globo. 

Com relação a isto, o Brâmane ou o Budista, de longe muito mais filósofo, poderia dizer:
 “ Nada disso. A evolução começa a moldar as futuras humanidades dentro das escalas inferiores da vida. Portanto, ao matar um animal, ou mesmo um inseto, nós impedimos o progresso de uma entidade em direção à sua meta final na natureza- o Homem”
E a isto o estudante de filosofia oculta pode dizer: “Amem”, e acrescentar que isto não só retarda a evolução daquela entidade, mas a daquela humanidade seguinte e da raça mais perfeita a vir. 

Qual dos oponentes está certo? 
Qual deles é o mais lógico? 
A resposta depende principalmente, é claro, da crença pessoal do intermediário escolhido para decidir questões. 
Se ele acredita em criação especial – assim chamada – então em resposta à pergunta básica – “ Por que deveria o homicídio ser visto como um dos mais terríveis pecados contra Deus e a criatura, e o assassinato de milhares de criaturas vivas ser considerado como um mero esporte?” 
Ele vai responder: “ Porque o homem foi criado à própria imagem de Deus e olha para cima o seu Criador e o céu – seu local de origem (os homini sublime dedit); e o olhar do animal está fixado para baixo o seu lugar de origem – a terra; 
Ou porque Deus disse “ – Deixe a terra produzir a criatura viva como a sua espécie, gado e criaturas rastejantes, a besta da terra como os da sua espécie” (Gênesis I, 24). 
De novo,” porque o homem é dotado de uma alma imortal, e o bruto mudo não tem imortalidade, nem mesmo uma sobrevivência curta após a morte.” 

Agora,  a isto, alguém com um raciocínio pouco mais sofisticado poderia dizer que se é para a Bíblia ser a nossa autoridade nessa questão delicada, não há nela a mais leve prova de que o lugar de nascimento do homem é no céu, mais do que o da última das criaturas rastejantes __ bem pelo contrário; porque nós encontramos no Gênesis que se Deus criou “ o homem” e “ abençoou-os”( cap.I, V,27-28) , então ele criou “ grandes baleias” e ”as abençoou” ( 21,22).

E mais, o “ Senhor Deus formou o homem do pó do chão ( 11. v.7)”: e “pó “ é certamente terra pulverizada. 
Salomão, rei e pregador, é mais decididamente uma autoridade e considerado por todos os lados ter sido o mais sábio de todos os sábios Bíblicos; e ele dá expressão a uma série de verdades nos Eclesiastes (cap. III) as quais devem ter decidido na época, todas as disputas sobre este assunto.

” Os filhos dos homens … puderam ver que eles mesmos eram bestas “ (cap. V.18)… aquilo que ocorre com os filhos dos homens, acontece às bestas… um homem não tem proeminência sobre uma besta -( v.19) “ todos vão para o mesmo lugar; todos são do pó e ao pó retornarão ( v20).. “ quem conhece o espírito do homem que vai para cima, e o espírito da besta, que vai para baixo , para a terra ?"( v 21) 

Realmente, quem conhece !? 

De qualquer maneira, não é nem ciência nem “ escola divina”. 
Fosse o objetivo destas linhas pregar o vegetarianismo sob a autoridade da Bíblia ou do Veda, seria uma tarefa muito fácil. Pois, é bem verdade que Deus deu o Adão dual – o” macho e a fêmea” do capítulo do Gênese – que tem pouco a ver com o nosso ancestral dominador do capítulo II – “ domínio sobre todas as coisas vivas” , ainda que nós não achemos que o “ Senhor Deus” tenha mandado aquele ou o outro Adão devorar a criação animal ou destruí-la por esporte. 

Bem o reverso. Ao apontar para o reino vegetal e o “fruto da semente da árvore” – Deus disse muito evidentemente : “ para vós ( homens) isto será vosso alimento.” 
Era tão aguda a percepção desta verdade entre os primeiros Cristãos que durante os primeiros séculos eles nunca tocaram a carne. 
Otávio Tertuliano escreve a Minuto Felix: “ nós não temos permissão para presenciar, ou mesmo ouvir um homicídio narrado, nós Cristãos, que rejeitamos pratos em que o sangue animal possa ter sido misturado.” 

Mas a escritora não prega o vegetarianismo, simplesmente defendendo os  "direitos dos animais”, e tentando mostrar a falácia do desrespeito a tais direitos na autoridade bíblica.
Além do mais, argumentar com aqueles que argumentariam sobre as linhas de interpretações errôneas seria bem inútil. Quem rejeita a doutrina da evolução achará o seu caminho calçado com dificuldades; consequentemente, ele nunca admitirá que é muito mais consistente com fato e lógica considerar o homem físico meramente como o modelo reconhecido dos animais, e o Ego espiritual que o acusa como um princípio a meio caminho entre a alma do animal e a deidade. 



Seria vão contar-lhe que a não ser que ele aceite não apenas os versos citados para a sua justificativa, mas a Bíblia inteira à luz da filosofia esotérica, a qual reconcilia a massa total das contradições e semelhanças absurdas nela, ele jamais obterá a chave para a verdade __ porque ele não acreditará nela. 

Entretanto, a Bíblia inteira abunda em caridade para os homens e misericórdia e amor aos animais. 
O texto original Hebreu do capítulo XXIV do Levítico está cheio delas. 
Em vez dos versos 17 e 18 como traduzido na Bíblia : “ E aquele que mata uma besta o fará bem, besta por besta” no original está : “ vida por vida” ou melhor “ alma por alma”,” nephesh tachat nephesh”.3 

E se o rigor da lei não chegou a ponto de matar, como em Esparta, uma “ alma” humana por uma “ alma” animal ainda, embora tivesse substituído uma alma morta por uma viva, uma punição adicional era infligida ao culpado. 
Mas isto não é tudo. No Êxodo ( capítulo XX10 e XXIII 2 e seguintes) o descanso do dia de sábado (Sabbath) extendia-se ao gado e a qualquer outro animal: 

“ O sétimo dia é o Sabath… não farás nenhum trabalho… nem tu nem teu gado” ; e o ano sabático… “ no sétimo ano deixarás a terra descansar e ficar parada… que o teu boi e o teu asno possam descansar”

 – cujo mandamento, se isto significa algo, mostra que mesmo a criação bruta não foi excluída pelos antigos hebreus de uma participação na adoração à sua deidade, e que ela foi posta em muitas ocasiões a par com o próprio homem. 

A questão toda fica sobre a concepção errada de que “alma” (nephesh) é inteiramente distinta de “espírito"  (ruach). E ainda é claramente estabelecido que “ Deus soprou nas narinas  do homem) o sopro da vida e o homem tornou-se uma alma vivente”, nephesh, nem mais nem menos do que um animal, pois a alma de um animal é também chamada nephesh. 



É por desenvolvimento que a alma torna-se espírito, ambos sendo o mais baixo e o mais alto degrau da uma e última escada cuja base é a ALMA UNIVERSAL ou espírito. 
Esta afirmação irá espantar aqueles bons homens e mulheres que, embora possam amar muito os seus gatos e cachorros, são ainda devotados demais aos ensinamentos de suas respectivas igrejas para um dia admitir tal heresia. 
_ “ A alma irracional de um cachorro ou de um sapo são divinas e imortais como nossas próprias almas?”
 – Eles irão exclamar com certeza, mas elas são. 
Não é a humilde escritora do presente artigo que diz, mas não menos do que a autoridade para todos os bons cristãos do que o rei dos pregadores, São Paulo. Nossos oponentes, os quais tão indignamente recusam-se a ouvir os argumentos da moderna ciência esotérica talvez possam emprestar o ouvido com mais boa vontade ao que o seu próprio santo e apóstolo tem a dizer nesta questão; a interpretação verdadeira da palavra de quem, além disso, será dada: __; nem por um teósofo ou um oponente, mas por alguém que foi um cristão tão bom e pio quanto qualquer um, nomeadamente, outro santo – São João Crisóstomo.
 –Ele que explicou e comentou as Epístolas Paulinas, e que é mantido na mais alta reverência pelos divinos de ambas as Igrejas Católica e Protestante. 
Os Cristãos já devem ter descoberto que a ciência experimental não está do seu lado; eles podem estar ainda mais desagradavelmente surpresos com a descoberta de que nenhum hindu poderia suplicar mais ardentemente pela vida animal do que o fez São Paulo ao escrever aos Romanos

Os hindus realmente clamam por misericórdia para os animais mudos devido à doutrina da transmigração e por conseguinte pela semelhança do princípio ou elemento que anima a ambos, o animal e o homem. 

São Paulo vai mais longe: ele mostra na esperança de e vivendo na expectativa da mesma” libertação dos laços da corrupção” como qualquer bom cristão. 
As expressões precisas daquele grande apóstolo e filósofo podem ser citadas adiante no presente ensaio e seu verdadeiro significado ser mostrado. 
O fato de que tantos intérpretes  __ Pais da Igreja e Escolásticos __ tentaram evitar o real significado de São Paulo não é nenhuma prova contra o de seu sentido mais interno, mas bem contra a probidade dos teólogos cuja inconsistência será mostrada neste particular
Mas algumas pessoas defenderão suas proposições, embora errôneas , até o final. 
Outras, reconhecendo o seu erro anterior, oferecerão, como Cornelius a Lápide, ao pobre animal “amende honorable” *. 

Especulando sobre a parte determinada pela natureza à criação bruta no grande drama da vida,  Cornelius diz a Lápide : “ 
O objetivo de todas as criaturas é o serviço do homem. Consequentemente, juntamente com ele  seu senhor) , eles estão esperando pela sua renovação” __ cum homine renovationem suam expectant.4  

"Servir” o homem , certamente não pode significar ser torturado, morto, atingido sem nenhuma necessidade e por outro lado, mal usado, enquanto é quase desnecessário explicar a palavra “ renovação”. 

Os cristãos a entendem como a renovação dos corpos depois da segunda vinda de Jesus; e a limitam ao homem para a exclusão dos animais. 
Os estudantes da Doutrina Secreta a explicam pela renovação sucessiva e perfeição das formas na escala , o ser objetivo e subjetivo, numa longa série de transformações evolucionárias do animal ao homem, e em direção ao alto . *[ amende honorable – do francês, confissão de culpa
]
É claro, isto será rejeitado pelos cristãos com indignação. 

Nos dirão que não foi assim que a Bíblia lhes foi explicada, nem poderia ter este significado. 
Muitas e tristes foram as interpretações erradas daquela que as pessoas têm o prazer de chamar de a   "Palavra de Deus”. 

A frase “ amaldiçoada seja Canaan; um servo entre os servos ela será para os seus irmãos”( Gen. IX,25) gerou séculos de miséria e aflição imerecida para os infelizes escravos – os negros. 

O clero dos Estados Unidos, seus inimigos mais amargos na questão anti-escravidão,`a qual se opuseram de Bíblia na mão. Entretanto, a escravidão provou ter sido a decaída natural de muitas nações; e, mesmo a orgulhosa Roma, caiu porque “ a maioria do velho mundo era de escravos”, como Geyer justamente comenta. 
Mas tão terrivelmente imbuídos em todos os tempos, os cristãos mais intelectuais foram tão melhores nas interpretações errôneas da Bíblia que mesmo um de seus melhores poetas, ao defender o direito do homem à liberdade, não atribui tal porção aos pobres animais:

 "Deus nos deu
 somente sobre as bestas, peixes e aves, 
domínio absoluto;   direito este que mantemos pela sua doação; mas o homem sobre o homem Ele não fez senhor: tal título para si 
reservando, o humano deixando livre do humano". (Milton)

Mas, tal como com o assassinato, o direito suprimido erradamente e a incongruência ocorrem inevitavelmente sempre que conclusões erradas são afirmadas, seja contra ou a favor de uma questão pré-julgada. 



Os oponentes do filosofismo oferecem a seus críticos uma arma formidável para aborrecer seus argumentos mais habilidosos por tal incongruência entre premissas e conclusões, fatos postulados e deduções feitas. 

É o propósito do presente ensaio lançar um raio de luz sobre este assunto, dos mais sérios e interessantes. Muitos escritores católicos, em apoio à genuinidade das muitas ressurreições animais produzidas por seus santos, fizeram disto assunto de debates intermináveis. 

A “alma nos animais” é, na opinião de Bossuet, “a mais difícil e a mais importante de todas as questões filosóficas”. 

Confrontada  a doutrina da Igreja segundo a qual animais, embora não sem alma, não têm uma alma permanente ou imortal neles __ e que o princípio que os anima morre com a morte __ torna-se interessante entender como os eruditos e os divinos da Igreja reconciliam esta afirmação com aquela outra afirmação de que os animais possam ser e tenham sido ressuscitados miraculosamente. 

Embora apenas uma pequena tentativa __ uma mais elaborada poderia requerer volumes  __ o presente ensaio, ao mostrar a inconsistência das interpretações dos escolásticos e teólogos da Bíblia, almeja convencer as pessoas do grande crime de tirar  __ especialmente no “esporte” e na vivisecção __ a vida animal. 
Seu objetivo, a qualquer preço, é mostrar que embora seja seja absurda a noção de que tanto o homem como o animal possam ser ressuscitados após o princípio da vida ter deixado o corpo para sempre, tais ressurreições __ se verdadeiras __ não poderiam ser mais impossíveis no caso de um bruto mudo do que de um homem; pois ambos foram dotados pela natureza do que é tão fracamente chamado por nós de “ "alma”, ou nenhum deles é dessa forma dotado. II 

“Que quimera é o homem! Que caos confuso, que matéria de contradição! Um pretenso juiz de todas as coisas, e ainda um frágil verme na terra! O grande depositário e guardião da verdade, e ainda acrescenta um mero amontoado de incertezas ! a glória e o escândalo do universo!” (Pascal)

Nós agora prosseguiremos analisando quais são as visões da Igreja cristã quanto à natureza da alma no animal , para examinar como ela reconcilia a discrepância entre a ressurreição do animal morto e a afirmação de que a sua alma morre com ele, assim como comentaremos alguns milagres em conexão com os animais. 

Continua na postagem seguinte a esta neste mesmo blog.


5 comentários:

  1. Norah, este texto é muito profundo e realmente você conseguiu abranger as várias fontes.
    Eu vim de uma formação intelectual da década de 70, onde Blavatsky, Gurdjieff ( bebi nesta fonte 11 anos), Krishnamurti, Zen-budismo, etc., faziam parte da nossa busca. Realmente todos trouxeram conhecimentos surpreendentes. Mas, o mais supreendente é que reforçaram que Homem e Deus não precisam de intermediários entre si. Como Christo que veio trazer esta boa nova, "somos livres". A Bíblia não nos fala de uma vida mundana ( não espiritual), mas sim de um mundo espiritual. As traduções do grego foram "adaptadas" para uma "realidade" cristã católica. No Antigo Testamento é chocante a necessidade dos sacríficios feitos com animais. Mas, se formos entender isso como tal, não compreenderemos o significado do que está sendo dito. Muito pouca gente neste mundo sabe o significado do que se paga com sangue, e os que sabem, guardam esta informação a sete chaves. Não cabe aqui esclarecer este assunto... "nephesh tachat nephesh”
    Eram OUTRA COISA. Flavio Josefo, um historiador da época de Herodes, bastante conceituado, conta em seu livro " A história dos Hebreus" a saga deste povo, e traz à luz algumas coisas relacionadas ao que está escrito na Bíblia. A coisa mais estúpida é quando uma pessoa justifica a insanidade da superioridade do Homem perante os animais na Bíblia...
    Paulo, "São" Paulo ( odeio este São, Santa...) filósofo, discípulo de Gamaliel, famoso educador de Jerusalém, mestre da lei (Torah), este sim, falou abertamente do mundo espiritual. Porque ele teve que quebrar os paradigmas nos quais ele vivia e acreditava que eram a verdade. Então... puxa ia escrever um comentário, fiquei divagando... rsss Perdoa. Estamos falando dos nossos companheiros de jornada, os animais. Mas, existe vida espiritual sem eles? O próprio texto do Eclesiástes que você mencionou, não diz que saímos do mesmo lugar que eles, e voltamos para o mesmo lugar, junto a eles? Quando os olhamos sobre esta ótica, vemos a sua alma. Não foi este o post que você colocou hoje? O que sei é que fomos ENGANADOS, fomos enganados que eles estavam a nosso serviço, deste lá trás... Mas porque será? Quanto destas informações, vindas lá detrás, não fazem parte também deste engano? Fica a pergunta. Beijo grande Norah!

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  2. Segundo a doutrina espírita, os animais são parte de uma etapa evolutiva do Espírito. Já fomos mineral, vegetal, animal (não humano),e um dia seremos ANJOS. Então, quando maltratamos um animal, estamos levantando a mão contra aquilo que um dia fomos, antes de sermos o que somos hoje.Seja como for, a COMPAIXÃO, a EMPATIA são privilégio de seres civilizados, evoluídos (pelo menos parcialmente). O assassinato em massa de animais, praticado diariamente neste Planeta, será cobrado mais cedo ou mais tarde (Karma?Justiça Divina? Lei do Retorno? Chamem como quiserem)dessa humanidade tão desumana. Acredito firmemente nisto.

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  3. Sou cristã professora em heresiologia e hermenêutica há 23 anos . Eu tenho mostrado isso no face o meu blog fala sobre isso , defesa dos animais . E uma coisa que percebo que quando posto imagens em defesa dos animais os crentes não curtem nem compartilham. Eu parei de comer carne em repudio ao abate dos animais com extrema maldade e creio que uma pessoa que se alimenta da carne de um animal que foi abatido com crueldade pode ter serias doenças. Creio que o animal tem alma a Bíblia fala disso e Deus dá uma lição linda quando diz quando você for cozinhar o carneiro não o deixe de molho no leite da mãe.

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